POESIA E OUTRAS FICÇÕES

Poesia 

______________________________

Na Demanda do Graal

2003 - Inédito

Na procura de Youkali
Que procuro eu?
Lembranças da eternidade ou
Glória de cavaleiro andante
Trago estandarte de uma
Vã glória
Mas ao mesmo tempo
Deito-me à sombra do Baobá
Na letargia do wuwei
Aguardando o nada do nada
Amanhã
Talvez a águia vermelha se
Erga sobre a montanha
Agora 
As ovelhas dormem ainda
Acordo e tenho pressa
Pressinto hoje que 
O Youkali e o Graal
Existem mesmo
A viagem pertence-me
Mas quando me levanto
De arco erguido
Volta a sibilina e triste nostalgia
No amanhecer
Saio desabrido e sem tino
Onde está a águia?
Onde está Youkali?
A águia vermelha
Voa sobre a montanha...
Talvez seja Ícaro enebriado
Com os seus sonhos narcísicos
O caminho é só 
Caminho...


Jacinto Rodrigues


Meditação de Outono

1984 - Inédito

Por detrás das nuvens chuvosas
O sol já não nos aquece...
A planta morre e fenece!


O sol foi-se lentamente
Nas terras frias e lodosas
Escondeu-se o sol no interior da semente


A planta ao morrer por fora
Vai reviver por dentro
Dormindo um sono lento
A semente germina e vive agora


Na terra fria a noite chegou
Sobre o campo triste já nevou
Na semente desperta amor
É o sol que vai ser flor


O coração é semente deste teu amor
É o sol que nos dá o calor
Partilha a ideia o amor e o pão
Faz da tua vida a nossa canção


Jacinto Rodrigues




Este pão que aqui comemos

1984 - Inédito



Neste pão que comemos
Tu puseste o teu esforço
Partilhaste o teu amor
E nós a esperança que temos


Neste pão que comemos
A água a farinha e o fogo
São paciência força e entusiasmo
É vida o pão que aqui temos


Este pão parecia nada
Simples farelo em forno cozido
Mas a vida é assim velada
Só a vê quem procura o sentido!


É simples esta refeição
Somos livres com amor e fraternidade
Damos as mãos como prova de comunhão
Raízes comuns duma mesma vontade


É este o pão que aqui temos
Mais do que simples massa cozida
É força amor e vontade unida
É este o pão que aqui comemos.


Jacinto Rodrigues




Poema de Inverno

1984 - Inédito



Morte que vens inexorável
Em cada momento que passa
A tua chegada é mais provável
Preparemos a vida 
De outra vida
Onde esta morte 
Apenas interrompeu
A vida 
onde o sonho
A morte venceu


Porém o sonho
Outra vida criou
Por isso vive e
Revive connosco
A memória
Que para sempre ficou


Jacinto Rodrigues





Entre Luz e Trevas: Abraxas

1980 - Inédito


Penumbra
Entre luz e trevas
É o caminho
Que procuramos
Dar sentido
Sentindo os perfumes 
Da itinerância Errática
O vale de Josafat
Da minha infância
Era o caminho intangível
Do Oriente que me levava
Para Ocidente
Só no deserto experimentei
No vendaval das areias
Medo e silêncio
Feito de solidão
Mas era ainda
Caminho na penumbra
Entre luz e trevas
Vislumbrei porém
Nas paisagens perdidas
Pressentimentos de lugares
Que nunca encontrei


Jacinto Rodrigues





Vozes da Kabala

1979 - Inédito

Na marcha pela savana
Na predacção sangrenta
Arrancamos à cegueira da bestialidade
Pouco a pouco
Um olhar humano...
Nasceu a Voz
Transmutou-se então o símio grotesco
Nesta criança perplexa
Que balbucia ainda de espanto
A inexplicável sinfonia das nossas vozes
Espanto do nosso espanto
Clarões duma super humanidade que há-de vir...
Nascem e morrem estrelas
Dentro e fora de nós
Somos pedaços de nuvens
Farrapos de mar
Somos sete mil biliões de sóis
Somos gotículas de um oceano infinito
Fragmentos de galáxias
À procura do mar da nossa origem
Morreram estrelas na noite infindável
Mas nascem outros tantos sóis
Num tempo sem tempo
Talvez não nasçam nem morram
São apenas sóis que despontam e se apagam
Em noites e madrugadas
Na ronda eterna das origens 
Mordemos o princípio das coisas
Num findar dum caminho sem fim
Os mares, os oceanos, as estrelas e as galáxias
São lágrimas de cósmicas realidades
São devir dum passado 
Que já foi mil vezes futuro
Somos um sonho à deriva
Projecto que se procura
Somos qualquer coisa que ainda não é
Somos sete mil biliões de sóis
Dentro e fora de nós...
Somos a cristalina lágrima de uma criança que nasceu
Somos a dor dum filho que morreu
Somos mundo de outros mundos
Eco desgarrado de outros ecos
Que ressoam, que ressoam
Dentro do nosso próprio eco.

Jacinto Rodrigues


Prometeu

1978 - Inédito

Prometeu é estar dentro estando fora
É iluminar cada acto com distância
Como quem se observa
Vivendo a vida que se vive sem teatro
Mas fazendo um espectáculo da vida
Que se revela
Na espontânea maneira de viver
Ser Prometeu é viver
Sendo o Ser de ter de ser
É viver 
A consciência da inconsciência
E a consciência da nossa própria consciência
É escolher a liberdade
Por entre os meandros da necessidade 
Submetendo as nossas próprias necessidades
À escolha da nossa liberdade
Ser Prometeu
É querer sentir pensamentos
Na vontade desejada de pensar
Pensamentos de vontade
Com sentimentos do nosso querer

Jacinto Rodrigues 


 Koan Meditativo  

Inédito, escrito após a minha viagem ao Japão em 1965

1. Constância cria sabedoria
2. Constância é aprender
3. Aprender é praticar
4. Praticar é repetir
5. Repetir é ganhar experiência
6. Experiência é crise
7. Crise é prova
8. Prova é fortalecimento
9. Fortalecimento é liberdade
10. Liberdade é criar
11. Criar é transformar
11. Transformar é caminho e fim ao mesmo tempo

Jacinto Rodrigues



Lenda das Tatuagens

in Força Nova, Luanda, 1960, págs. 18 a 20

Na longa noite
Quando o vento roçagando as folhas das molembas
Cantava melodias de ternura
Gando amou profundamente 
Batalaiana
E esse ficou sendo
O amor mais belo que os poetas cantaram!
Batalaiana...
Nem as noites de luar
Tinham a transparência daquele olhar...
Como era bela!
Nem mesmo o mel tinha a doçura dos seus lábios
Como era meiga!

Aquele amor não podia ser quimera
E como nada neste mundo
Se mantém em eterna tranquilidade
Este amor teve a escuridão duma procela...
Mas como era profundo
A tempestade desvaneceu-se
E realçou a madrugada do dia seguinte

Existia uma feiticeira
Que gerou dentro do seu peito
Um profundo ódio
À beleza de Batalaiana
Essa feiticeira perversa
Chamava-se Xitiba
Tinha o corpo de onça
E andava no mato como qualquer animal feroz!...
Um dia
Era o entardecer
Batalaiana desceu ao rio
Para que
A água límpida lhe beijasse o corpo...
As silhuetas dos imbondeiros
Recortavam o brazido do poente
Quando do meio da mata
A onça veio vindo
Veio vindo
E no momento em que Batalaiana saiu do rio
Subindo o areal
Xitiba
A onça feiticeira
Saltou-lhe ao rosto
E dilacerou-lhe as faces com as suas garras de felino
Oh como era triste
O grito de Batalaiana
Um grito triste...
Tão triste
Que só de escutar o eco daquele lamento
Gando chorou
Saiu da Sanzala
E correu em busca do seu amor
A linda Batalaiana que ficou 
Na praia do rio
A chorar a sua beleza perdida...

Já a onça tinha fugido
Quando Gando chegou
Batalaiana chorava tristemente:
- Vai-te embora que eu perdi a minha beleza
- Oh minha amada não chores
Tu serás sempre bela para mim!...

... Mas Batalaiana chorava muito
Olhando o seu rosto espelhado
Nas águas límpidas do rio
E quis ficar ali
Até que o rio enchesse
E a levasse eternamente
Eternamente...
- Oh meu único amor
Minha querida Batalaiana
Vem... vem comigo
Que eu gosto muito de ti!
Mas Batalaiana chorava ainda...

Então
Gando golpeou as suas próprias faces
- Oh minha amada
Estou como tu!
Batalaiana olhou-o ternamente
E os beijos
Foram a ternura do maior amor...

Acharam-se mais belos do que nunca!...

Foi desde esse dia
Que nasceram as tatuagens
E ficaram a ser o ornamento mais belo
Daquele povo de homens esbeltos...
E esse bom povo
... Perdoou à própria Xitiba
Diz-se que a feiticeira se arrependeu!
Por isso
Quando vem o crepúsculo
E o vermelho se afoga na negrura da noite
... A onça vem uivar tristemente!

Jacinto Rodrigues


Carta-Poema

in Força Nova, Luanda, 1960, págs. 13 e 14

Poeta de alma grande
Como a das crianças a quem eu contava histórias
Deixa-me ir contigo, meu irmão!
Deixa-me ir contigo...
Por essas madrugadas com que tu sonhas
Acalentar-me-ão os teus poemas
A tua voz e as tuas acções...

Era uma dessas tardes de neblina
Neblina gordurosa e escura como o fumo das fábricas
Os homens simples regressavam
Torturados pelo trabalho
E eu chorei o meu grito de ódio
Um ódio desesperado e impotente
Que atordoou a cidade
Como a fúria estéril de uma tempestade!
Tu
Ouviste-me chorando...
E a tua voz soou doce como os teus cânticos:
- Oh meu irmão
Que o teu ódio se converta em força
Dos nossos passos firmes...
E caminha sereno (com a Esperança inesgotável
De quem constrói)
Que a madrugada do Novo Mundo vem raiando...

...E o crepúsculo dessa tarde
Tombou docemente!

Deixa-me ir contigo
Meu irmão
Por essas madrugadas com que tu sonhas
Acalentar-me-ão os teus poemas
Que por uma destas noites
Uma força indómita
Soerguerá a minha voz!
... Do silêncio
Nascerá uma linguagem quente e fraterna
Como uma conversa longa
Dessas noites passadas!

Jacinto Rodrigues


Proto-Poema da Humanidade

in Força Nova, Luanda, 1960, págs. 15 a 17



                                «Os poetas são os legisladores não reconhecidos do mundo» - Shelley


. a arte está indissoluvelmente ligada aos anseios mais profundos do artista; por isso, a poesia é o reflexo dum pensamento filosófico. e filosofia é compreensão para uma valorização humana.
... e tudo será dito com todo o amor que albergarmos no peito!


1. 
ó canção!
eu quero que a tua melodia seja terna
como o marejar das águas de um rio...
o meu canto será simples
para além das paredes de egoísmo
para além das fronteiras de raças e línguas...
ó canção serás universal como o ventar do vento!


. a humanidade é uma longa escalagem pelo tempo. Tudo é continuação progressiva.
  o progresso é a distância do «caos» primitivo ao mundo de amanhã, esse mundo de super-homens do amor, esse mundo que será a concretização das utopias sonhadas na longa escuridão dos séculos.
  há uma ténue linha progressiva (um indelével plano finalista) na medula dos homens fortes. essa é a esperança inerente à força vital.


2.
nem as encruzilhadas da verdade
nem as limitações do que é humano
esmorecem a minha esperança
sei o que sou!
tenho as pernas enraizadas na terra
sinto a força e a beleza que a terra me dá
e sonho...
as raízes nascem no lodo
mas os plátanos florescem para o céu!


. o filho é a purificação de nós próprios. o sexo é a fonte de eternização; gerar é eternizarmo-nos. esta é a minha posteridade.


3.
ó minha amada
vi-te entre as boninas
quando o sol era quase a noite
... foste colher flores para te perfumares.
e quando te entregaste nos meus braços
amei-te do fundo, do fundo do meu ser
o teu corpo é um botão de açucenas!...
ó minha amada!...
durante essa noite
quisemos que nascesse de nós mesmos
alguém que representasse a nossa união:
um só de dois!
alguém que fosse a continuidade de duas vidas
unidas eternamente!...
e quando clareou o sol na madrugada
ainda estava abraçado a ti
ó minha amada...


. o meu mundo é este mundo. para além disso desconheço tudo. e para que procurar mais além?
  a felicidade está aqui connosco. a felicidade consiste em progredir como animal embelezando  a vida numa atitude de justiça e amor.


4.
andei pelos montes
e olhei as coisas belas da natureza
compreendi-me
e senti toda a beleza
que está e vive na natureza
e regozijei-me de ser humano!
...
olhei a grandeza dos céus
e não encontrei a resposta
se tudo era Deus
ou se tudo era o contrário de Deus
estou tranquilo!


. o universo nascerá com a extinção do sangue e do choro da guerra. o amor surgirá um dia, eu assim o creio.


5.
as fardas serão túnicas brancas
e as suas armas serão enxadas...
para que na terra estéril se gere o fruto!
ó pátria,
vem
na terra seremos um só povo:
o universo será uma só pátria!


Jacinto Rodrigues
______________________________________________________

Escrita Imaginal

A escrita imaginal articula-se a novos sistemas de pedagogia como a eco-formação, o "entraînement mental" e outras práticas de auto-desenvolvimento. Assim, autores como Gilbert Durand, Gaston Pinau, Pascal Galvani, Jacques Ardoino e René Barbier desenvolveram práticas de criatividade, formação existencial e multireferencialidade que constituem um corpo teórico. Trata-se de um trabalho que implica uma metanóia iniciática entre saber e sabedoria, entre imaginação e inspiração, entre conhecimento e intuição ligando um novo conhecer para além do paradigma racionalista analítico. Ao longo de vários anos fiz formações múltiplas em grupos de trabalho relacionados com Jung, Gurdjieff, Steiner, Albrecht, etc. Foram vários seminários que me permitiram consolidar as leituras que fiz de Bachelard, Edgar Morin, Henri Corbin, etc. Os textos da Pedagogia Iniciática resultam de exercícios feitos em seminários. Vou descrever, sucintamente, o contexto desses seminários.O primeiro seminário, dirigido por Pierre-Yves Albrecht, PhD, foi no impressionante castelo sobre o Rio Reno: Chartreuse de Pierre Chatel. Três muralhas cercam o terreno à volta da serrania que alberga um casario alcandorado numa serrania que se despenha até ao rio. Nesse Outono, a névoa pairava em todo o vale. Uma misteriosa atmosfera abatia-se em toda a zona da floresta. Do alto da Chartreuse via-se aquele mundo fantástico onde o rio fervilha em águas revoltas por entre o desfiladeiro.Outros seminários se seguiram. Uns na Gîte, perto de Saxon, na Suíça, outro na Mauritânia e outro novamente na Suíça, perto de Montblanc. Em todo o caso, estes seminários continham trabalhos sobre mitologia, actividades artísticas, canto, tiro ao arco e meditação. 

Pedagogia Iniciática



  1. Les sursauts de ma demande
Au début j’avais des consignes précises.
Le monde était petit.
Entouré d’un mur en forme de cercle.
Je connaissais les choses permises.
Je connaissais aussi les choses interdites.
Comme dans un catéchisme je trouvais les bonnes questions et aussi les bonnes réponses.

  1. Mais la brèche dans le mur m’a ouvert les yeux pour un monde infini.
C’est vrai que j’étais démuni devant le désert en face de moi.
Je voyais les dragons partout.
J’ai donné des coups de bâtons dans la gueule des bêtes qui venaient me manger.

  1. Au carrefour j’ai voulu choisir la bonne route.
J’ai hésité. J’ai hésité.
Revenir en arrière était impossible.
Il n’y avait que des ruines.
Mes parents étaient morts.
Les églises étaient des foyers de monstres.
Mes pas m’ont amené par un chemin de précipices.
Si au moins j’avais un guide !...
Mais les guides ressemblent aux gurus.
Or, le voyage m’appartient. Personne peut faire mon chemin...

Tout d’un coup je vois un oasis.
Je suis bien, mais la quête m’oblige a poursuivre le chemin.
Je me demande :
-         Pourquoi cette folie de demande ?

Toujours derrière une chimère. Pourquoi partir de l’oasis où tu as trouvé femme et enfant ?

Pourquoi chercher ailleurs quant le présent t’apporte des choses chéries ? Les devenirs lointains sont des illusions !...

  1. Dans le recueillement de la nuit, au lit où ta femme dort et ton fils rêve, tu cherches le bonheur. Toujours ailleurs !
-         C’est quoi ta demande ?
-         Le souvenir d’éternité ou la gloire du chevalier dans la vanité de la gloire ?
-         Qui veut applaudir tes victoires ?
-         Pourquoi tu cours encore ?

A L’aube, le soleil se lève doucement.
L’aigle s’envole.
C’est le mystère qui m’attire...
Les poules, les brebis s’endorment encore au poulailler...
Moi, je suis pressé.
Je dois suivre mon Aigle !

II
Je sors du village.
Merlin m’attend à la sortie du « campement » :
-         écoute mon vieux !... dis-il en me pressant l’épaule de sa main lourde.
L’aigle que tu a vu, ça peut-être Icare, un faux aigle aux illusions folles qui est tombé enivré par des rêveries narcissiques.
Prends ton temps pour t’entraîner à l’arc car la vraie demande se fait avec des bons outils.
Le travail se fait avec tes mains et ton coeur.

III
Au château de Klingsor

Klingsor était arrivé au village avec un cortège de malfaiteurs.
Il venait aussi avec des dragons qui arrachaient les arbres de la foret.
En haut de notre montagne magique il a coupé un « jacarandá » aux fleurs violettes où tous les printemps les hirondelles venaient s’abriter...
Après que le jacarandá a été coupé, les hirondelles ne sont plus revenues.
Klingsor a construit au lieu des jacarandás une tour d’Ivoire toute vide.
Pendant des années j’ai vu ajouter un château de marbre noir.
Le châteaux avait la forme d’un temple. Mais seulement la « forme » d’un temple.
J’ai vu des chameaux, des chevaux et des ânes, chargés de miroirs.
Klingsor, le mage noire avait revêtu les murs du châteaux avec ses miroirs.
Ensuite
Notre village s’est vidé.
Il n’y avait plus d’enfants dans les jardins.
Les arbres du village sont morts.
Les personnes ne parlaient plus.
Mais, dans le palais de Klingsor il y avait chaque fois plus de monde.
D’abord ceux qui connaissaient le mage noir le critiquait. Mais petit à petit les gens acceptaient de se compromettre  avec la tyrannie de Klingsor.
Il souriait, il souriait...
Les corbeaux noirs sont venus s’installer au palais.
Ils nous surveillaient avec les yeux brillants comme des phares dans la nuit.
Ils faisaient disparaître les cadavres.
Les miroirs hypnotisait les courtisans.
Et une étrange musique sortait de la tour d’Ivoire.
Mais un jour c’était à l’aube...
Les corbeaux dormaient.
Nous rentrons dans le châteaux et à grands coups de marteaux nous avons brisé tous les miroirs.
Et nous avons mis feu au maudit châteaux.
J’ai regardé pour un instant le ciel bleu.
Les corbeaux voltigeaient dans l’air. Et Klingsor s’enfuit sur un des dragons aux ailes verdâtres...
Les enfants nous on suivi. Nous avons planté beaucoup de jacarandás aux fleurs violettes porque les  hirondelles, les colombes blanches puissent revenir.

Le Kata de Minuit
Le kata me rappelle le temps de l’armé.
Un, deux, trois –
Gauche, droit –
En avant...

Le kata me fait revenir en mémoire des scènes de mon adolescence.
Les bals ou il y avait les filles...
Quand j’allais danser je ratais toujours le rythme.
Je mettais mes pieds toujours maladroitement.
La valse venait tango et le tango venait valse !

Dans le « foot » encore pire...
Tous les « mecs » rigolaient. La bal s’enfuyait entre mes bottes...

Et à la maison la même maladresse.
Ma mère me disait : « Ne touche pas à cette assiette... tu va la faire tomber... »
Elle n’avait pas encore terminé sa phrase et l’assiette tombait par terre en mille morceaux.

Le kata me fait rappeler ces milliers de cauchemars d’adolescent...
Toujours incapable de contrôler le « taureau » qui existait à l’intérieur de moi, face aux girouettes élégantes du « torero ».

Le kata c’est la précision, la patience de répéter et répéter – dit merlin.
Il continuait :
-         Le Kata exige qu’on se surpasse humblement dans les petites tâches du geste simple et juste.
-         Ne pas attendre des résultats spectaculaires mais chercher la perfection du processus.

Maintenant le Kata est ton labyrinthe.
Tu te sous-estime comme un pleurnicheur victime de ton destin.
Tu te laisse apprivoiser par ta maladresse et ainsi tu commence a te désister.

-Ariane, Ariane, vient en mon secours.
Il doit avoir un fil rouge doré, quelque part, pour bien tisser mon destin.
Un jour je tisserais mon destin.
Le soleil se lève, à peine, dans l’immensité du monde.
Le jour où je serais capable de tisser le fil rouge de mon destin, je laisserai grandir mes barbes blanches et je mettrai mon grande chapeau de jardinier...

Le poème alchimique

De la terre vient notre corps
De l’eau vient notre vie
De l’air vient le souffle de notre âme
Du feu vient l’esprit de notre parole.

Au sein des étoiles notre planète surgit
Entre la lune et le soleil
Entre l’eau et le feu
Entre la lumière et les trêves
Vie et mort embrassés dans un
Chemin de joie et larmes.

Les dires de Merlin

L’alchimiste doit être impliqué dans l’opération hermétique.
Il cherche une forme dans son intérieur de façon a se transmuter soi-même...
Ainsi, par son intime implication il agit sur la rigidité minérale d’une métamorphose.
C’est ainsi que le gris lézard devient papillon rouge.

Les 3 voyages

1ª voyage
Jeune, j’ai vécu prés de la forêt.
Le serpent vert me reliais a la cabane du chaman...
Une nuit, en pleine lune, l’aigle géant m’a transporté sur une île !
J’ai alors vécu dans un monastère ou voltigeaient encore des colombes blanches autour du clocher.
Des années se sont passés.
Le monastère est tombé en ruines.
Autour de l’église seulement le cimetière s’est agrandi.
Les corbeaux croissaient sur les sombres cyprès.

2ª voyage
Un jour un vieux pécheur m’a pris dans son bateau et m’a emmené dans un pays lointain.
J’ai ressenti la nostalgie d’un monde perdu.
Comme la blanche mouette que j’ai vu sur le sable de la plage déserte, j’ai été, sans savoir comment, retourner au ciel de son origine.

3ª voyage
Maintenant ton voyage c’est par l’intérieur.
Retourne-toi et plonge au sein de toi-même.

Evagre et le désert
Evagre décida de partir au désert à la rencontre de lui même.
Pendant le voyage du désert, c’est a dire, à l’intérieur de son âme, un démon lui parla :
-         Qu’est-ce que tu fais ici ? Tu continues toujours derrière tes moulins de vents ?
Evagre ne voulait pas tomber dans la médiocrité d’une machine pantouflarde qu’il attendait au fil du temps...
Il a trouvé un fleuve sur le chemin.
Il était maladroit. Il se cognait contre les pierres qui parsemaient les eaux révoltées du fleuve qu’il essayait de traverser.
Il ne savait pas maîtriser les gestes et se tenir a la surface de l’eau.
Le fleuve devenait de plus en plus un tourbillon de cascades.
Le vent d’une tempête hurlait autour.
Alors Evagre blessé contre les pierres se noyait dans les eaux profondes. 

(Nota: Sobre este assunto consultar também Jacinto Rodrigues, Pedagogia Para Uma Sustentabilidade, Ed. ISMAT, 2007)    
______________________________________________________________________________


...e outras ficções

1974
































































Revista Inicial, 1958












































CAPA DA REVISTA INICIAL DE 1958 (frente e verso)