Diário de Bordo da Viagem de Julho 2014
Sexta-feira - 4 de Julho
Participamos, integrados na comissão da Associação Les Amis du Padre Himalaya de Sorède, na inauguração do Parque "Agri-Solaire" em Ortaffa, perto de Sorède.
As imagens deste parque, que aqui reproduzimos, pertencem ao blogue Habitat Durable.
Nesse blogue referem-se vários dados sobre esta eco-experiência que é a maior quinta agro-solar, no Languedoc-Roussillon e que produz 35 milhões de KWh por ano.
Experiência promovida pelo presidente da câmara Raymond Pia: organização dum território ecosistémico com o funcionamento simbiótico utilizando painéis solares e permitindo ao mesmo tempo agricultura biológica com vinhas, abelhas e pastoreio de ovelhas da região.
Sábado - 5 de Julho
Festa do Sol no Mas del Ca, Sorède.
Numerosos elementos da Associação "Les Amis du Padre Himalaya de Sorède" participaram na Festa do Sol, que incluiu um convívio com "méchoui" num ambiente educativo onde não faltaram diversos protótipos solares e também triciclos e carros movidos pela energia solar.
Segunda-feira - 7 de Julho
Palestra no Salão de Festas da Câmara Municipal de Sorède:
*Lundi 7 Juillet 2014 à la SALLE des FETES de Soréde
à partir de 17h00 :« Soirée Himalaya »
« INVITATION Tout Public»
Organisée par le Conseil d’Administration et la Commission Scientifique de l’association
Invitation TOUT PUBLIC...Gratuit et Ouvert à tous,
Adhérents, non adhérents et vacanciers...
“Soirée Himalaya” : Qui était Himalaya...avec la participation de notre ami, Professeur Emérite portugais Jacinto Rodrigues de l’Université de Porto. Projection du Film de 52 mn “A Utopia Do Padre Himalaya”, sous titrage en français suivi de l’INTERVENTION du Professeur Jacinto Rodrigues
* Apéritif offert par l’association à l’issu de l’intervention et des questions – réponses en direct avec le Professeur Jacinto Rodigues.
________________________________________________________
Michel Valentin
13 de Maio de 2012
Foi com imenso pesar que tivemos conhecimento da morte do nosso amigo e impulsionador do projeto de Les Amanins, Michel Valentin.
Ontem mesmo enviamos um e.mail manifestando o nosso pesar e recordando os momentos que tivemos a oportunidade de partilhar com o Michel e com alguns dos amigos deste extraordinário projeto:
"Chers Amis
C’est avec la plus grande tristesse que nous avons reçu la notice de la mort de Michel Valentin.
Nous sommes consternés pour cet événement.
Nous avons été ensemble plusieurs fois.
Il y a déjá quelques années, quand les premiers travaux commençait dans le chantier des Amanis. Nous venons d’arriver d’un stage au Marroc avec Pierre Rabhi. Michel conduisait un gros camion et transportait des materiaux pour le chantier, aidant a la construction des batiments.
Aprés, dans une rencontre de Terre du Ciel, nous l’avons ecouté avec Isabel sur le project des Amanins.
Nous avons suivi au Portugal, pendant ces années, le developement du project des Amanins. Et puis, en 2010, avec des étudiants de l’université, je me suis rendu aux Amanins et nous avons eu comme guide Michel que tenait a tout expliquer, a moi et a mes étudiants d’architecture, les détails de léco-construction en terre, bois, paille, pierre, etc.
Nous avons eu des conversations trés interessantes sur la stratégie des Amanins, la formation et l’activité pedagogique pour adultes et enfants.
Nous vous envoyons ci-joint quelques images de ces jours inoubliables oú sa fraternité et son espoir dans l’avenir nous a touché a tous:
Nous voudrons rendre cette humble hommage a Michel, restituant ces images de cette rencontre remarquable oú il exprime une grande humanité et une profonde inspirations.
Jacinto Rodrigues
(Professeur Emmérite de l’Université du Porto- Portugal et membre de Terre et Humanisme)
Rosa Oliveira
António Rodrigues
Emanuel Monteiro"
Para testemunhar a grandeza do Michel aqui fica uma entrevista que ele nos concedeu, da última vez que visitamos Les Amanins a 7 de Maio de 2010 e que pode ser consultada nos links acima referidos.
Juntamos também um artigo escrito em 2007, aquando da nossa primeira visita ao projeto de Les Amanins e a Pierre Rabhi.
Pierre Rabhi, Sophie Rabhi e Michel Valentin
Jacinto Rodrigues visita Terre et Humanisme, Hameau des Buis e Les Amanins
Pierre Rabhi nasceu na Argélia, num pequeno oásis do sul.
Muito novo moveu-se entre duas culturas. Preservando as suas raízes duma família sufi, argelina, foi educado por um casal de professoress franceses após a morte de sua mãe.
Em 1958, tendo vindo muito novo para França com os pais adoptivos, conheceu a vida operária numa fábrica de Paris mas acabou por vir a instalar-se numa província do interior, Ardèche, com a sua família, tornando-se agricultor. Orientando a sua actividade rural durante 25 anos para a agro-ecologia, tornou-se num “expert”. Veio a ser consultor de organizações internacionais e divulgou os seus conhecimentos em agro-ecologia em diversos países africanos. Ao longo da sua actividade como consultor, forneceu utensílios teóricos e práticos para a autonomia alimentar das populações, procurando reconciliar a actividade humana com a natureza.
Em 2002 lançou o “apelo para uma insurreição da consciência” e foi candidato alternativo às eleições presidenciais francesas. Tal como em 1974, Renné Dumont, célebre engenheiro agrónomo e pioneiro da ecologia, teve grande impacto sobre a vida política convencional. A problemática agro-ecológica tornou-se, a partir de então, objecto de debate alargado aos cidadãos.
A importância de Pierre Rabhi, cuja obra científica e literária[1] é já reconhecida no mundo, está no facto de se engajar numa prática de vida, num ensino da frugalidade feliz que o tornaram numa figura emblemática: um novo Gandhi dos nossos dias.
As ideias-base de Pierre Rabhi podem resumir-se à:
- Não violência;
- Pertença inter e transcultural como atitude nova dum universalismo concreto, alimentado pelas experiências singulares vividas;
- Recusa do dogma do crescimento e defesa de um decrescimento na área das tecnologias contaminantes e de esgotamento;
- Recusa de uma modernidade em que se “vive para trabalhar em vez de trabalhar para se viver” e duma “civilização de combustão triunfante” da termodinâmica dissipativa que enjeita a realização criativa do trabalho manual e intelectual.
Rabhi desenvolveu uma acção em várias frentes. Da problemática altermundialista à intervenção local, abrangendo experiências em locais diversos como França, Marrocos, Burkina Fasso, etc. Pensar e agir criando alternativas participadas.
A palavra de ordem do movimento “Terre et Humanisme”, de que é Presidente de honra, consiste em promover experiências exemplares de agro-ecologia por todo o território - criar “um oásis em cada lugar”.
O movimento “Terre et Humanisme” tem apoiado inúmeras iniciativas em África e na Europa. Tem desenvolvido acções de formação, particularmente em agro-ecologia e na pedagogia social. Tem-se oposto à introdução de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) levando a cabo acções comuns, com várias organizações, contra as multinacionais responsáveis pela introdução dos OGM. Pierre Rabhi tem trabalhado em cooperação com a Universidade “Terre du Ciel” e tem sido uma voz activa na política favorável à consciência ecológica. Veja-se, o livro que escreveu, recentemente, com Nicolas Hullot[2]. Trata-se de uma importante contribuição na ecosofia.
Por outro lado, encarando uma actividade prática, Pierre Rabhi realiza projectos-piloto em Marrocos, Burkina-Fasso, Mali, etc.
Actualmente, em cooperação com Michel Valentin, participa no projecto “Les Amanins”, escola de vida, quinta experimental educativa, cujo objectivo central é formar agentes de eco-desenvolvimento, dotados de intrumentos teórico-práticos para a mudança do paradigma.
No dia 22 de Agosto de 2007, depois de atravessarmos a pequena vila de Lablachère, seguimos para a casa de Pierre Rabhi, situada no lugar de Montchamp. É nesse lugar que se situa a quinta de Pierre com uma casa de construção vernacular onde encontramos a Michele Rabhi. O Pierre ainda não chegara duma reunião em Mas de Beaulieu.
A Michele mostrou-nos a pequena escola Montessori, construção pré-fabricada de madeira, que desde há 5 anos tem sido o local de trabalho de Sophie Rabhi, filha do casal. A quinta permite um contexto de apoio à formação educativa da escola. Assim, o pomar, a horta agro-ecológica, o galinheiro e as cabras constituem um complemento essencial à escolinha “Jardin d’enfants”. As crianças têm um contacto directo com o mundo rural e os produtos da quinta ajudam a complementar a alimentação das crianças.
Entretanto começamos a conversar com uma das educadoras. Ela explicou-nos: “A metodologia de ensino Montessori é amplamente articulada com inovações que surgem no contexto da quinta agro-ecológica praticada por Pierre Rabhi e também pelo olhar de novas experiências pedagógicas”.
Fomos ver a construção de uma “yurta” em lona que viera articular-se, com a sua forma redonda, à construção funcional e rectangular dos 2 pavilhões pré-fabricados em madeira.
Por outro lado, a sanita seca mostra a integração da escola no mundo rural, permitindo, no processo agrícola, a compostagem de dejectos humanos e outros nutrientes orgânicos como fertilizantes da terra. Revela-se assim o conceito de Lavoisier: na natureza nada se perde, tudo se transforma.
O “cabanon de la colère” é uma pequena cabana, um pouco isolada em que as crianças, quando estão muito excitadas, são convidadas a extravasar as suas energias e pequenas raivas. Uma espécie de catarse voluntária para acalmar os mais excitados e facilitar o ritmo da aula.
Entretanto chega o Pierre Rabhi. Recordamos a viagem a Marrocos, o estágio em agroecologia na aldeia de Kermet Ben Salem. E enquanto caminhávamos pela quinta, o Pierre relatava os programas internacionais do trabalho da Associação “Terre et Humanisme” em Marrocos, no Mali, no Senegal e Burkina Fasso.
Pode-se resumir assim a sua estratégia:
1) A mudança a partir da situação concreta em que se vive;
2) Ter consciência clara de que a felicidade terá de ser conquistada por nós mesmos;
3) Haver uma mudança essencial sobre a visão do mundo. A agro-ecologia poderá tornar-se no factor de harmonização do homem com a natureza, graças a uma ecotecnologia e a uma ecosofia.
Pierre Rabhi desenvolveu algumas ideias sobre a necessidade de se internacionalizar este conceito de criar “oásis em todos os lugares”.
Em seguida voltamos a revisitar o trabalho de Pierre Rabhi em França.
Relatou-nos a actividade desenvolvida já ao longo de anos na sede do movimento “Terre et Humanisme” em Mas de Beaulieu, onde os estágios de formação em agro-ecologia constituem a estrutura principal do trabalho.
Em 2008 irão fazer-se estágios de 6 dias:
- 14 a 19 de Abril
- 12 a 17 de Maio
- 30 a 5 de Julho
- 15 a 20 de Setembro
- 6 a 11 de Outubro
Nestes estágios dá-se uma formação abrangente de agro-ecologia:
- História da agricultura do neolítico até à actualidade;
- Noções de permacultura e biodinâmica;
E procede-se a uma prática de agro-ecologia:
- Trabalho de fertilização optimizada de solos, irrigação, compostagem, etc.
Tínhamos visitado o Mas de Beaulieu há já alguns anos. Mas, durante o ano de 2007 deu-se um salto qualitativo. Passaram pelo trabalho agro-ecológico da sede do movimento “Terre et Humanisme” mais de 200 estagiários e 160 cooperantes voluntários.
Neste período construiu-se um poço canadiano, um armazém agrícola, refizeram-se muros e plantaram-se novas árvores de fruto.
Importa referir ainda a cooperação de Pierre Rabhi no projecto intergeracional do Hameau des Buis, loteamento ecológico em torno de uma quinta agroecológica educativa. Este projecto nasceu da filha de Pierre, Sophie Rabhi e do seu marido Laurent.
A experiência de Les Amanins é uma outra iniciativa de cooperação conjunta entre Pierre Rabhi e Michel Valentin. Estes dois homens descobriram uma complementaridade que os consolidou em torno de um mesmo projecto - um centro agro-ecológico.
Num terreno de 55 hectares vai realizar-se uma experiência bio-económica onde a prática agro-ecológica se articula com uma actividade pedagógica em torno de uma escola com crianças e também à volta de ateliers de formação para adultos.
O coração do projecto é a quinta agro-ecológica . Mas também a escola do colibri, dirigida por Isabelle Peloux.
Este centro vai tornar-se uma experiência exemplar, formativa, demonstrativa e criativa para a necessária mudança de paradigma.
Será uma eco-escola em França, ao serviço de uma visão internacional do ecodesenvolvimento e da paz.
A visita que fizemos levou-nos às várias estruturas já construídas. Um centro de recepção, a futura padaria e cantina e os vários ateliers ligados à actividade agro-ecológica e à escola.
A bioconstrução integra-se num vasto plano de logística para ateliers, alojamento e protótipos de energias renováveis.
Entretanto, o Boletim de “Terre et Humanisme” tem-se expandido cada vez mais relatando além das actividades do Mas de Beaulieu os trabalhos realizados no domínio internacional.
Assim, dando provas de uma abertura intercultural e transcultural, Pierre Rabhi desenvolve a sua actividade numa perspectiva internacional e local.
São vários os países africanos onde existem, desde alguns anos, experiências exemplares orientadas segundo o trabalho de Pierre Rabhi.
A experiência no Burkina Fasso, em Goron Goron, com a implantação de um centro agroecológico, baseou-se nos recursos endógenos e na participação das populações. Tornou-se um exemplo internacional para um outro modelo de ecosustentabilidade para África.
O livro “Offrande du Crepuscule”[3] descreve, em detalhe, esta experiência notável.
A actividade do movimento “Terre et Humanisme” alastrou-se ainda a outros países. Assim, tivemos o privilégio de vivenciar a experiência da aldeia de Karmet-Bensalem, em Marrocos onde se explicita esta prática agroecológica e de participação social criando locais demonstrativos de formação e reprodução de ecotécnicas ao nível da irrigação, compostagem e das hortas experimentais. Criam-se vários sistemas agro-ecológicos que vão desde celeiros, taludes, valados de irrigação anti-erosão, mini-crédito, etc.No Mali, na aldeia de Tacharan, criou-se também um centro agro-ecológico, articulando várias actividades culturais como alfabetização, formação do associativismo nas mulheres e actividades de bioconstrução.
Actualmente, no Senegal, mais de 20 hortas associadas e articuladas ao Centro agro-ecológico experimental, permitiram já a formação de mais de 800 pessoas em ecodesenvolvimento. Realizaram-se 5Km de diques de irrigação anti-erosão e desenvolveram-se actividades pedagógicas com crianças e adultos.
Jacinto Rodrigues
[1] in Rabhi, Pierre “Du Sahara aux Cevennes”, Ed. Albin Michel, 1983, “Offrandre au crépuscule”, Ed. Harmattan, 1989, Rabhi, Pierre e Hullot, Nicolas “Graines de possibles”, Ed. Calman-Levy, 2005
[2] in Rabhi, Pierre e Hullot, Nicolas “Les graines du possible”, Ed. Calman-Levy, 2005
[3] Rabhi, Pierre “Ofrande du Crepuscule”, Ed. L’Harmattan, Paris
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2011 - VIAGEM A SORÈDE:
O FIO DA HISTÓRIA DO FORNO SOLAR DO PADRE
HIMALAYA DE 1900
1. SORÈDE
Em 1899, o Padre Himalaya partiu para Paris. Aí inscreveu-se no Collége de France e prosseguiu as investigações sobre a energia solar que iniciara já há alguns anos em Portugal.
Graças à bolsa de D. Emília Josefina dos Santos, pôde fazer estudos com os melhores cientistas da época.
Em breve registava, em Paris, a patente para o forno solar de altas temperaturas. Apoiado pela Compagnie Parisienne des Missions et Recherches realiza uma primeira experiência em Neully sur Seine, duma máquina solar que construíra em Meudon.
Em Junho de 1900, dirige-se a uma pequena aldeia perdida nos Pirinéus Orientais, Sorède, onde vai experimentar uma nova máquina, melhorada, que constrói na plataforma duma pequena ermida – Castel d’Ultrera-Notre Dame du Chateau.
Aí, o Padre Himalaya conseguiu atrair algumas personagens importantes que o foram visitar, vendo o seu invento. O Jornal La Croix des P.O. registou esses acontecimentos e no local da Ermida ficou, até aos nossos dias, a marca da calha onde a máquina solar girava.
2. UM FIO DA HISTÓRIA QUE NOS CONDUZ À
ACTUALIDADE
Foi em 1996 que encontrámos esta marca indelével da presença do Padre Himalaya, que viemos a confirmar com as fotografias da época que levávamos e com as notícias do jornal La Croix des P.O.
Estas confirmações consolidaram-se com uma breve nota que encontramos na Câmara Municipal assim como com os testemunhos da população de Sorède e com os registos de um historiador local, o Senhor Margail, que tinha anotado no seu diário alguns dados históricos e até rumores, propalados na época, sobre a presença do Padre Himalaya em Sorède.
Tudo isto se encontra no nosso livro “A Conspiração Solar do Padre Himalaya” editado em 1999 pela Cooperativa Árvore e está também registado no documentário histórico realizado em 2004 para a RTP “A Utopia do Padre Himalaya” assim como na Exposição sobre a Vida e Obra do Padre Himalaya que organizamos com a colaboração da Cooperativa Árvore.
A partir de então reiniciou-se um novo ciclo de divulgação da obra científica do Padre Himalaya, em Portugal e no mundo graças ao esforço de todos os que conservaram a memória deste fio da história como o historiador Padre Doutor Avelino Jesus da Costa, o médico laico Dr. José Crespo, que deixou um importante espólio na Biblioteca de Viana do Castelo, a Igreja, Misericórdias, a imprensa, em particular a imprensa local, as associações, câmaras, bibliotecas e todas as pessoas, familiares e amigos que se empenharam em preservar um legado que se tornou já da humanidade.
Em breves linhas relembrarei o congresso que se fez em 2004, nos Arcos de Valdevez, “Primeiras Jornadas sobre a Vida e Obra do Padre Himalaya”, comemoração do centenário da atribuição do Grande Prémio da Exposição Universal de St. Louis, onde estiveram presentes os presidentes da Câmara de Sorède e dos Arcos de Valddevez.
A constituição da Association Les Amis du Padre Himalaya de Sorède, em França e também as Jornadas realizadas em 2007, no Canadá onde foi divulgada a obra do Padre Himalaya.
Em França, o professor Darbon, da Associação de Sorède, realizou protótipos baseados nos inventos do Padre Himalaya. Realizaram-se várias viagens da Associação de Sorède a Cendufe, estreitando-se os laços entre estas duas comunidades e não tardou que em Cendufe se constituísse também uma Associação Sócio-Cultural Padre Himalaya.
Relembro ainda que entretanto apareceram obras ficcionais sobre o Padre Himalaya como “O Nicho de S. Tiago” de José Carlos Rodrigues, “L’Ermitage du Soleil” de Helène Legrais e mais recentemente o conto brasileiro “O Sol é que alegra o dia” publicado por João Ventura numa antologia.
A divulgação da obra do padre Himalaya em Portugal, França e por toda a parte prossegue com publicações, conferências, festas do sol, concursos solares como a instituição do prémio solar Himalaya, etc.
3. SORÈDE 2011
Um novo salto qualitativo está agora a ser desenvolvido neste final de ano.
No centro da vila de Sorède está a ser finalizada a construção da Praça Himalaya.
Em Novembro de 2011 realizou-se a Assembleia Geral da Associação de Sorède, com a presença do Presidente da Câmara de Sorède e da deputada Jacqueline Irles e em que participei.
Nessa Assembleia decidiu-se concretizar o projecto da construção do forno solar do Padre Himalaya de 1900, que ficará num terreno disponibilizado pela Câmara Municipal, defronte das montanhas sagradas do Canigou, nos Pirinéus Orientais, local emblemático da região catalã.
Para a execução da obra vai ser necessário proceder a uma recolha de fundos, para além do apoio assegurado pela União Europeia. Nesse sentido a Associação de Sorède tem vindo a angariar fundos e foi com esse fim que a Associação Sócio-Cultural Padre Himalaya de Cendufe organizou um evento de forma a contribuir para a concretização do referido projecto de Sorède.
Com a realização prevista do forno solar do Padre Himalaya em Sorède, vai-se consolidar uma semente de todo um processo solar que constitui o fio da história do Padre Himalaya nesta região e que hoje está disseminada nas várias vertentes de energia solar que pude visitar, mais uma vez, com os nossos amigos Antoine Sanchez, Amand Darbon, André Joffre e Jean Jacques Serra.
Assim, desde as modernas instalações solares que se vão reproduzindo nesta região e que a breve prazo farão de Perpignan a primeira cidade francesa de energia positiva, percorremos os caminhos onde se situam os fornos solares de Odeillo, de Mont-Louis e de Themis, que mostram que o sonho futurante do Padre Himalaya o levou de humilde habitante de Cendufe à figura de pioneiro universal da energia solar.
Jacinto Rodrigues
NOTA: O Director do Jornal Notícias dos Arcos, Senhor Mário Pinto, escreveu um excelente editorial descrevendo o evento realizado na Associação Sócio-Cultural Padre Himalaya de Cendufe a 11 de Dezembro de 2011 e que aqui reproduzimos. Esse artigo está também traduzido em francês no blogue da Associação de Sorède.
Editorial – NotíciaMário G. L. Barros Pinto"No passado domingo, dia 11, a Associação Sócio-Cultural Padre Himalaya, com sede em Cendufe, terra da sua naturalidade, abriu as portas para receber o Professor Jacinto Rodrigues, que à vida e obra do grande cientista português tem dedicado muito do seu tempo de investigador, não deixando que a sua memória se perca. Segundo referiu, perante uma plateia de muitas dezenas de associados e admiradores, alguns vindos de fora, Jacinto Rodrigues, revelou que tinha acabado de chegar de uma viagem a França, a convite da associação congénere de Sorède, no sul de França, aproveitando para fazer o fio da história do Forno Solar, e onde lhe foi dado conhecer aquilo que ali se está a fazer para consagrar a memória de um dos maiores arcuenses de todos os tempos.E passou um pequeno filme, começando por mostrar aquela localidade perdida no sul de França, à data umlugar pobre e pouco populoso, escolhido pelo cientista português para fazer a experiência da construção doprimeiro forno solar. Foi em 1900, portanto há 111 anos.Mostrou várias imagens da povoação e recortes do jornal La Croix que dá imagens das várias fases deconstrução, um trabalho complicado, que só podia ser realizado com peças feitas por artesãos. A experiência demorou 6 dias. Era a primeira máquina para industrialização.Ali há já uma praça dedicada ao Padre Himalaya, estando a ser erguido um monumento com o protótipo do primeiro forno solar, para ser inaugurado no próximo ano, esperando-se que vá de Portugal uma grande representação, segundo antevisão de Jacinto Rodrigues.De registar, ainda, a surpresa do Professor Jacinto Rodrigues, ao tomar conhecimento de que a escola básica de Távora deixara de ostentar o nome do Padre Manuel Himalaya, o que o deixou visivelmente incomodado e inconformado, levando-o a propor um voto de protesto para que a situação seja revertida, como é de inteira justiça, o qual foi aprovado com prolongada salva de palmas. Mas o que esta jornada revelou, também, foi o orgulho desta comunidade nos seus valores históricos e que não quer, por isso, deixar esquecer o nome do seu filho mais ilustre – o Padre Himalaya, no que se sente também apoiada pelos autarcas e habitantes das freguesias vizinhas.A seguir Manuel Branco, especialista em naturopatia e homeopatia, falou das virtudes deste método de cura no tratamento de doenças, que é hoje considerada como medicina científica, estudada em algumas universidades, e integrado já nos sistemas de saúde em vários países, e de que o Padre Himalaya foi pioneiro.Convidado também a falar, agradeci ao Prof. Jacinto Rodrigues o interesse que lhe tem merecido a figura do Padre Hiamalaya, lembrei os primeiros e difíceis tempos das investigações e das pessoas com quem contactou aqui nos Arcos, como o meu Pai e o Padre Avelino de Jesus da Costa, além de Câmara, não podendo deixar de lamentar que quando, em França, os sucessores de uma comunidade simples mas hospitaleira, como foi a que recebeu o nosso conterrâneo em 1900, se preocupam tanto, passados 111 anos, em homenagear esta figura que é glória da Humanidade, a sua freguesia e o concelho natal não têm um monumento à altura da sua grandeza e prestígio (apenas existe um busto na vila, na Alameda Dr. Sá Carneiro, inaugurado em 14.12.1969), acabando por apelar à união de todos os presentes para sensibilizar os responsáveis a dar prioridade a tão justo e elevado desígnio."
Sexta-feira - 4 de Julho
Participamos, integrados na comissão da Associação Les Amis du Padre Himalaya de Sorède, na inauguração do Parque "Agri-Solaire" em Ortaffa, perto de Sorède.
As imagens deste parque, que aqui reproduzimos, pertencem ao blogue Habitat Durable.
Nesse blogue referem-se vários dados sobre esta eco-experiência que é a maior quinta agro-solar, no Languedoc-Roussillon e que produz 35 milhões de KWh por ano.
Experiência promovida pelo presidente da câmara Raymond Pia: organização dum território ecosistémico com o funcionamento simbiótico utilizando painéis solares e permitindo ao mesmo tempo agricultura biológica com vinhas, abelhas e pastoreio de ovelhas da região.
Sábado - 5 de Julho
Festa do Sol no Mas del Ca, Sorède.
Numerosos elementos da Associação "Les Amis du Padre Himalaya de Sorède" participaram na Festa do Sol, que incluiu um convívio com "méchoui" num ambiente educativo onde não faltaram diversos protótipos solares e também triciclos e carros movidos pela energia solar.
Segunda-feira - 7 de Julho
Palestra no Salão de Festas da Câmara Municipal de Sorède:
*Lundi 7 Juillet 2014 à la SALLE des FETES de Soréde
à partir de 17h00 :« Soirée Himalaya »
« INVITATION Tout Public»
Organisée par le Conseil d’Administration et la Commission Scientifique de l’association
Invitation TOUT PUBLIC...Gratuit et Ouvert à tous,
Adhérents, non adhérents et vacanciers...
“Soirée Himalaya” : Qui était Himalaya...avec la participation de notre ami, Professeur Emérite portugais Jacinto Rodrigues de l’Université de Porto. Projection du Film de 52 mn “A Utopia Do Padre Himalaya”, sous titrage en français suivi de l’INTERVENTION du Professeur Jacinto Rodrigues
* Apéritif offert par l’association à l’issu de l’intervention et des questions – réponses en direct avec le Professeur Jacinto Rodigues.
________________________________________________________
13 de Maio de 2012
Foi com imenso pesar que tivemos conhecimento da morte do nosso amigo e impulsionador do projeto de Les Amanins, Michel Valentin.
Ontem mesmo enviamos um e.mail manifestando o nosso pesar e recordando os momentos que tivemos a oportunidade de partilhar com o Michel e com alguns dos amigos deste extraordinário projeto:
"Chers Amis
C’est avec la plus grande tristesse que nous avons reçu la notice de la mort de Michel Valentin.
Nous sommes consternés pour cet événement.
Nous avons été ensemble plusieurs fois.
Il y a déjá quelques années, quand les premiers travaux commençait dans le chantier des Amanis. Nous venons d’arriver d’un stage au Marroc avec Pierre Rabhi. Michel conduisait un gros camion et transportait des materiaux pour le chantier, aidant a la construction des batiments.
Aprés, dans une rencontre de Terre du Ciel, nous l’avons ecouté avec Isabel sur le project des Amanins.
Nous avons suivi au Portugal, pendant ces années, le developement du project des Amanins. Et puis, en 2010, avec des étudiants de l’université, je me suis rendu aux Amanins et nous avons eu comme guide Michel que tenait a tout expliquer, a moi et a mes étudiants d’architecture, les détails de léco-construction en terre, bois, paille, pierre, etc.
Nous avons eu des conversations trés interessantes sur la stratégie des Amanins, la formation et l’activité pedagogique pour adultes et enfants.
Nous vous envoyons ci-joint quelques images de ces jours inoubliables oú sa fraternité et son espoir dans l’avenir nous a touché a tous:
Nous voudrons rendre cette humble hommage a Michel, restituant ces images de cette rencontre remarquable oú il exprime une grande humanité et une profonde inspirations.
Jacinto Rodrigues
(Professeur Emmérite de l’Université du Porto- Portugal et membre de Terre et Humanisme)
Rosa Oliveira
António Rodrigues
Emanuel Monteiro"
Para testemunhar a grandeza do Michel aqui fica uma entrevista que ele nos concedeu, da última vez que visitamos Les Amanins a 7 de Maio de 2010 e que pode ser consultada nos links acima referidos.
Juntamos também um artigo escrito em 2007, aquando da nossa primeira visita ao projeto de Les Amanins e a Pierre Rabhi.
Pierre Rabhi, Sophie Rabhi e Michel Valentin
Jacinto Rodrigues visita Terre et Humanisme, Hameau des Buis e Les Amanins
Pierre Rabhi nasceu na Argélia, num pequeno oásis do sul.
Muito novo moveu-se entre duas culturas. Preservando as suas raízes duma família sufi, argelina, foi educado por um casal de professoress franceses após a morte de sua mãe.
Em 1958, tendo vindo muito novo para França com os pais adoptivos, conheceu a vida operária numa fábrica de Paris mas acabou por vir a instalar-se numa província do interior, Ardèche, com a sua família, tornando-se agricultor. Orientando a sua actividade rural durante 25 anos para a agro-ecologia, tornou-se num “expert”. Veio a ser consultor de organizações internacionais e divulgou os seus conhecimentos em agro-ecologia em diversos países africanos. Ao longo da sua actividade como consultor, forneceu utensílios teóricos e práticos para a autonomia alimentar das populações, procurando reconciliar a actividade humana com a natureza.
Em 2002 lançou o “apelo para uma insurreição da consciência” e foi candidato alternativo às eleições presidenciais francesas. Tal como em 1974, Renné Dumont, célebre engenheiro agrónomo e pioneiro da ecologia, teve grande impacto sobre a vida política convencional. A problemática agro-ecológica tornou-se, a partir de então, objecto de debate alargado aos cidadãos.
A importância de Pierre Rabhi, cuja obra científica e literária[1] é já reconhecida no mundo, está no facto de se engajar numa prática de vida, num ensino da frugalidade feliz que o tornaram numa figura emblemática: um novo Gandhi dos nossos dias.
As ideias-base de Pierre Rabhi podem resumir-se à:
- Não violência;
- Pertença inter e transcultural como atitude nova dum universalismo concreto, alimentado pelas experiências singulares vividas;
- Recusa do dogma do crescimento e defesa de um decrescimento na área das tecnologias contaminantes e de esgotamento;
- Recusa de uma modernidade em que se “vive para trabalhar em vez de trabalhar para se viver” e duma “civilização de combustão triunfante” da termodinâmica dissipativa que enjeita a realização criativa do trabalho manual e intelectual.
Rabhi desenvolveu uma acção em várias frentes. Da problemática altermundialista à intervenção local, abrangendo experiências em locais diversos como França, Marrocos, Burkina Fasso, etc. Pensar e agir criando alternativas participadas.
A palavra de ordem do movimento “Terre et Humanisme”, de que é Presidente de honra, consiste em promover experiências exemplares de agro-ecologia por todo o território - criar “um oásis em cada lugar”.
O movimento “Terre et Humanisme” tem apoiado inúmeras iniciativas em África e na Europa. Tem desenvolvido acções de formação, particularmente em agro-ecologia e na pedagogia social. Tem-se oposto à introdução de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) levando a cabo acções comuns, com várias organizações, contra as multinacionais responsáveis pela introdução dos OGM. Pierre Rabhi tem trabalhado em cooperação com a Universidade “Terre du Ciel” e tem sido uma voz activa na política favorável à consciência ecológica. Veja-se, o livro que escreveu, recentemente, com Nicolas Hullot[2]. Trata-se de uma importante contribuição na ecosofia.
Por outro lado, encarando uma actividade prática, Pierre Rabhi realiza projectos-piloto em Marrocos, Burkina-Fasso, Mali, etc.
Actualmente, em cooperação com Michel Valentin, participa no projecto “Les Amanins”, escola de vida, quinta experimental educativa, cujo objectivo central é formar agentes de eco-desenvolvimento, dotados de intrumentos teórico-práticos para a mudança do paradigma.
No dia 22 de Agosto de 2007, depois de atravessarmos a pequena vila de Lablachère, seguimos para a casa de Pierre Rabhi, situada no lugar de Montchamp. É nesse lugar que se situa a quinta de Pierre com uma casa de construção vernacular onde encontramos a Michele Rabhi. O Pierre ainda não chegara duma reunião em Mas de Beaulieu.
A Michele mostrou-nos a pequena escola Montessori, construção pré-fabricada de madeira, que desde há 5 anos tem sido o local de trabalho de Sophie Rabhi, filha do casal. A quinta permite um contexto de apoio à formação educativa da escola. Assim, o pomar, a horta agro-ecológica, o galinheiro e as cabras constituem um complemento essencial à escolinha “Jardin d’enfants”. As crianças têm um contacto directo com o mundo rural e os produtos da quinta ajudam a complementar a alimentação das crianças.
Entretanto começamos a conversar com uma das educadoras. Ela explicou-nos: “A metodologia de ensino Montessori é amplamente articulada com inovações que surgem no contexto da quinta agro-ecológica praticada por Pierre Rabhi e também pelo olhar de novas experiências pedagógicas”.
Fomos ver a construção de uma “yurta” em lona que viera articular-se, com a sua forma redonda, à construção funcional e rectangular dos 2 pavilhões pré-fabricados em madeira.
Por outro lado, a sanita seca mostra a integração da escola no mundo rural, permitindo, no processo agrícola, a compostagem de dejectos humanos e outros nutrientes orgânicos como fertilizantes da terra. Revela-se assim o conceito de Lavoisier: na natureza nada se perde, tudo se transforma.
O “cabanon de la colère” é uma pequena cabana, um pouco isolada em que as crianças, quando estão muito excitadas, são convidadas a extravasar as suas energias e pequenas raivas. Uma espécie de catarse voluntária para acalmar os mais excitados e facilitar o ritmo da aula.
Entretanto chega o Pierre Rabhi. Recordamos a viagem a Marrocos, o estágio em agroecologia na aldeia de Kermet Ben Salem. E enquanto caminhávamos pela quinta, o Pierre relatava os programas internacionais do trabalho da Associação “Terre et Humanisme” em Marrocos, no Mali, no Senegal e Burkina Fasso.
Pode-se resumir assim a sua estratégia:
1) A mudança a partir da situação concreta em que se vive;
2) Ter consciência clara de que a felicidade terá de ser conquistada por nós mesmos;
3) Haver uma mudança essencial sobre a visão do mundo. A agro-ecologia poderá tornar-se no factor de harmonização do homem com a natureza, graças a uma ecotecnologia e a uma ecosofia.
Pierre Rabhi desenvolveu algumas ideias sobre a necessidade de se internacionalizar este conceito de criar “oásis em todos os lugares”.
Em seguida voltamos a revisitar o trabalho de Pierre Rabhi em França.
Relatou-nos a actividade desenvolvida já ao longo de anos na sede do movimento “Terre et Humanisme” em Mas de Beaulieu, onde os estágios de formação em agro-ecologia constituem a estrutura principal do trabalho.
Em 2008 irão fazer-se estágios de 6 dias:
- 14 a 19 de Abril
- 12 a 17 de Maio
- 30 a 5 de Julho
- 15 a 20 de Setembro
- 6 a 11 de Outubro
Nestes estágios dá-se uma formação abrangente de agro-ecologia:
- História da agricultura do neolítico até à actualidade;
- Noções de permacultura e biodinâmica;
E procede-se a uma prática de agro-ecologia:
- Trabalho de fertilização optimizada de solos, irrigação, compostagem, etc.
Tínhamos visitado o Mas de Beaulieu há já alguns anos. Mas, durante o ano de 2007 deu-se um salto qualitativo. Passaram pelo trabalho agro-ecológico da sede do movimento “Terre et Humanisme” mais de 200 estagiários e 160 cooperantes voluntários.
Neste período construiu-se um poço canadiano, um armazém agrícola, refizeram-se muros e plantaram-se novas árvores de fruto.
Importa referir ainda a cooperação de Pierre Rabhi no projecto intergeracional do Hameau des Buis, loteamento ecológico em torno de uma quinta agroecológica educativa. Este projecto nasceu da filha de Pierre, Sophie Rabhi e do seu marido Laurent.
A experiência de Les Amanins é uma outra iniciativa de cooperação conjunta entre Pierre Rabhi e Michel Valentin. Estes dois homens descobriram uma complementaridade que os consolidou em torno de um mesmo projecto - um centro agro-ecológico.
Num terreno de 55 hectares vai realizar-se uma experiência bio-económica onde a prática agro-ecológica se articula com uma actividade pedagógica em torno de uma escola com crianças e também à volta de ateliers de formação para adultos.
O coração do projecto é a quinta agro-ecológica . Mas também a escola do colibri, dirigida por Isabelle Peloux.
Este centro vai tornar-se uma experiência exemplar, formativa, demonstrativa e criativa para a necessária mudança de paradigma.
Será uma eco-escola em França, ao serviço de uma visão internacional do ecodesenvolvimento e da paz.
A visita que fizemos levou-nos às várias estruturas já construídas. Um centro de recepção, a futura padaria e cantina e os vários ateliers ligados à actividade agro-ecológica e à escola.
A bioconstrução integra-se num vasto plano de logística para ateliers, alojamento e protótipos de energias renováveis.
Entretanto, o Boletim de “Terre et Humanisme” tem-se expandido cada vez mais relatando além das actividades do Mas de Beaulieu os trabalhos realizados no domínio internacional.
Assim, dando provas de uma abertura intercultural e transcultural, Pierre Rabhi desenvolve a sua actividade numa perspectiva internacional e local.
São vários os países africanos onde existem, desde alguns anos, experiências exemplares orientadas segundo o trabalho de Pierre Rabhi.
A experiência no Burkina Fasso, em Goron Goron, com a implantação de um centro agroecológico, baseou-se nos recursos endógenos e na participação das populações. Tornou-se um exemplo internacional para um outro modelo de ecosustentabilidade para África.
O livro “Offrande du Crepuscule”[3] descreve, em detalhe, esta experiência notável.
A actividade do movimento “Terre et Humanisme” alastrou-se ainda a outros países. Assim, tivemos o privilégio de vivenciar a experiência da aldeia de Karmet-Bensalem, em Marrocos onde se explicita esta prática agroecológica e de participação social criando locais demonstrativos de formação e reprodução de ecotécnicas ao nível da irrigação, compostagem e das hortas experimentais. Criam-se vários sistemas agro-ecológicos que vão desde celeiros, taludes, valados de irrigação anti-erosão, mini-crédito, etc.No Mali, na aldeia de Tacharan, criou-se também um centro agro-ecológico, articulando várias actividades culturais como alfabetização, formação do associativismo nas mulheres e actividades de bioconstrução.
Actualmente, no Senegal, mais de 20 hortas associadas e articuladas ao Centro agro-ecológico experimental, permitiram já a formação de mais de 800 pessoas em ecodesenvolvimento. Realizaram-se 5Km de diques de irrigação anti-erosão e desenvolveram-se actividades pedagógicas com crianças e adultos.
Será uma eco-escola em França, ao serviço de uma visão internacional do ecodesenvolvimento e da paz.
A visita que fizemos levou-nos às várias estruturas já construídas. Um centro de recepção, a futura padaria e cantina e os vários ateliers ligados à actividade agro-ecológica e à escola.
A bioconstrução integra-se num vasto plano de logística para ateliers, alojamento e protótipos de energias renováveis.
Entretanto, o Boletim de “Terre et Humanisme” tem-se expandido cada vez mais relatando além das actividades do Mas de Beaulieu os trabalhos realizados no domínio internacional.
Assim, dando provas de uma abertura intercultural e transcultural, Pierre Rabhi desenvolve a sua actividade numa perspectiva internacional e local.
São vários os países africanos onde existem, desde alguns anos, experiências exemplares orientadas segundo o trabalho de Pierre Rabhi.
A experiência no Burkina Fasso, em Goron Goron, com a implantação de um centro agroecológico, baseou-se nos recursos endógenos e na participação das populações. Tornou-se um exemplo internacional para um outro modelo de ecosustentabilidade para África.
O livro “Offrande du Crepuscule”[3] descreve, em detalhe, esta experiência notável.
A actividade do movimento “Terre et Humanisme” alastrou-se ainda a outros países. Assim, tivemos o privilégio de vivenciar a experiência da aldeia de Karmet-Bensalem, em Marrocos onde se explicita esta prática agroecológica e de participação social criando locais demonstrativos de formação e reprodução de ecotécnicas ao nível da irrigação, compostagem e das hortas experimentais. Criam-se vários sistemas agro-ecológicos que vão desde celeiros, taludes, valados de irrigação anti-erosão, mini-crédito, etc.No Mali, na aldeia de Tacharan, criou-se também um centro agro-ecológico, articulando várias actividades culturais como alfabetização, formação do associativismo nas mulheres e actividades de bioconstrução.
Actualmente, no Senegal, mais de 20 hortas associadas e articuladas ao Centro agro-ecológico experimental, permitiram já a formação de mais de 800 pessoas em ecodesenvolvimento. Realizaram-se 5Km de diques de irrigação anti-erosão e desenvolveram-se actividades pedagógicas com crianças e adultos.
Jacinto Rodrigues
[1] in Rabhi, Pierre “Du Sahara aux Cevennes”, Ed. Albin Michel, 1983, “Offrandre au crépuscule”, Ed. Harmattan, 1989, Rabhi, Pierre e Hullot, Nicolas “Graines de possibles”, Ed. Calman-Levy, 2005
[2] in Rabhi, Pierre e Hullot, Nicolas “Les graines du possible”, Ed. Calman-Levy, 2005
[3] Rabhi, Pierre “Ofrande du Crepuscule”, Ed. L’Harmattan, Paris
__________________________________________
2011 - VIAGEM A SORÈDE:
O FIO DA HISTÓRIA DO FORNO SOLAR DO PADRE
HIMALAYA DE 1900
1. SORÈDE
Aí, o Padre Himalaya conseguiu atrair algumas personagens importantes que o foram visitar, vendo o seu invento. O Jornal La Croix des P.O. registou esses acontecimentos e no local da Ermida ficou, até aos nossos dias, a marca da calha onde a máquina solar girava.
2. UM FIO DA HISTÓRIA QUE NOS CONDUZ À
ACTUALIDADE
3. SORÈDE 2011
Nessa Assembleia decidiu-se concretizar o projecto da construção do forno solar do Padre Himalaya de 1900, que ficará num terreno disponibilizado pela Câmara Municipal, defronte das montanhas sagradas do Canigou, nos Pirinéus Orientais, local emblemático da região catalã.
Para a execução da obra vai ser necessário proceder a uma recolha de fundos, para além do apoio assegurado pela União Europeia. Nesse sentido a Associação de Sorède tem vindo a angariar fundos e foi com esse fim que a Associação Sócio-Cultural Padre Himalaya de Cendufe organizou um evento de forma a contribuir para a concretização do referido projecto de Sorède.
Editorial – NotíciaMário G. L. Barros Pinto"No passado domingo, dia 11, a Associação Sócio-Cultural Padre Himalaya, com sede em Cendufe, terra da sua naturalidade, abriu as portas para receber o Professor Jacinto Rodrigues, que à vida e obra do grande cientista português tem dedicado muito do seu tempo de investigador, não deixando que a sua memória se perca. Segundo referiu, perante uma plateia de muitas dezenas de associados e admiradores, alguns vindos de fora, Jacinto Rodrigues, revelou que tinha acabado de chegar de uma viagem a França, a convite da associação congénere de Sorède, no sul de França, aproveitando para fazer o fio da história do Forno Solar, e onde lhe foi dado conhecer aquilo que ali se está a fazer para consagrar a memória de um dos maiores arcuenses de todos os tempos.E passou um pequeno filme, começando por mostrar aquela localidade perdida no sul de França, à data umlugar pobre e pouco populoso, escolhido pelo cientista português para fazer a experiência da construção doprimeiro forno solar. Foi em 1900, portanto há 111 anos.Mostrou várias imagens da povoação e recortes do jornal La Croix que dá imagens das várias fases deconstrução, um trabalho complicado, que só podia ser realizado com peças feitas por artesãos. A experiência demorou 6 dias. Era a primeira máquina para industrialização.Ali há já uma praça dedicada ao Padre Himalaya, estando a ser erguido um monumento com o protótipo do primeiro forno solar, para ser inaugurado no próximo ano, esperando-se que vá de Portugal uma grande representação, segundo antevisão de Jacinto Rodrigues.De registar, ainda, a surpresa do Professor Jacinto Rodrigues, ao tomar conhecimento de que a escola básica de Távora deixara de ostentar o nome do Padre Manuel Himalaya, o que o deixou visivelmente incomodado e inconformado, levando-o a propor um voto de protesto para que a situação seja revertida, como é de inteira justiça, o qual foi aprovado com prolongada salva de palmas. Mas o que esta jornada revelou, também, foi o orgulho desta comunidade nos seus valores históricos e que não quer, por isso, deixar esquecer o nome do seu filho mais ilustre – o Padre Himalaya, no que se sente também apoiada pelos autarcas e habitantes das freguesias vizinhas.A seguir Manuel Branco, especialista em naturopatia e homeopatia, falou das virtudes deste método de cura no tratamento de doenças, que é hoje considerada como medicina científica, estudada em algumas universidades, e integrado já nos sistemas de saúde em vários países, e de que o Padre Himalaya foi pioneiro.Convidado também a falar, agradeci ao Prof. Jacinto Rodrigues o interesse que lhe tem merecido a figura do Padre Hiamalaya, lembrei os primeiros e difíceis tempos das investigações e das pessoas com quem contactou aqui nos Arcos, como o meu Pai e o Padre Avelino de Jesus da Costa, além de Câmara, não podendo deixar de lamentar que quando, em França, os sucessores de uma comunidade simples mas hospitaleira, como foi a que recebeu o nosso conterrâneo em 1900, se preocupam tanto, passados 111 anos, em homenagear esta figura que é glória da Humanidade, a sua freguesia e o concelho natal não têm um monumento à altura da sua grandeza e prestígio (apenas existe um busto na vila, na Alameda Dr. Sá Carneiro, inaugurado em 14.12.1969), acabando por apelar à união de todos os presentes para sensibilizar os responsáveis a dar prioridade a tão justo e elevado desígnio."
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Outubro de 2011 - Workshop de Agroflorestas com Ernst Gotsch - Extracto do Diário de Bordo de Jacinto Rodrigues
Em Darei, perto de Mangualde, a Cooperativa Sítio organizou um workshop sobre agroflorestas com o suíço Ernst Gotsch. Agradeço à Ana Ruivo e ao Samuel o convite que me fizeram. Agradeço também aos pais da Ana a gentileza e o requinte com que me acolheram no magnífico solar da Quinta de Darei.
Ideias fortes de Ernst Gotsch que me fizeram reflectir sobre estas questões da agrofloresta:1. Fazer florestas é plantar água. Plantando árvores, arbustos, herbáceas e flores, em biodiversidade e com simbioses complexas (comensalidade, associativismo, etc.) os ecosistemas desenvolvem-se saudavelmente e o biótopo permite biocenoses com relações ecosistémicas harmoniosas, quando integrados no metabolismo circular em regulação, regeneração e reciclagem.
2. A floresta torna-se assim a Mãe da Agroecologia e torna-se também Reserva de Água no solo e na biomassa, nutrindo animais e plantas, pássaros, insectos e homens.
3. Desenvolver florestas seria criar as condições da regeneração da nossa biosfera que está cansada e moribunda.
4. A vida da floresta move-se no espaço e no tempo metamorfoseando-se. Nessa metamorfose é preciso estar atento a uma contradição gerada entre floresta e estepe.
A floresta, local recôndito, é geradora de vida e água.
A estepe, lugar aberto, propicia desertificação.
O homem com o nomadismo acelerou a estepe desestruturando a silva em detrimento do ager.
Porém, compreendendo bem a agrofloresta, é possível conter nela bois, porcos, galinhas, pássaros, abelhas e mesmo elefantes da índia. E os homens, nas clareiras da Amazónia, têm uma qualidade de vida excepcional.
Porém, compreendendo bem a agrofloresta, é possível conter nela bois, porcos, galinhas, pássaros, abelhas e mesmo elefantes da índia. E os homens, nas clareiras da Amazónia, têm uma qualidade de vida excepcional.
5. Na agrofloresta é necessário ter boas sementes. A "placenta" que aprendemos a fazer no trabalho prático no campo, é um coktail de sementes que germinam em solo ligeiramente desbravado onde se junta uma camada de palha (mulching).
6. O resultado da poda serve para revitalizar o solo, permitindo a adubação com os galhos caídos, que apodrecem. Torna-se então matéria orgânica misturada na compostagem global de folhas, frutos caídos, etc.
7. A floresta do clímax deve articular várias fiadas de árvores, diferenciadas numa espécie de altar, baldequim decorativo, onde as árvores mais altas, ao fundo, se intercalam com árvores médias e baixas.
8. É preciso manter um equilíbrio constante no solo, entre carbono (C), fósforo (P) e nitrogénio (N).
O pensamento moderno é binário e mecânico. Não é trilógico. Não desenvolve senão o hemisfério esquerdo e produz um excesso de antropocentrismo esquecendo que a sua existência depende da relação com a biosfera.
Jacinto Rodrigues
Jacinto Rodrigues
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DIÁRIO DE BORDO - ANGOLA MARÇO 2010
5ª feira, 4 de Março de 2010Parti de avião, de Lisboa.
6ª feira, 5 de Março de 2010
Chegada a Luanda, às 6h30 (hora local). Preparo-me para mais uma viagem de avião até ao Namibe, no dia seguinte.
Sábado, 6 de Março de 2010
O Aço telefonou-me para estar às
10h da manhã no aeroporto militar de Luanda. Encontrei-me então com jovens
estudantes que esperavam num hangar do dito aeroporto. Falamos sobre o
Seminário que o CE.DO ia realizar. A maior parte dos jovens eram estudantes
finalistas de Antropologia.
Aguardamos
bem umas duas horas na “cavaqueira”. Aproveitei para registar em vídeo algumas
das conversas sobre as expectativas. No meio dos alunos encontrei o Cláudio
Fortuna que já me tinha entrevistado na conferência que dei em Luanda, na minha
anterior viagem a Angola, em Julho e Agosto de 2009.
Entretanto,
um graduado da aviação militar veio buscar-nos ao hangar. O Samuel Aço já tinha
também chegado. Seguimos ao longo do enorme terreiro e dirigimo-nos para um
“Antonov 37” que estava estacionado a meio da pista. Era uma nave gigante.
Subimos o bojo do enorme pássaro de metal. Era impressionante. Podia carregar
jeeps e blindados. Encostadas às paredes da enorme carcaça, distendiam-se
caixas de madeira que serviam de assento.
O calor era
insuportável. Instado pelas reclamações dos jovens, os pilotos russos abriram a
enorme boca traseira onde o Antonov 37 recebe as grandes cargas. Entrou então
uma lufada de ar fresco. O imenso bojo do aparelho voador funcionava como uma
enorme chaminé fazendo bombear bioclimaticamente essa lufada de vento.
Mais
confortáveis e risonhos, verificamos no entanto o ar preocupado e os gestos
apressados dos pilotos russos. O motor não arrancava! O russo mais velho,
talvez o engenheiro da equipa, tirou duma das caixas onde estávamos sentados,
algumas ferramentas e maquinetas ali amontoadas.
O Aço e eu,
sentados outra vez na caixa de madeira, interrogávamo-nos sobre o que estava a
acontecer. Passou mais uma hora. Mais outra hora ainda. Entretanto, uma certa
agitação começava a tomar lugar entre os jovens, em especial das raparigas que
já punham a hipótese de não embarcarem no velho avião militar.
Valeu-nos as
piadas de um jovem estudante que, ao telefone, relatava em voz alta,
exageradamente, as peripécias que nos estavam a acontecer. Relatava com um
exagero evidente que o piloto russo desmontava o motor, empoleirado nas asas do
pássaro mecânico, enquanto o avião planava no ar! Rimo-nos todos com a história
que o jovem contava à namorada, embevecida com a aventura aérea do namorado.
O avião estava
ainda em terra… mas a avaria era real! Entretanto, passadas várias horas, um
motor começou a trabalhar. Faltava porém ainda, o motor da outra asa. Mais uma
hora passou para que tudo funcionasse! Depois, o “Antonov” roncando, lançou-se
para aquele imenso céu azul e luminoso que vislumbrávamos pelas pequenas vigias
ovais. Risos e uma nova “galhofa” surgiram nessa aventurosa viagem. Finalmente,
a aterragem fez-se no aeroporto Yuri Gagarin, perto da cidade do Namibe.
Esperava-nos um jeep e o velho “Onimog” do CE.DO.
Angola
reservava-nos ainda novas aventuras. Em Angola seguem-se sempre várias
iniciativas. Os desafios são contornáveis e os momentos mais difíceis são quase
sempre superados.
Na viagem de
jeep, um coronel licenciado em antropologia veio connosco. A estrada está como
nova. Corríamos velozes no piso liso vendo os campos desertos onde, aqui e ali,
se vislumbravam, por vezes, algumas welvitchias
mirabilis. São como pequenos oásis na imensidão do deserto. Viramos à
esquerda e entramos na estrada de picada que fizemos o ano passado. Finalmente
chegámos a Njambasana com o pôr-do-sol. Distribuíram-se os quartos e fomos
mastigar o jantar na escola de artesanato.
Encontro com o
professor Dominguez, cientista espanhol-marroquino que se encontra a trabalhar no
Namibe. Encontro também com a Dra. Paula Camunhoto, do Ministério do Ambiente.
Domingo, 7 de Março 2010
Fiz uma
comunicação sobre a ecosustentabilidade.
“A ecologia na
luta contra a desertificação” no âmbito do 2º Seminário Internacional do CE.DO
“A Relevância dos Estudos Antropológicos em Angola”, Njambasana (Kuroka-deserto
do Namibe).
Referi as
relações da biosfera e da tecnosfera atual. Explicitei o historial ecológico de
Vernadsky e de Fosorme revelando a relação complexa da teia da vida (biocenose)
com o biótopo. Analisei os antagonismos existentes hoje entre a biosfera e o
atual modelo civilizacional que criaram esgotamento, contaminação e exclusão
social. Apontei soluções ecotecnológicas e referi alternativas a este modelo
civilizacional catastrófico.
2ª feira, 8 de Março 2010
Conversa sobre
sociologia do desenvolvimento com os estudantes.
Diferenciação
dos conceitos de crescimento e desenvolvimento ecologicamente sustentável.
Viagem ao deserto do Kuroka, às ruínas do “Custódio” a alguns quilómetros de
Njambasana. Era uma antiga destilaria feita de adobe com uma sólida estrutura e
um reboco onde foram introduzidas pequenas pedras nos espaços intersticiais dos
blocos, de modo a gerar-se uma estrutura mais sólida e impedir a erosão.
Ouvimos a
história, contada pelo professor Samuel Aço, do capataz que era um verdadeiro
criminoso para com os trabalhadores da destilaria. Pudemos observar que a
anterior área ecológica do território se tinha desertificado. Anteriormente
aquela terra produzia cana-de-açúcar. A desertificação é galopante nesta área
onde apenas os “óasis” do Arco e do Carvalhão vão resistindo ao avanço das
areias.
Começo a
analisar o aldeamento de Njambasana. Observo a paisagem e faço um levantamento
rápido dos equipamentos. Ao mesmo tempo empreendo algumas conversas sobre
metodologia de análise social. Entrevisto, com a máquina de filmar, o Samuel
Aço, a Teresa e o Jacinto Domingos Manuel procurando, através das histórias de
vida, refletir sobre a situação social da região.
Enviei, mais
tarde ao Samuel Aço, e.mails que resumem essas reflexões e que aqui transcrevo:
“(…) Prefiro metodologias mais simples,
apropriáveis pelas populações e que são comprovadamente eficazes e não
agressivas ao meio ambiente.
Assim, podíamos
ensaiar alguns dos princípios de Ernst Gotsch, que podes consultar no meu
blogue (http://jacintorodrigues.blogspot.com ) e tentar as
técnicas de Pierre Rabhi,[1]
que vi utilizar em Marrocos num estágio que aí fiz. A ideia consiste em criar
pequenos oásis com plantas locais, descentralizados e em bandas dispersas de
maneira a constituírem agrupamentos que permitem uma mudança higrométrica
favorável à não desertificação.
Constatei, quando
aí estive no Kuroka, que as welwitchias mirabilis constituíam oásis onde se
reconstruíam eco-sistemas múltiplos de vida.
Esta teia de vida
oculta torna-se o melhor meio de propagação de mudanças climáticas positivas.
Seria do maior
interesse conseguir meios económicos para convidar o Pierre Rabhi a ir ao
Kuroka, organizando um seminário internacional, se possível.
Estou disponível
para o contactar assim que me confirmes que existem condições para ele se
deslocar de França aí.
É um homem simples
e do deserto que aceita condições mínimas de logística e se move por opções
filantrópicas e solidárias”.
Já em 2009
tinha enviado ao Samuel Aço - CE.DO um e.mail com várias informações numa
perspetiva de ecodesenvolvimento local:
“(…) Durante a minha
viagem à Suíça e França, após ter chegado de Angola, comecei a tentar encontrar
apoios para o CE.DO:
. Contactei um amigo engenheiro - Dennis - que é um
especialista da energia solar e pode ser muito útil para um projeto de forno
solar e fogões domésticos (solares) que, tal como eu referi em Njambasana
seriam muito úteis para a região do Namibe, conforme explicito também no
Relatório que aqui te envio, assim como a carta que ele me escreveu e os documentos
que me enviou. Este projeto do forno solar, assim como dos fogões solares terá
o maior interesse se for feito em parceria com outras associações suscetíveis
de pegarem no assunto.
. Contactei também a Universidade de Benguela que
poderia eventualmente, trabalhar em parceria com o CE.DO sobre este projeto.
. Também uma minha ex-professora francesa de nomeada
internacional, Françoise Choay, a quem solicitei apoios científico-culturais,
sugeriu-me, nesta primeira etapa, uma cobertura fotográfica que desse a
conhecer no estrangeiro a problemática do deserto do Namibe.
Diz-me alguma coisa em relação a estes dois projetos
(forno solar multifuncional industrial e forno solar-fogão doméstico) pois se
eles interessarem ao CE.DO retomarei estes e outros contactos no sentido de
encontrar meios ecotecnológicos e ecoculturais para ajudar o CE.DO.
Gostaria contudo que me mandasses uma atestação como
membro fundador do CE.DO e indigitado para colher estas e outras informações
que possam levar a um estudo prévio e à concretização do projeto.
O documento pode ser em português ou francês”.
Sobre
o Centro de Estudos do Deserto (CE.DO) tenho refletido e a minha proposta seria
a de transformar este aldeamento num ecoaldeamento. Escrevi na Revista Africana
Studia, nº 10[2], editada pelo CEAUP,
alguns contributos que podem ser úteis para a melhoria deste local mas,
resumindo, a ideia-chave é tornar o CE.DO num centro difusor de
sustentabilidade ecológica não apenas nos discursos ou lições teóricas mas também
no funcionamento da logística construtiva (casas, produção agrícola, energética,
piscícola, etc) e na reciclagem dos ditos “lixos” de modo a serem transformados
em nutrientes.
As
minhas intervenções junto dos alunos e da administração de Njambasana vão no
sentido de criar um centro, baseado naquilo que tenho vindo a defender em
conferências várias, isto é, fundamentado num metabolismo circular que revele
um ecossistema sustentável.
Durante
os seminários no Kuroka, em Benguela e em Luanda, abordei a experiência do
Centro de Songhai[3] como um “centro de
excelência” que configura essa ideia de habitat sustentável em África.
Para
conseguir concretizar estes projetos, a metodologia de investigação-ação é
essencial. Os workshops devem-se traduzir, para cada interveniente, numa etapa
decisiva de pedagogia iniciática e, socialmente, devem levar à edificação de
casas e bairros ecológicos com parques de energias renováveis, hortas
pedagógicas e biológicas, reciclagem de “lixos” de modo a que todo o conjunto
funcione de forma ecologicamente sustentável, transformando o “lixo” em
nutrientes.
O
plano estratégico deste ecoaldeamento para o CE.DO tem como proposta essencial
uma organização hídrica que permitiria a manutenção de jardins filtrantes
ligados à lagoa do Kuroka de modo a obter água potável para as populações e por
outro lado o retorno de águas usadas para biodepuração e utilização no regadio
da biomassa que fertilizaria o terreno para uma bioflorestação capaz de evitar
a evapotranspiração desertificante, conservando assim a humidificação na área
do Kuroka, gerando toda uma bioclimatização capaz de reverter a desertificação
a que está sujeita aquela zona.
Pequenas
intervenções de plantações descentralizadas ao longo do território do
aldeamento funcionariam como catalisadores dessa bioclimatização, propiciando
simultaneamente alimentação para os habitantes da aldeia.
4ª feira, 10 de Março 2010
Fomos à cidade
do Namibe (antiga Moçâmedes). Visitei um pouco a cidade e entrei no Museu de
Antropologia onde fiz uma pequena entrevista ao Diretor Dr. Martinho. Em
seguida partimos em direção ao Lubango, atravessando a Chela, esse
extraordinário maciço, coração da África Austral. Ficamos num velho hotel do
tempo colonial, o Grande Hotel do Lubango.
5ª feira, 11 de Março 2010
Parto numa
camioneta em direção a Benguela.
Fiz um
acidentado percurso de 9h entre o Lubango e Benguela onde apanhei trovoadas
estrondosas e vi as picadas transformarem-se em leitos de rios revoltosos.
Chegado à estação de Benguela, o jovem rececionista
da Universidade, talvez convencido de que eu tivesse desaparecido, mais a
camioneta, nas levadas de água da viagem, não estava à minha espera. A minha
canela ensanguentada começava a doer. Preparava-me para apanhar um táxi-mota e
levar a mala à cabeça, quando me deram boleia num carro, cujo motorista,
comiserado com a minha trágica figura de "mais velho", desequilibrado
naquela mota-táxi desengonçada, me deu boleia até ao Hotel Luso. Valeu-me,
assim, essa auspiciosa fraternidade dos irmãos angolanos.
6ª feira, 12 de Março 2010
De manhã segui
para a UKB, Universidade Katiavala Bwila, onde assisti à abertura oficial do
ano letivo e proferi a oração de sapiência sob o tema “A abordagem ecológica e
o território”.
À abertura do
ano letivo presidiu o Reitor, Professor Doutor Paulo de Carvalho. Foi uma
cerimónia oficial em que estiveram presentes diversas autoridades políticas, sociais
e religiosas. Não faltou também uma representação teatral e musical, feita
pelos estudantes desta Universidade.
ORAÇÃO DE SAPIÊNCIA – BENGUELA –
UNIVERSIDADE KATIAVALA BWILA
Notas da comunicação oral
1.
Copérnico,
no século XVII, está na origem da revolução científica que iria consolidar-se,
com Kepler e Galileu, naquilo que se definiu como paradigma da modernidade.
Assim, a matematização do real através de Galileu e a concepção heliocêntrica
de Copérnico, estabelecem os principais critérios da física moderna.
2.
Porém,
no início do século XX, com Einstein e Max Planck, aparecem as principais
rupturas que põem em causa esse paradigma mecânico, dito moderno. Com efeito, a
teoria quântica relativista, tornou necessária uma nova perspectiva emergente
para compreender o universo, impondo uma avaliação crítica sobre a concepção da
matéria.
3.
Com
o irromper da ecologia, a visão do cosmos dá lugar a uma outra interpretação. O
cientista russo Vernadsky[4],
defendeu em França, em 1923, na sua tese de doutoramento – a biosfera – uma nova maneira de pensar o planeta terra. O
conceito de biosfera como ecosistema geral, em interacção com todos os
ecosistemas, numa complexidade onde a teia da vida se articula com o biótopo,
trouxe uma perspectiva de resiliência que se afasta da redutora concepção
mecanicista.
4.
Em
1956, Thomas Kuhn dá-nos conta da emergência do novo paradigma. A crítica
epistemológica do conhecimento científico anterior é analisada no seu livro
“Revolução Copernicana”[5]
que revela a insustentabilidade de um modelo continuista e cumulativo do
conhecimento científico, tal como era anteriormente aceite. Em 1962, este
físico, dotado duma grande preocupação pela epistemologia científica, elabora
uma nova reflexão. “A estrutura das revoluções científicas”[6]
é uma obra transdisciplinar que mostra a complexidade da ciência e a sua
relação com a história, a filosofia e a sociologia do conhecimento. Assim,
Thomas Kuhn mostra que o “progresso” científico não é linear. Efectiva-se,
antes, através de rupturas paradigmáticas, através de “saltos” que resultam de
crises, lançando hipóteses novas. Essas hipóteses novas aparecem como
“conversões” na apreensão da realidade. O alargamento da consciência faz-se
durante esses saltos em que a própria linguagem e o novo olhar exigem perguntas
novas. Em 1969, Kuhn alarga a sua tese da teoria do conhecimento científico à
filosofia contemporânea. Abrange assim o conceito de “episteme” de Foucault, e
o conceito de “desconstrução” defendido por Derrida. Supera-se simultaneamente
o empirismo tecnocrático, o estruturalismo neopositivista e o logocentrismo
idealista.
5.
As
contribuições da teoria geral dos sistemas de Ludwig von Bertalanffy [7]
assim como as achegas dos filósofos da complexidade, da sistémica e das
preocupações transdisciplinares como Edgar Morin[8],
Gregory Bateson[9] e
Joel de Rosnay[10],
confluem numa reflexão crítica à tecnociência (modelo mecanicista, poluidor e
destruidor). Com efeito, denuncia-se a esgotabilidade e a contaminação do
planeta, como fez o agrónomo Renné Dummond[11],
ao mesmo tempo que o filósofo Jacques Ellul[12]
defende a ecotecnologia como uma alternativa à tecnociência dominante,
permitindo-se uma tecnologia apropriável, não poluente e baseada em energias
renováveis.
6.
Todo
este debate sobre a técnica tem repercussões no conjunto dos pensadores que
põem em causa o conceito eurocentrista de crescimento económico. Por isso, esta
reflexão aprofundada leva-nos a uma noção globalizante de “bio-economia”, ou
seja, a inserção da economia na problemática da biosfera, afastando-se da
concepção reducionista da economia operativa e contabilística. Os trabalhos de
Georgescu Roegen[13]
abrem assim perspectivas de relação entre sociedade e território,
desenvolvimento e potencialidade da biosfera. Esta nova ecosofia
alteromundialista é
sustentada por sociólogos, economistas e filósofos de
grande prestígio ético como René Passet[14],
Serge Latouche[15] e
Pierre Rabhi[16],
entre outros, que fazem a crítica ao modelo tecnocientífico e às propostas de
crescimento que lhe estão
subjacentes e
que tantos estragos trouxeram e trazem à Humanidade: desertificação,
desflorestação, mudanças
climáticas e
exclusão social.
7.
Com
o Relatório Brundtland, [17]em
1987, divulga-se um princípio ético essencial na defesa do planeta e das
gerações futuras. Ou seja, “um desenvolvimento ecologicamente sustentável,
capaz de satisfazer as necessidades presentes sem comprometer as necessidades
das gerações futuras”[18]
8.
A
conferência do Rio, em 1989, vai ser crucial no alargamento de toda esta
problemática ecológica que obriga a uma nova abordagem geoestratégica e faz
surgir a perspectiva do ecodesenvolvimento. Assim, o paradigma mecanicista que
considerava a cidade como mega-máquina ou a casa como máquina de habitar, dá
lugar a um paradigma emergente em que a ecologia se torna essencial. A máquina,
do paradigma anterior, baseia-se no metabolismo linear que produz lixo no seu
funcionamento poluente e esgotável. O ecosistema, ao contrário, baseia-se no
metabolismo circular que, aproveitando as energias renováveis da biosfera,
restitui nutrientes recicláveis pelo próprio ecosistema.
9.
Os
trabalhos de Abel Wolmann[19]
e Macdonought[20]
expressam a necessidade de um novo urbanismo e ordenamento do território. O
biomimetismo desenvolvido por Janine Benyus[21]
pretende utilizar modelos experimentados pela natureza, aplicando-os às
ecotecnologias contemporâneas. Por exemplo, a bioclimatização dos edifícios
pode conseguir-se através do estudo de plantas e animais. A termiteira é um
exemplo importante na aplicação da arquitectura bioclimática. Também a
nanotecnologia traz vantagens substantivas pela economia de mateirias e pela
diminuição do uso energético. A revolução ecotecnológica em marcha está já a
revelar-se através de experiências exemplares: cidades do conhecimento,
organização sinergética entre os vários sectores de produção, bioclimatização
dos edifícios, concepção de acupunctura urbana, Jaime Lerner[22]
que, intervindo estrategicamente em lugares singulares, desencadeia processos
de dinâmicas múltiplas que afectam positivamente o território em geral. Os
sistemas de biodepuração, favorecendo a reutilização de águas residuais e
permitindo a compostagem orgânica para a regeneração dos solos, constituem o
fundamento para a nova estratégia do desenvolvimento ecologicamente sustentável
em que o pensamento verde articula a visão global com a intervenção local.
Surgem assim dispositivos estratégicos que, pouco a pouco, desconstroem o
paradigma mecanicista e redutor, metamorfoseando a sociedade e o território num
possível mundo melhor.
Algumas imagens do powerpoint apresentado durante a
comunicação.
Edifício Bedzed na periferia de Londres, do arquitecto
Dumster.
Este edifício foi construído com materiais recicláveis e
utiliza energias renováveis (solar e éolica). Tem tectos verdes o que permite
uma bioclimatização.
A cidade de Kalundborg, na Dinamarca, é uma eco-cidade que
utiliza as múltiplas sinergias das empresas e indústrias selectivamente
escolhidas de modo a criarem uma inter-ajuda no processo produtivo: a água
quente da refinaria vai permitir o aquecimento das habitações e ao mesmo tempo
a criação de piscinas para a produção de peixes. Os resíduos de algumas
empresas servem de materiais de construção. Os detritos orgânicos dos animais
servem de compostagem para a bio-regeneração da agro-ecologia utilizada em Kalundborg.
Freiburg – Alemanha. Nesta cidade as populações desempregadas
que pertenciam a um centro de aeronáutica foram reorientadas na sua formação
profissional, dedicando-se à produção de sistemas solares (termo e
fotovoltaico). A cidade de Freiburg tornou-se assim exemplar pela sua
auto-suficiência energética, fabricando também protótipos para a indústria.
Curitiba – Brasil. Uma campanha de eco-cidadania permitiu a
organização das populações na recolha e separação dos “lixos”. Com efeito, os
lixos tornaram-se riqueza, como nutrientes para a agro-ecologia e materiais
reciclados e reutilizados no processo produtivo da cidade, graças à recolha e
selecção feita pelos cidadãos.
A energia solar permite múltiplas utilizações, tais como
termo e fotovoltaicas.
O exemplo dum forno solar térmico permite múltiplas
utilizações. Em Marrocos, está a ser construído um forno solar que permitirá a
produção de cerâmica e o funcionamento de uma padaria.
Exemplos de ecotransportes. Um barco solar fotovoltaico, no
lago Constança entre a Suíça e a Alemanha e um carro de ar comprimido que é
utilizado na cidade do México como táxi do estado.
A arquitecta ANNA HERINGER EIKE ROSWAG construiu uma escola
primária no Bangladesh que ganhou o prémio Aga Khan de Arquitectura. Este
edifício é totalmente construído com adobe e bambu e contou também com a ajuda
das populações.
Ecoarquitectura de Simón Velez. Este arquitecto constrói
essencialmente com bambú, através de um processo especial que permite a longa
duração, resistência e a sua reciclagem.
East-Gate
Building - Zimbabwe
Edifício
bioclimático baseado nos estudos do bio-mimetismo em que as termiteiras servem
de modelo para a manutenção da temperatura.
Edifício
bioclimático, nos E.U.A., através da vegetação que funciona também como
biodepuração das águas residuais.
Biodepuração no lago Vitória, com a utilização de jacintos de
água, que servem para depurar o lago e ao mesmo tempo fornecerem biomassa para
múltiplos usos (compostagem agroecológica, produção de celulose para papel e
móveis). Os jacintos de água são recolhidos sistematicamente, através de barcos
especiais, evitando a infestação.
Em Freiburg e em Perpignan, graças à profusão do uso da
energia solar, pretende-se produzir mais energia do que aquela que as cidades
consomem. Assim, o objectivo é criar uma cidade de energia positiva que
bastando-se a si própria, consegue vender energia para o exterior,
capitalizando os investimentos realizados nos protótipos.
Em resumo, contactei
com investigadores, docentes universitários e instituições no sentido de
colaborarem com o CEAUP através da realização de protocolos (CE.DO; ADRA);
Organizei um
dossiê de documentação e recolha em vídeo de diversas visitas de estudo (deserto
do Kuroka, Luanda, Namibe, Benguela, etc.)
Esta missão
teve como objetivo prioritário as conferências sobre a ecologia na luta contra
a desertificação, a abordagem ecológica e o território, no deserto do Namibe e
em Benguela, respetivamente, bem como a entrega de propostas de protocolo à
ADRA (Ação para o Desenvolvimento Rural e Ambiente) e ao CE.DO (Centro de
Estudos do Deserto). Este objetivo foi cumprido.
Também se
estabeleceram contactos com diversas personalidades de reconhecido mérito
científico e cívico, (presidente, diretor e secretário da ADRA) (presidente do
CE.DO) no sentido de promover parcerias que podem assumir diversas modalidades,
nomeadamente no apoio do CEAUP a investigadores e docentes em Angola assim como
a participação de investigadores e docentes de Angola nas atividades do CEAUP
em Portugal.
A missão
permitiu, ainda, a recolha de informação que contribuirá para o aprofundamento
e consolidação dos objetivos do Projeto.
No entanto,
esta rede de relações é ainda muito insípida para se poder considerar um passo
decisivo na construção dum projeto concreto.
Sábado, 13 de Março 2010
Depois destas
atividades de âmbito universitário como investigador do CEAUP, fui convidado
pelo arquiteto Romeiras a dar as minhas sugestões acerca da intervenção
arquitetónica para Muxima, ou seja, a construção duma igreja prevista para
aquele local.
Por se tratar
de um assunto de valor simbólico e espiritual para Angola e por sentir que
mexer nesse território, tão especial e tão significante, merecia um retorno
àquelas paragens que sempre guardei na minha memória, partimos naquele sábado
de manhã.
Percorri
demoradamente as ruínas da Fortaleza de Muxima, do séc. XVI, e do cimo da
colina olhei a paisagem deslumbrante do rio Kwanza com a floresta verdejante a
envolvê-lo. Depois desci até ao templo, percorrendo demoradamente a aldeia e as
margens do rio. Apercebi-me que o “genius locci” daquele lugar precisava de
ligar a memória do tempo e a força telúrica do espaço, numa sinergia que
explicitasse o símbolo espiritual dum povo na história da humanidade.
Caracterizar
as linhas mestras para um planeamento daquele lugar é reforçar a sua força
ecológica através da plantação de novas árvores no seio de Muxima. É trazer a
água do rio fazendo-a serpentear no interior da própria aldeia. O resto é
apenas reorganizar a colina com os seus valores patrimoniais da história e os
seus significados múltiplos num grande cenário que permita guardar a memória
mas, ao mesmo tempo, abrir-se para a criação “inovadora” do futuro.
Por isso, por
detrás da fortaleza, como uma aurora futurante, surgiria uma “dome” ou “zome”
gigante que, envolvendo em espiral aberta as árvores sagradas de África, como
as molembeiras e os imbundeiros, simbolizam as raízes da terra e do céu num
abraço simbólico que consagra a vida dos homens.
Para religar
passado, presente e futuro importa articular a força patrimonial dos monumentos
com a força natural da paisagem onde o rio com meandrizações entrando pelo
aldeamento de Muxima, criaria a possibilidade de jardins filtrantes tornando
potável a água do Kwanza e regando hortas e pomares para usufruto dos
habitantes e dos peregrinos. Imaginei mesmo, para além duma estação portuária
um hangar moderno para um dirigível solar para transporte de passageiros,
marcando assim, fortemente, um símbolo de ecodesenvolvimento em Angola.
Jacinto Rodrigues
[1]
Descrevi essa experiência no livro editado pela Profedições Sociedade e Território – Desenvolvimento
Ecologicamente Sustentado, Porto, 2006
[2]
Africana Studia, Revista Internacional de Estudos Africanos, nº 10, Porto, 2007
[3] Esta
comunicação veio a ser publicada na Revista Angolana de Sociologia, RAS, nº7, Luanda,
Junho de 2011
[5] Kuhn, Thomas “The Copernican revolution: planetary astronomy in the
development of Western thought”, Harvard University Press, 1957.
[7] Von Bertalanffy, Ludwig “Teoria Geral dos Sistemas:
Fundamentos, Desenvolvimento e Aplicações”, Ed. Vozes, Brasil, 1975
[8] Morin, Edgar “La
Méthode” Ed. Seuil, 1977…
[17] Brundtland, Gro
Harlem “Our Common Future”, NY, United Nations,
1987
[18] Idem
[19] Abel Wolmann foi professor de Engenharia em várias
Universidades dos Estados Unidos da América e responsável pelo departamento de
Água.
[20] McDonought, William
e Braungart, Michael “Cradle to
cradle: remaking the way we make things”, Ed. North Point Press, 2002
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Moringa Oleífera - 2009
Desde há alguns anos que me acompanha o sonho de uma árvore. Essa árvore é a Moringa Oleífera. A primeira vez que ouvi falar nesta árvore foi no início deste milénio, pouco mais ou menos quando nasceu o meu filho mais novo, David.
A imagem desta árvore tem-me acompanhado ao longo de todas as minhas viagens de estudo, especialmente quando vou a África: Marrocos, Mauritânia, Moçambique, Angola e Cabo Verde.
Tentei, com a colaboração de amigos e familiares, fazer um pequeno viveiro com as poucas sementes que consegui arranjar. Foi graças ao Emmanuel Roland, biólogo e agricultor que vive na Bretanha, que conseguimos fazer crescer uma dessas sementes de Moringa Oleífera, a árvore sagrada proveniente da planície dos Himalayas.
Hoje, mostrarei as imagens do processo de crescimento da Moringa Oleifera, plantada em França, na Bretanha, com o método do Emmanuel Roland.
Aqui se mostra a metamorfose da planta e o crescimento que ela obteve, desde o mês de Abril, data em que foi semeada, até agora, medindo cerca de 1 metro e 25 cm de altura.
No atelier de Emmanuel Roland - Abril 2009
Abril 2009
Maio 2009
Junho 2009
Julho 2009
Outubro 2009
Jacinto Rodrigues
Hoje, mostrarei as imagens do processo de crescimento da Moringa Oleifera, plantada em França, na Bretanha, com o método do Emmanuel Roland.
Aqui se mostra a metamorfose da planta e o crescimento que ela obteve, desde o mês de Abril, data em que foi semeada, até agora, medindo cerca de 1 metro e 25 cm de altura.
No atelier de Emmanuel Roland - Abril 2009
Preparando a sementeira da Moringa Oleífera-Emmanuel Roland e Jacinto Rodrigues
Abril 2009
Outubro 2009
Jacinto Rodrigues
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Aventuras de uma Moringa - Árvore Sagrada
Há longos anos calcorreei vários países em busca de Moringas.
Falei, nos meus cursos e em conferências, desta árvore misteriosa que podia ser um meio eficaz de luta contra a fome no mundo.
Em homenagem a Wangari Muta que fundou o Movimento "Green Belt" que já plantou milhões de árvores em África, levei até Angola este sonho de plantar Moringas.
Discorri em artigos e no blogue Esteira do Ambiente, fundado em Luanda em 2006, sobre as virtudes desta árvore.
Procurei, na Galiza, gente amiga e de grande capacidade técnica, que pudesse plantar um viveiro de Moringas. Mas as Moringas não vingaram à crueza das geadas.
De Cabo Verde trouxe sementes de Moringa. E, um dia, levei-as até ao meu amigo Emmanuel Rolland, em França, que as fez crescer, contando esta história no seu site:
Num dia de estranhas sincronicidades, recebi um telefonema de alguém que conhecia os meus interesses pela Moringa e que me pedia sementes para experimentar no seu quintal.
Deolinda e António, de mãos verdes, puseram no seu quintal algumas sementes que eu trouxera de Cabo Verde. E elas cresceram.
São hoje árvores quase frondosas. E, neste Inverno, elas continuam a reproduzir-se em vários sítios.
São hoje árvores quase frondosas. E, neste Inverno, elas continuam a reproduzir-se em vários sítios.
Jacinto e David
Aqui estão algumas fotos que ilustram bem o crescimento das Moringas Oleíferas, na Casa dos Sobreiros em Leça do Balio, dos nossos amigos Deolinda e António.
Aqui estão algumas fotos que ilustram bem o crescimento das Moringas Oleíferas, na Casa dos Sobreiros em Leça do Balio, dos nossos amigos Deolinda e António.
Desde Janeiro de 2010, quando foram colocadas em vasos, a partir das sementes que o Jacinto ofereceu, que as Moringas não param de crescer tendo já atingido uma altura de mais de 4 metros em menos de dois anos (21 meses)!
Janeiro 2010-sementeira das moringas-António e neto
22 Março 2010
28 Março 2010
4 Maio 2010
6 Outubro 2010
8 Março 2011
11 Agosto 2011 - Deolinda e Jacinto
24 Outubro 2011 Deolinda
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Setembro de 2010 "Les Amis du Padre Himalaya" entre nós
O Padre Himalaya nas Comemorações do Dia da Árvore em 1914, mostrando como o seu explosivo - a Himalayate - podia servir para plantar árvores, naquele terrível ano em que começou a 1ª Grande Guerra (fotografia de Benuliel) |
Na década de 90, quando estava a escrever o livro "A Conspiração Solar do Padre Himalaya", fui conhecendo algumas pessoas de Sorède em busca de informações sobre o sábio português que no princípio do século aí estivera. Pouco a pouco foi nascendo uma amizade recíproca e uma interajuda para o melhor conhecimento da vida de Himalaya nessas paragens.
Foi assim que conheci Renné Pujoll, Michel Bouffard e o casal Sanchez (Marie e Antoine). Outros amigos se juntaram a esta vontade de conhecer o estranho sábio português que por ali passara, Amand Darbon, Jackie Solé, André Joffre, Courtois, André e esposa, Dani e esposa etc.
Duma maneira viva e graças à capacidade de organização de Antoine Sanchez, nasceu um grupo que rapidamente se transformou numa Associação organicamente constituída que tem crescido e realizado diversas acções e acontecimentos culturais relacionados com o Padre Himalaya e com a energia solar. O trabalho desta Associação pode ser consultado no blogue http://himalaya.vefblog.net .
O que de mais extraordinário se passou não foi apenas a troca de informações históricas que conseguimos e que permitiu, inclusivamente, a filmagem de cenas para o documentário histórico "A Utopia do Padre Himalaya". Foi a trama de relações afectivas entre portugueses e franceses que se tem estreitado em torno da figura do Padre Himalaya.
Ao longo destes anos fui várias vezes, com alunos e amigos, a Sorède onde a hospitalidade e a amizade foi crescendo. Forjaram-se também laços institucionais entre a Mairie de Sorède e a Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez. O Dr. Manuel Branco, arcoense e grande admirador do Padre Himalaya, muito se esforçou para o estabelecimento deste vínculo institucional que teve repercussões várias como a participação de delegações de ambos os países em acontecimentos realizados em Sorède e Arcos de Valdevez.
Participamos conjuntamente, em 2008, nas Comemorações do Dia de Portugal no Canadá, sobre a figura do Padre Himalaya. Nessas comemorações esteve patente não apenas o documentário "Utopia do padre Himalaya" exibido na RTP2 mas também um protótipo funcional construído por Amand Darbon, membro da Associação de Sorède e que é uma réplica, à escala reduzida, do "Pyrheliophero" realizado pelo sábio português, em 1900, naquela aldeia francesa de Sorède.
Todos esses eventos, que temos partilhado, são a expressão profunda de uma amizade crescente que tem vindo a alimentar uma verdadeira fraternidade.
Os Espigueiros do Soajo |
Visita à aldeia comunitária do Soajo - os Espigueiros |
E foi na casa da Costa, casa familiar do Padre Himalaya e nas recentes instalações da Associação do Padre Himalaya criada em 2008 em Cendufe, que os 45 elementos da Associação "Les Amis du Padre Himalaya" foram recebidos.
Protótipo movido a energia solar construído numa escola do concelho e que ganhou o prémio do Concurso Padre Himalaya |
Foi com muito entusiasmo e alegria que se realizou uma festa em que vimos cruzarem-se simbolicamente danças da Sardenha, da região Catalã de Sorède, com o Vira Minhoto das terras de Valdevez.
Elementos da Associação de Sorède dançando a Sardenha na Associação Sócio-Cultural Padre Himalaya, de Cendufe |
A "Association Les Amis du Padre Himalaya", de Sorède, apresentou, no dia 11 de Agosto, em França, o projecto de reconstrução do forno solar do Padre Himalaya, que vai ser construído em Sorède.
É um modelo fidedigno, protótipo funcional, réplica do aparelho construído pelo Padre Himalaya em 1900, em Sorède.
Este projecto tem já a aceitação do Presidente da TECSOL, André Joffre.
O protótipo funcional reduzido, realizado pelo professor Amand Darbon, constitui um elemento essencial para a prossecução prática do novo modelo à escala do pireliófero original que também vai funcionar, podendo servir de instrumento pedagógico para escolas e outras instituições para conhecimento da história dos fornos solares.
Esta peça emblemática será o marco para um percurso de energia solar na região dos Pirinéus Orientais onde se instalaram, no seguimento das experi~encias do Padre Himalaya, as grandes hélioestruturas de Mont-Louis, Odeillo e Thémis.
NOTA
Para conhecimento da obra e vida do Padre Himalaya, pode-se obter, através da LX Filmes, o DVD "A Utopia do Padre Himalaya", documentário histórico realizado por Jorge António e baseado no livro de Jacinto Rodrigues "A Conspiração Solar do Padre Himalaya", Ed. Árvore, Porto, 1999.
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Retalhos do Diário de Bordo a Cabo Verde - Outubro 2009
Terça-feira
13 de Outubro 2009
Chegada à Cidade da Praia. Comi uma sopa de macarrão com asas de galinha, no aeroporto.
Uma hora depois, num bimotor, segui para o Mindelo onde fiquei na Pensão "Chez Loutcha".
Quarta-feira
14 de Outubro 2009
De manhã tomei o pequeno-almoço no Café Mindelo com o meu velho amigo Arquitecto António Jorge Delgado.
Em seguida juntou-se a nós o Arquitecto Manuel Cansado.
Demos uma volta pela ilha. Praias a perder de vista.
Visita à casa bioclimática do Arquitecto Delgado.
Através dum pátio-chaminé, o ar quente era extraído pela abertura cimeira do saguão. Essa abertura controlável, permitia a adequação térmica, conforme as estações.
O ar fresco, entrando na base do edifício, afagava as plantas verdes e húmidas do pátio. E, numa ascensão espiral, percorria os vários patamares, atravessando portas e janelas de jelosias semi-abertas, refrescando as paredes grossas até se esvair no cimo do poço de luz do pátio.
No exterior, a simplicidade das paredes nuas e brancas era pontuada apenas por um baixo-relevo de Leão Lopes, simbolizando uma sereia da tradição cabo-verdiana.
Quinta-feira
15 de Outubro 2009
O encontro com esta ilha verde foi mágico. Ao fundo, o rendilhado em filigrana das esguias montanhas, obscurecendo, em contra luz, o céu imensamente azul, mergulhando também no azul marinho do mar infinito.
Chegamos, pela mão do senhor Leopoldino, ao Lombo de Santa onde morava o senhor Roberto, curandeiro da ilha. Aí ouvimos, entre ladaínhas e rezas várias, informações pertinentes sobre plantas curativas e ainda massagens na coluna que soerguiam entrevados que vinham consultá-lo.
Naquela casa, ao fundo dum vale verde, encontramos o sentido xamânico do homem e da paisagem.
Do outro lado da costa, depois de comermos um caldo de peixe, fomos ao farol Fontes Pereira de Melo. Ficava no escarpado dum promontório alto. Uma ravina impressionante caía depois nos pedregulhos ao fundo da escarpa, sobre o mar.
O farol era impressionante. Com algumas paredes já danificadas, subimos uma escada de ferro em caracol, já ferrugenta e deteriorada.
No alto do farol, a lente de Fresnel reflectia, na prismática construção, a luz do dia. Um arremedo de lanterna jazia envolto em quebrados prismas de vidro, fragmentos partidos da lente.
Do cimo do farol via-se o recorte rochoso da ilha de Santo Antão. Avistava-se a costa entre Vila das Pombas e o Paúl.
Esta paisagem, envolvendo o farol misterioso e em ruína, dava aquele dia o sentimento fantástico desta ilha.
Descemos depois à Cova do Paúl, zona onde nos fizeram ver "ditas pedras escribidas" donde conta a lenda seriam marcas de chineses vindos até ali há longos séculos passados.
Outras "pedras escribidas" surgem ainda no imaginal cabo-verdiano espalhadas por outras ilhas.
Sexta-feira
16 de Outubro 2009
De manhã fomos até Lajedos onde se realizou o Colóquio Internacional "Sociedades Rurais Africanas: Estruturas Fundiárias e Dinâmicas Sociais".
Abordei o tema do Planeamento Ecológico.
Sábado
17 de Outubro 2009
Regresso a Portugal.
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Extractos do Caderno de Campo da Viagem a Angola em Julho e Agosto de 2009
Os textos aqui reproduzidos são apenas alguns parágrafos extraídos do Relatório da viagem a Angola em Julho e Agosto de 2009, entregue no CEAUP para publicação.
(...)
16 a 18 de Julho
Partida para Malange no jipe da ADRA.
Subimos morros vigorosos por alturas de Ndalatando. A madrugada era esplendorosa.
A 450 kms de Luanda e com 5h de viagem, surgia agora a periferia da cidade de Malange.
Esta província é atravessada pelo rio Kwanza e contém várias etnias, como seja Kimbundo, Cokwe, Kikongo e Umbundo.
No carro, conduzido por Simão, ajeitamo-nos da melhor maneira por entre os sacos de viagem, Djalambi, Manteiga, Hildeberta, Álvaro e eu.
No Dondo o café estava encerrado. Seriam umas 5h da manhã quando paramos nesta primeira escala.Subimos morros vigorosos por alturas de Ndalatando. A madrugada era esplendorosa.
A 450 kms de Luanda e com 5h de viagem, surgia agora a periferia da cidade de Malange.
O culto da Rainha Ginga (N’Gingabandi) e do Rei N’gola Kiluanji estão patentes nas estórias e lendas que referem a zona de Pungo Andongo como a capital do reino N’dungo. Aí se assinalam as pegadas atribuídas a estes reis, nas pedras negras.
19 a 26 de Julho
(...) De manhã, partimos no carro do Sr. Toni com o Álvaro Pereira, em direcção a Benguela. Paramos na barra do Kwanza, por alguns minutos, apreciando o viveiro de palmeiras, logo ali, junto ao rio.
19 a 26 de Julho
(...) De manhã, partimos no carro do Sr. Toni com o Álvaro Pereira, em direcção a Benguela. Paramos na barra do Kwanza, por alguns minutos, apreciando o viveiro de palmeiras, logo ali, junto ao rio.
Seguimos passando por Sume e, entre Lobito e Benguela, na estrada 100 apanhamos um grande engarrafamento por causa da nova ponte de Catumbela, que não estava aberta por não ter sido ainda inaugurada, sendo necessário fazer um desvio.
Finalmente chegamos a Benguela.
No dia seguinte visitamos a sede da ADRA, na rua José Estévan.(...)
O Dombe Grande estrutura-se em torno duma pequena cidade industrial, espécie de utopia do séc. XIX centrada numa açucareira. As terras, os armazéns, a imensa estrutura industrial, o hospital, a maternidade, o balneário e a fonte são pontos estruturais duma localidade que fez a sua metamorfose em várias décadas, tendo-se consolidado com uma produção de açúcar onde laboraram cerca de 7 mil a 8 mil trabalhadores, nos anos 60 e 70 do século XX.(...)
Algumas caminhadas pela cidade, com a família e com o Álvaro, deram-nos a conhecer Benguela com a sua vida muito mais tranquila do que Luanda e com uma população hospitaleira.
Fui com o Professor Doutor Francisco Soares à Universidade de Benguela e pude falar longamente com o Reitor, Doutor Francisco Santos, sobre a cooperação possível inter-universitária. Fui, logo ali, convidado para fazer uma conferência na Universidade e visitar a sede da Fundação nas semanas seguintes.(...)
Duas crianças de 11 e 13 anos, JóJó e Eduardo, tornaram-se amigos do David.
Entabularam conversa connosco. Houve oferta de brinquedos e promessa de correspondência. Porém, nem JóJó nem Eduardo sabiam das possibilidades epistolares do correio. Foi preciso pensar o envio das cartas do David para a Escola Primária que ambos frequentavam. A casa deles, na Sanzala, não tinha nome de rua nem número. Os carteiros não passavam lá… (...)
Nós seguimos de Benguela para o deserto do Namibe, com o Dr. Samuel Aço, Director do Centro de Estudos do Deserto, na sua carrinha. O Dr. Samuel Aço é professor de antropologia na Universidade Agostinho Neto e convidara-me para ser membro fundador do referido centro (CE.DO - Centro de Estudos do Deserto). Só agora, passados quase dois anos, estava a partilhar com ele esta extraordinária aventura de me deslocar ao deserto do Namibe onde o CE.DO está sediado. Ele vinha de Luanda e trazia alguns jovens estudantes, Gamboa, Uíme e Carlos. Dois deles seguiram de autocarro para o Namibe e a Gamboa veio na carrinha connosco. (...)
Conheci o ex-vice-governador, Inácio João Tavares, conhecedor profundo da cidade e da sua história e fui ver o colorido dos panos e os cheiros das várias especiarias no Mercado do Namibe. (...)
(...) Voltamos a Njambasana, Kuroka. Exploramos o território observando Welvitschias, Salvadoras Pérsicas, dunas fósseis, pedras roliças, cristais, etc.
Esta área do vale do Kuroka situa-se numa região de clima seco desértico, muito quente.
Como diz Castanheira Dinis, “a média de precipitação anual é inferior a 100mm e todos os meses do ano se podem considerar secos (…). Trata-se duma região com características do Plistocénico e do Kalahari Superior”.
Interessará estudar cuidadosamente as mudanças climáticas operadas nesta região. O interesse local e internacional deste estudo parece-me relevante e poderá constituir um objectivo da maior importância para o CE.DO (Centro de Estudos do Deserto) (...)
(...) A palavra “Kurocas”, como refere o Padre Carlos Estermann, “é um vocábulo que define mais a geografia do que a etnia. São vários os povos que coexistem ao longo do rio Kuroka: Hubas ou Chimbas, Cuanhocas, Cuepes e Quimbares são alguns dos grupos étnicos que habitam a zona.”
O Padre Carlos Estermann refere que os habitantes do Vale do Kuroka têm sido objecto de observação e estudo desde longa data. O primeiro cronista dos povos do rio Kuroka foi Duarte Pacheco Pereira que, no livro “Esmeralda de Situ Orbis” descreve as populações entre a “mangua das areas” (Porto Alexandre), actual Tômbwa e a “angra das aldeias” (Baía de Moçâmedes), actual Namibe.(...)
(...) Pelas manhãs comíamos na casa do Samuel Aço e da Teresa uma papa de farinha de milho fermentado – maté – ou seja o mingau brasileiro. Esta farinha de milho seca ao sol em cima de lajes de pedra, fermenta ao longo de 4 ou 5 dias. Misturada com leite ou água dá um creme branco.
Na casa do Samuel Aço estavam alojados a arquitecta Cristina Salvador, a antropóloga Cristina Rodrigues e o fotógrafo Jorge Coelho. Na nossa casa ficaram o engenheiro Luís Pedroso e a arquitecta Leonilde Fialho.
Chegaram depois mais participantes: o arquitecto Maurício Ganduglia, a Dra. Fátima Viegas, a D. Emília Almeida, o Arquitecto Artur Lima e o Arquitecto paisagista Luís Mata.(...)
31 de Julho
(...) Voltamos a Luanda.
Pela manhã entrevistamos o Engenheiro Fernando Pacheco, fundador e actual presidente da Assembleia Geral da ADRA que nos deu uma panorâmica sobre a génese desta ONG – Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiental. (...)
Descreveu, em traços largos, a metamorfose desta instituição. Face às sucessivas mudanças político-sociais em Angola, explicitou uma metodologia “passo a passo”, com uma contínua pilotagem através de balanços permanentes ao funcionamento da instituição. A ADRA, afirma-se como uma instituição autónoma e em constante diálogo com a sociedade civil e o governo. (...)
3 a 5 de Agosto
(...) Com o Engenheiro Luís Pedroso e a Arquitecta Leonilde, membros da ONG Missanga, reflectimos sobre a eco-construção em Angola e planeamos uma viagem de estudo a Camabatela, onde a Missanga está sediada. (...)
(...) Sobre esta temática, registamos em vídeo a entrevista com o Arquitecto Maurício Ganduglia, professor na Universidade Lusíada de Luanda, que trabalha com os Salesianos D. Bosco sobre desenvolvimento e educação. Esta estrutura da Igreja está ligada a uma organização chamada Miserior, conhecida como a Cáritas alemã. (...)
11 de Agosto
(...) Viagem com o Luís Mata em direcção ao Huambo.
Paramos em Catete pois a carrinha estava com problemas no filtro e nos injectores de gasóleo. Dois jovens irmãos mecânicos, o Marcelo e o Luisinho, num pátio com contentores- a garagem do Rufino - resolveram o problema e partimos para o Bongo, passando pelo Dondo, Kibala, Wakuokungo (aldeia nova).
(...) Subimos ao alto do Ama. Atravessamos o cruzamento com a indicação do Lobito, Bié, Huambo e Luanda, em direcção ao Huambo. Era já noite e seguimos para o Bongo onde nos alojamos na Missão Adventista do Bongo, na casa da Gisela e do Luís.
(...) No Huambo, conversa-entrevista filmada com o engenheiro Júnior Chinendele do Gabinete de Planeamento e Urbanismo. (...)
Ao Engº Júnior Chinendele explicitamos os nossos pontos de vista para um eco-urbanismo (energias renováveis, transportes ecológicos – ex. carros de ar comprimido ou eléctricos – hortas municipais e um eco-parque pedagógico e formativo.
Constatamos, após a visita à cidade, a existência de 3 bacias hidrográficas, eixos estruturais verdes, em particular o jardim botânico que visitamos. Filmamos e fotografamos a Casa Ecológica que está a ser renovada.
Entrevista à Dra. Gisela, médica-veterinária, sobre o seu trabalho na ONG alemã WHH (Welt Hunger Hilfe).
13 de Agosto
De madrugada partimos em direcção a Benguela.
Visitamos algumas praias de Benguela – Caota, Caotinha, Praia Azul, Baía Farta, Praia da Macaca.
Às 18h fiz uma conferência sobre “O Desenvolvimento Ecologicamente Sustentável e a Paisagem Urbana” no anfiteatro da Universidade de Benguela. Abertura pelo Reitor Professor Doutor Francisco Santos e apresentação pelo Professor Doutor Francisco Soares.
(...) A palestra centrou-se essencialmente na reflexão sobre 3 cidades:
1. A cidade simbiótica de Kalundborg, em que, através de uma articulação sistémica, se criaram sinergias que melhoraram o nível de vida das populações e aumentou a produção local;
2. A cidade de Freiburg que, graças à energia solar e outras energias alternativas, pretende vir a tornar-se sustentável e até mesmo, de energia positiva. Através da reconversão de desempregados de aeronáutica, a câmara municipal desta cidade alemã, criou novos postos de trabalho em torno da actividade produtiva de protótipos de energias renováveis, nomeadamente painéis termosolares e fotovoltaicos.
3. A cidade de Curitiba que, graças ao desenvolvimento da cidadania nas múltiplas vertentes, favoreceu a reciclagem de lixos em nutrientes, a melhoria dos transportes e a renovabilidade energética.
Articulando necessidades e aspirações, a Câmara Municipal favoreceu uma maior consciência ecológicas e o aumento de participação na gestão da pólis. (...)
14 de Agosto
(...) Visita com o Reitor da Universidade de Benguela à Fundação da Sociedade Projectos Educativos de Angola, na praia da Caotinha. Fotografias. Descrição da Fundação, da praia e da aldeia da Caotinha
Primeira reflexão para um diagnóstico da situação e proposta de trabalho futuro com Pierre Rabhi, Tecsol e Tibá.
Partida de avião para Luanda.(...)
15 de Agosto
(...) Partida, às 5h da manhã, para Camabatela.
Passamos em Catete e Ndalatando, subindo o morro colossal do Binda. A 100km antes das quedas de água de Kalandula, viramos à esquerda na direcção da antiga Ambaca, actual Camabatela.
Paramos no Kilombo, onde os palmeirais verdejantes do jardim botânico deste local, revelavam um ecosistema muito fértil. Aí havia rosas de porcelana e autênticas catedrais de bambus imensos.
Chegados a Camabatela almoçamos na Missão dos Capuchinhos, na casa onde habitam o Luís Pedroso e a Vanessa. (...)
(...) Visita da mata, dos edifícios em adobe, da igreja, dos anexos e das oficinas de carpintaria e cerâmica. Cercas verdes de Buganvílias e de Sansão do Campo. Vedações realizadas pelo padre Joaquim Ribeiro.(...)
21 de Agosto
(...) Depois do almoço, eram 15h quando entramos no carro da Dra. Fátima Viegas em direcção ao Bairro Rocha Pinto, para participar numa investigação sobre a problemática da saúde e religião.
O bairro Rocha Pinto é um bairro com casas degradadas e muito lixo amontoado.
Ao aproximarmo-nos da Igreja Profética Vencedora no Mundo, dirigida pelo Profeta Enoque, ou seja, Jorge Lino Kambundo, passamos por um grande mercado ao longo da rua, com quitandeiras sentadas vendendo fruta, bolachas e baldes de plástico.
Vínhamos com a Dra. Fátima Viegas, socióloga e responsável pelos assuntos religiosos junto do governo, e tínhamos encontro marcado. (...)
(...) Fomos para um pequeno escritório enquanto aguardávamos ser recebidos pelo profeta Enoque. A Dra. Fátima Viegas, já conhecida na igreja, recebeu as boas-vindas. Nós fomos apresentados como estudiosos da Universidade e após as saudações protocolares sobre a nossa bem-vinda e auspiciosa visita, começamos a nossa conversa espontaneamente.
Procuramos esclarecer alguns problemas relacionados com a espiritualidade africana antes mesmo de avançarmos com as questões da terapias espirituais propostas pela Igreja Profética Vencedora no Mundo.
Como tínhamos compulsado alguns materiais teóricos sobre a espiritualidade bantu, quisemos certificar-nos, junto de Lino Kambundo, qual era a postura da sua Igreja em relação às 3 grandes funções mágicas tradicionais: adivinho, curandeiro e feiticeiro.
O profeta assumiu-se de imediato como adivinho, imbuído desde os 23 anos pelo espírito do Anjo Enoque, mostrando assim o seu distanciamento ao curandeirismo tradicional e em particular a ruptura total com a feitiçaria. (...)
(...) A abertura ecológica permite entender que as práticas chamânicas estão ligadas a uma abordagem sistémica do homem e da natureza. Esta perspectiva é particularmente interessante para a emergência do novo paradigma que põe em causa, do meu ponto de vista, a arrogância reducionista da visão da sociedade moderna. (...)
25 de Agosto
(...) Fui convidado pela socióloga, Dra. Fátima Viegas, a proferir uma palestra no ISCED (Instituto Superior Ciências Educação e Desenvolvimento) da Universidade Agostinho Neto.
Esta palestra, registada em vídeo, abordou a temática epistemológica das Ciências Sociais, revelando os vários “véus” que diferenciam a aproximação ideológica da “doxa”, da investigação teórica e fenomenológica das ciências sociais.
Tivemos como fundamento desta abordagem o conceito de complexidade, a metodologia sistémica e o enquadramento dum olhar gerado pela ecosofia. (...)
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Viagem a Montserrat e Manresa - Catalunha - 2009
A leitura de alguns livros aguçaram-me a vontade de visitar a montanha de Monserrat. Em primeiro lugar o livro de Octavi Piulats – Goethe y Monserrat– Ediciones Solsona 2001. O livro relaciona esta atracção poética pelas paisagens montanhosas com o romantismo. Trata-se dessa aptência límbica que atrai o nosso imaginal para o êxtase em que Petrarca se deixou arrastar quando fez a ascenção ao monte Ventoux. Este eixo de verticalidade que nos atrai da terra para o cosmos constitui o arquétipo da iniciação desejada. Simbolicamente é o enebriamento vivido quando se deixa a obscuridade da caverna e se ascende à montanha sagrada. Imanência e transcendência que é também a alternância pendular do dia e da noite. Esta iniciação fê-la Ignácio de Loyola. Piulats descreve no referido livro a peregrinação de Ignácio entre a “cova” em que se refugiara durante dias, em Manresa, e depois a subida ao mosteiro beneditino no cume de Monserrat. O livro conta-nos também a viagem de Alexandre Humboldt. A subida a pé à misteriosa montanha mágica é descrita por ele numa carta a Goethe. E assim, a mágica imagem da montanha alimenta o romantismo dessa geração. No livro de Piulats há ainda a estranha visita de Beuys a Manresa. Beuys parece engrandecer Ignácio de Loyola pela forma iniciática como empreende a sua mudança de vida. Parece assim querer distinguir a personagem de Loyola das várias modificações ou recuperações do movimento jesuíta face à igreja católica. É curiosa a peça escultórica que realizou. Simbolismo esotérico para os dias de hoje, marcação dum momento significativo de um homem que se transformou a si próprio metamorfoseando o saber em nova vontade que faz nascer uma personalidade livre. Já Max Stirner tinha denunciado o “falso princípio da nossa educação” que apenas pretende adestrar para melhor reproduzir o que dominantemente nos querem inculcar.
Um outro livro, “Leonardo, Los años perdidos”, de José Luis Espejo, Ediciones El Anden, Barcelona 2008, constitui uma outra vertente para a viagem que preparei para Monserrat. O que é mais curioso no livro é o estudo e a pesquisa que José Luis Espejo faz sobre a eventual peregrinação de Leonardo da Vinci a Monserrat. As provas estariam em vários dados, ou prenúncios de dados, susceptíveis de defender essa tese: a) a família de Leonardo estaria ligada ao Catarismo e um tio fugira mesmo para Barcelona; b) As montanhas de Monserrat aparecem no fundo do quadro da Gioconda; c) O sorriso de Mona Lisa seria o mesmo sorriso da virgem Negra; d) Os cadernos de Leonardo conterão pistas dessa viagem às terras catalanas e à montanha mágica de Monserrat... Tudo isso e muito mais, pode ser elocubração parafrénica. Mas pode não ser. O autor, de formação histórica, adverte-nos da sua perplexidade ao longo dos estudos que fez e assegura-nos de que estas suas preocupações foram muito anteriores aos sucessos literários do “Codigo da Vinci”, sobre o qual, aliás, emite juízos bastante críticos no que concerne á veleidade histórica em que se fundamenta o romance. Assim, o livro de Jose Luis Espejo é um exercício de desocultação gnóstica, de hermenêutica complexa em que importa não aceitar aparências mas multplicar caminhos novos para a investigação mesmo sabendo que nunca se chega a uma verdade única.
Assim, municiados com esta literatura em mente, partimos da casa do Luis Romani, em Les Toezes, cerca das 9 horas da manhã. A Rosa, o Luís, o Emanuel e eu éramos “os buscadores de verdade “dessa peregrinação a Monserrat e Manresa. O Luís, dada a sua “catalanidade”, servia de guia topográfico. Mas da viagem na alma éramos todos responsáveis pelo sentido que cada um procurava dar ao caminho. O David, com os seus 9 anos, olhava com espanto as altas serranias que se avistavam e à chegada a Monserrate procurava as vitrinas das lojas que exibiam as virgens negras em mantos dourados.
Em Manresa contentamo-nos em ver por fora ”a cova”, ou seja, a gruta onde Ignácio se acolheu. A rochosa protuberância que guarda no seu recôndito sombrio e silencioso, o lugar de recolhimento onde esteve o postulante de Loyola, foi coberta por um manto granítico que é o convento, construído mais tarde quando Ignácio de Loyola ganhara a aura de santidade católica. A porta do convento estava encerrada. Mas lembro-me bem de há uns anos ter visto a “cova” e aí meditar sobre a experiência daquele peregrino que mudou, por dentro, a sobranceria de militar em pobre enfermeiro de leprosos, entulhados num abandonado hospital de Manresa.
Fomos ver aquela cruz, espécie de cruzeiro, onde esteve Ignácio olhando o vale do paraíso onde se ergue ao fundo, em filigrana, a silhueta da montanha mágica de Monserrat. Foi na ascensão à montanha que Ignácio teve êxtases duma nova vida, deixando para sempre a espada do soldado que fora. Joseph Beuys teria tido um frémito semelhante naquele ano de 1967 quando, em Manresa, se pôs a realizar aquela estranha escultura de ferro.
Estávamos nas vésperas de Maio de 68. Para muitos sentia-se a necessidade, depois da tentativa de igualdade jurídica afirmada pela revolução francesa, do esboço da fraternidade económico-social prometida pela revolução russa de l917. Era chegada a hora da liberdade criativa se fazer ecoar na esperança da juventude daquela primavera de 1968. Beuys seguramente sabia da necessidade de transformar o saber em vontade livre para criar um outro mundo possível de liberdade e pensamento intuitivo, imaginativo e inspirado. Joseph Beuys deixou as marcas. Vi os carvalhos que plantou em Kassel. Vi as árvores verdes crescendo e ramificarem-se no meio da cidade. De Manresa foi subindo Ignácio até ao convento em busca do Graal.! Beuys experimentaria a solidão da gruta e o esplendor luminoso no cume de Monserrat.
Nós também fomos até lá.
O novo órgão ensaiava um canto chão no interior da igreja.
Alvejamos por entre a fila de visitantes a virgem Negra. Comparei a escultura ali presente com a imagem da Gioconda de Leonardo que recordei… Pareceu-me de facto o mesmo sorriso enigmático e subtil!
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Rabiscos dum Caderno de Viagens - Páscoa de 2009
I
MONTE ST. MICHEL
Viajar é aprender. Aprender a conviver e ver paisagem. Petrarca ascendeu ao Monte Ventoux para olhar a grande paisagem: a infinitude do olhar da águia sobre a infinitude do mundo. Era um "olhar de Deus". Era a contemplação da natureza. Era o cosmos ou a ordem divina do mundo. Rousseau procurou outro olhar: o êxtase na beleza da paisagem. Ainda um outro olhar teve Goethe. Na viagem à Itália foi um olhar múltiplo.
Um olhar sobre os homens, sobre plantas, sobre a história.
Em todos os casos foi alimentar a alma. Aquele olhar que se vê a si na sua própria humanidade em simbiose com a natureza.
A água, o vento, a pedra e a luz esculpidos naquele barco de rochedos em que S. Miguel poisa na agulha do tecto mais alto da abadia. É a "geia" divina que surge como o milagre dos elementos.
O labirinto de pedras que ascende ao céu... Os escadórios serpenteiam como cobras por entre as íngremes ravinas. Os edifícios alcandorados em cascata, formam um presépio gigantesco. Os pétreos contrafortes esteiam aquele prodígio de arquitectura sagrada. Êxtase de sucessivas gerações. Aspirações enraízadas na imensa pedreira que flutua ao sabor das marés. O poente morre no oceano, a ocidente.
II
CHARTRES
Chartres é luz e geometria. A rosácea cria múltiplas cores duma mandala que estimula o mistério. As esculturas da porta ocidental são o´símbolo alquímico.O "tetramorfo" revela a complexidade do nosso "eu". Os profetas, David, Salomão e a rainha de Sabá, contextualizam os nossos paradigmas históricos e o labirinto obriga-nos a dar sentido ao caos da nossa errância.
III
ARC-ET-SENANS
Máquina em busca do cosmos prospéctico e mecânico de Newton. Hierarquia do olhar. No entanto, mistérios infinitos das trevas: o sal recôndito dos alquimistas, trazido da rocha profunda à luz do sol.
IV
RONCHAMP
Pássaro branco, pousado sobre a colina, entre o céu e a terra.
V
GOETHEANUM
Entre as margens montanhosas de falésias sinuosas e abruptas, o aqueduto é uma ponte sólida, geométrica e altiva ligando revoltas águas reflectidas no fio límpido e imóvel que escorre o sol.
A viagem foi ainda muito mais do que estes marcos canónicos da história de arte. Fomos ao mundo obscuro dos que não têm lugar na história estreónica e imediática. Batendo estradas e caminhos poeirentos, subindo e descendo por desfiladeiros perdidos, em montanhas altas e plainos ermos, vimos alquimistas, sábios e procuradores da verdade: 1. Rolland, na sua quinta-laboratório, tratando de taludes ecológicos. 2. Baronnet, fazendo autonomia construtiva e energética com pensamento autonómico. 3. Michel Rosell, contruindo máquinas ecológicas e casas fabulosas em campos fertéis de árvores raras. 4. Rabhi, regenerando a terra com compostos vários em experiências alquímicas e agro-ecológicas. 5. Albrecht, forjando vontades em corpos caídos em busca de sonhos e prodígios. A viagem é sempre uma iniciação. Perdidos na noite, procuramos albergues em tortuosos caminhos. Perdemo-nos mil vezes. Achamo-nos na catedral de Burgos, recebendo a concha da peregrinação...
Nova visita ao centro Terre et Humanisme - Abril 2009
Visita à casa particular de Oscar Niemeyer de 1953
O Professor Jacinto Rodrigues visitou, com o arquitecto Gilles Alvarenga, a casa particular de Oscar Niemeyer, de 1953. Apresentamos aqui um vídeo dessa visita.
Visita à casa de Óscar Niemeyer
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Visita ao ISEP (Instituto Superior de Engenharia do Porto) em Julho 2008 com os alunos da FAUP
Visita ao I.S.E.P. (Instituto Superior de Engenharia do Porto) Julho de 2008 Fomos fazer uma visita ao ISEP acompanhados pelo engenheiro Armando Herculano. No tecto do edificio de cinco andares está montado um pequeno campo experimental de energias renováveis. Duas pequenas eólicas do mesmo tipo (hélice de três pás), alguns colectores solares foto-voltaicos e ainda alguns termo acumuladores para aquecimento de água .Do alto desse terraço era possível avistar outros tectos de estabelecimentos públicos ligados ao pólo universitário: o hospital de S.João, a faculdade de engenharia, de economia etc. Fizemos uma primeira reflexão. Seria importante adoptar um conjunto de eólicas e outros protótipos solares em todos esses edificios; Seria importante também diversificar os modelos. Existem, por exemplo, eólicas “sovonius” que podem circundar os muros dos beirais dos terraços tendo um apoveitamento intenso dos ventos. Todo esse equipamento eólico e solar generalizado poderia dar resposta aos gastos de cada edifício e tornar ainda o conjunto do campus em edificações urbanas de energia positiva, isto é, capazes de produzir auto suficiência energética e, ainda mais, energia suplementar para a rede. Este novo conceito é essencial: tornar estas grandes superfícies urbanas em logística produtiva de energias renováveis para interesse público. Fomos visitar a sala das medições onde se podem ler as entradas energéticas tanto das eólicas como dos painéis fotovoltaicos. Esta monitorização é essencial para uma auditoria ao edifício na sua globalidade. Contudo, é imprescindível analisar não apenas os fluxos energéticos mas também a qualidade ecológica dos materiais de construção, a existência ou não de sistemas passivos e da articulação do edifício com a envolvente paisagística. Fizemos algumas dessas observações que vão para além do uso de uma panóplia de instrumentos de medida, exigindo tambem a perspicácia e a sensibilidade ecológica para descriptar a função de estufa do pano de vidro da escadaria, da pála demasiado rígida que não permitia funcionar com as polaridades sazonais. A entrada nos poços de luz, através de campânulas, não era regularizada em função das diferenças entre Verão e Inverno. Por outo lado, o material de plástico envelhecera e a dificuldade da entrada de luminosidade aumentava. E esta situação agravava-se com o uso da luz artificial que era proveniente de holofotes externos que, gastando energia eléctrica cada vez mais cara, iluminavam cada vez menos. Por fim, demos uma volta ao terreno circundante e pudemos imaginar como é que algumas videiras ou trepadeiras colocadas estrategicamente, poderiam funcionar integradas num sistema de bioclimatização graças à caducidade da folhagem permitindo, ora a entrada de luz no Inverno, ora a sombra refrescante no Verão. Daqui partimos ainda para novas discussões sobre a participação trandisciplinar. Por exemplo, como é que o paisagismo se poderia integrar na bioclimatização geral, na biodepuração das águas residuais e na contribuição agro-ecológica (hortas e pomares urbanos) de apoio às cantinas para alunos e professores. Foi uma viagem de estudo altamente proveitosa que lançou as bases para um trabalho comum, entre alunos de ecologia urbana da Faup e o ISEP.
Jacinto Rodrigues
Julho 2008
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Junho de 2008 - Participação no 3º Congresso DERBY de energias alternativas em França - Perpignan
No dia 5 de Junho de 2008 realizou-se o 3º congresso internacional de energias renováveis - DERBI - no Palácio dos Congressos em Perpignan. Participaram mil congressistas de 30 nacionalidades que integraram vários grupos de trabalho (ateliers temáticos). Cerca de 40 jornalistas franceses e internacionais cobriram o acontecimento.
Na conferência de imprensa, em que participaram elementos do Estado, várias personalidades do ensino universitário e do poder local, revelaram-se cada vez mais os interesses pelas energias renováveis na solução da crise enegética e das mudanças climáticas.
O Presidente do DERBI e Director do Bureau d'Études TECSOL, André Joffre, referiu a importância do urbanismo e da arquitectura, visando soluções de energias renováveis que respondam não apenas à autonomização mas que produzam também energia excedentária para a rede nacional.
Durante 3 dias discutiram-se temas relacionados com as energias solar fotovoltaica, solar térmica, eólica, biomassa e geotérmica.
Durante 3 dias discutiram-se temas relacionados com as energias solar fotovoltaica, solar térmica, eólica, biomassa e geotérmica.
As conclusões deste congresso podem resumir-se em:
1º O futuro do planeta passa obrigatoriamente pelas energias renováveis;
2º As dificuldades técnicas estão, hoje, ultrapassadas pois as energias renováveis já podem responder cabalmente às necessidades do planeta. Precisam-se apenas de decisões políticas em conformidade;
3º É preciso desenvolver, desde já, cidades e habitats que produzam energia disponível não apenas para as suas necessidades autónomas mas que, suplementarmente, produzam energia para a rede de distribuição nacional e internacional. Perpignan será, em 2015, uma cidade de energia positiva.
O último dia deste congresso foi dedicado à visita de casos concretos. Tivemos ocasião de visitar uma escola, o pólo de infância Claude Simon, em Perpignan, obra da arquitecta Mimi Tjoyas. Esta escola disponibiliza energia eléctrica para a rede, proveniente da energia solar fotovoltaica.
No congresso DERBI esteve também em exposição uma maqueta da "La Maison de Demain". Vale a pena consultar o site: http://www.avivre.net
Trata-se de uma proposta de habitat para energia positiva que, em breve, será industrializado em larga escala.
Jacinto Rodrigues
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Vários taludes foram sendo feitos junto ao vale de um pequeno ribeiro. Uma mata foi-se desenvolvendo num diálogo subtil entre a força da floresta e a pequena intervenção consciente, resultante do conhecimento botânico de Emmanuel.
Desalentado pelo tipo abstracto de ensino e com o apoio do Director, transformou a aprendizagem num ensino vivo.
O importante do edifício era o forro interno que preserva a manutenção da temperatura interior da casa. As placas de fibra de madeira, “fermacelle”, são a base do revestimento da casa inteira que recobre uma massa de palha bem compressada. Depois, os muros exteriores feitos na base por tijolos E6 com uma tela de impermeabilização, impedem a osmose e a humidificação dos solos, especialmente durante as chuvas. Assim, a palha seca e compacta torna-se parede que é finalmente revestida por madeira de cedro vermelho.
De manhã cedo, o mesmo ritual. No ginásio fazíamos os pequenos exercícios físicos que depois terminavam com um
pequeno relaxe, que era simultaneamente de perícia, observação e previsibilidade no jogo de bilhar. O movimento gestual, a flexibilidade dos gestos, a relação do taco com o movimento da mão e o movimento induzido pela própria esferidade das bolas. O jogo flexível e sem concorrência permitia, mais uma vez, a relaxação e os gestos precisos.
Texto de Jacinto Rodrigues
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Os documentários agora colocados no blog surgem da visita do Professor Jacinto Rodrigues a uma pequena eco-aldeia em Moisdon-la-Rivière, em França, cujo principal responsável é Patrick Baronnet, igualmente pioneiro do movimento das eco-aldeias em França. As eco-aldeias surgem como resultado da cada vez maior preocupação ambientalista por parte da sociedade e apoia-se essencialmente num desenvolvimento ecologicamente sustentado. Este tipo de experiências surgem-nos sob uma multiplicidade de projectos, de modelos de gestão e até mesmo de soluções eco-técnicas utilizadas e desenvolvidas. O aparecimento de uma eco-aldeia pode estar associado a um bairro pré-existente por exemplo ou até mesmo a um grupo de habitantes que decidem desenvolver um projecto de raiz. Este tipo de projectos vem uma vez mais provar que é possível existir desenvolvimento económico e social sem haver uma destruição massiva dos recursos existentes à nossa volta.
Construção de terra em Boassas - Agosto 2007
O Professor Doutor Jacinto Rodrigues e o Mestre Arquitecto Luís Pinto de Faria, deitaram mãos à obra (neste caso à terra) e experimentaram a execução de vários tipos de tijolos de adobe (terra com barro/cal/gesso/goma de cacto/palha, etc.). Foi em Boassas, no final de Agosto.
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Jacinto Rodrigues apresenta Johan van Lengen - TIBÁ - BRASIL - 2007
Aqui ficam os vídeos do professor Jacinto Rodrigues a propósito da sua visita ao Tibá e do seu encontro com Johan van Lengen, o arquitecto que fundou este mesmo instituto, que visa criar um instrumento para a disseminação de uma arquitectura mais integrada com a natureza.
Vídeos
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Visita ao Ecocentro Heol de Patrick Baronnet-Fevereiro 2007
Chegamos ao Ecocentro Heol – Casa Autónoma de Patrick Baronnet – em Moisdon la Rivière – Bretanha (França) eram 16h do dia 19 de Fevereiro de 2007.
Vínhamos do Porto, no pequeno Peugeut do Amândio. Foi quase uma directa. Paramos apenas algumas horas numa residencial acima de Bayone.
Na condução, o Amândio era revezado pelo Emanuel. Eu, sentado no banco de trás, alimentava a conversa para que o sono não assaltasse os condutores.
Quando chegamos, o Patrick Baronnet estava à volta duma eólica avariada. Fomos ajudar. Era necessário descerrar os cabos para que a haste de 20 e poucos metros tombasse lentamente até encostar a um cavalete.
As hélices e o dínamo ficavam agora à mão.
O Patrick diagnosticou a avaria: eram os carvões gastos e sujos que impediam o contacto com a bobine. Foi fácil a reparação e em breves minutos estávamos a erguer a eólica graças a um macaco fixo ao tirante, para voltar a repor a eólica vertical ao solo.
Em seguida, o Patrick levou-nos a visitar uma construção em forma de zome. Essa zome fora construída com 84 losangos e o revestimento era feito de cânhamo e cal. O número de ouro estabelecia a relação entre a altura e a largura do zome. Esta edificação conseguira ter licença de construção por ser considerada uma forma construtiva experimental.
E de facto é um laboratório para vários estudos sobre a relação do espaço e a vida e também serve de campo de investigação para a geobiologia.
Os trabalhos de Yann Lipnik, que trabalha desde há alguns anos nas “arquitecturas vivas e formas biodinâmicas” inspiraram a realização desta zome. O estudo da geometria sagrada e a investigação nos domínios inovadores duma ciência telúrica onde se procuram estudar efeitos de correntes telúricas e cósmicas como as redes de Hartmann, Curry e Peyré, interessaram Patrick Baronnet que é um “procurador de verdade” e por isso não é alheio a este tipo de investigações que valorizam antigos saberes com a ciência contemporânea, nomeadamente o paradigma quântico da Física.
O dia estava bonito e o sol entrava pela transparência das vidraças coloridas que mais pareciam rosáceas. A porta da entrada estava especialmente decorada. Dir-se-ia que a zome estava revestida de antigos vitrais de catedrais que davam colorações e ambientes lumínicos ao espaço.
Depois de vermos as particularidades construtivas e de analisarmos os materiais e as formas geométricas subtis fizemos algumas experiências: sentir o espaço circular ascendente. Também percepcionamos os vários matizes das cores e ouvimos os sons que ecoavam nessa campânula em forma de zome. A voz era nítida mesmo quando falávamos baixo. E quando J. Ph Marie Moisson, director do Institut William Bates, usou aparelhos de medição electromagnética, vimos um bom comportamento do edifício em relação aquilo que se considera em geobiologia como pontos patogénicos do habitat.
Fomos para casa do Patrick, onde fomos recebidos pela Brigitte. Conversamos enquanto comíamos uma salada e uma boa sopa de legumes, trocando algumas ideias sobre o momento político e a situação ecológica mundial.
Fomos dormir para o sótão da velha casa rural depois de escutarmos uma bela música que a Brigitte tocou na sua harpa.
Na manhã seguinte, terça-feira, tomamos o pequeno-almoço com os Baronnet.
Depois, o Patrick mostrou-nos um powerpoint com alguns pormenores da casa 3E (economia, ecologia e entreajuda).
Referiu também a abordagem holística e sistémica subjacente à construção desta casa e à envolvente territorial. O elemento central deste habitat era o ecosistema, base da nova arquitectura ecológica.
Fomos então visitar a casa 3E. Foi importante perceber a relação do todo:
O solo, edificado sobre tijolo de terra, é o acumulador radiante. As fundações, que vêm dum fundo de grânulos de argila expandida, aproveitam a inércia térmica da terra que, a cerca de 1,5 metros está sempre a uma temperatura constante de 10 a 12 graus. Assim, a base da casa no Verão é fresca em relação ás temperaturas de 30 a 35 graus do exterior. E no Inverno, por exemplo, os zero graus do exterior encontram-se a 10/12 graus no interior.
Deste modo o edifício funciona como um forno, no Inverno.
Serve-se da temperatura acumulada pelo pavimento e, graças à captação solar (infravermelha) feita pela larga vitrina cuja concentração é facilitada pelo reflexo da parede branca do telhado inclinado, o perímetro das paredes de tijolo de terra é aquecido. Esse aquecimento pode ser reforçado, especialmente durante a noite, com o fogão de sala, envolvido em porcelana refractária e onde circula também a serpentina do cilindro termo-solar.
A bioclimatização solar passiva, completa-se com o poço canadiano utilizado no Verão.
Esse poço canadiano feito no momento dos caboucos é constituído por dois tubos que, a cerca de 1,5 metros, se distendem em forma de serpentina, trazendo para dentro de casa o ar do exterior que foi arrefecido pelo solo.
A casa é revestida nas paredes exteriores pela palha recoberta de madeira, à qual se junta um reboco quase todo em cal. Esta é a parte isolante do edifício.
No interior, as paredes e o pavimento, de tijolo de terra, funcionam como o acumulador da casa.
Interessa salientar que a palha não pode ficar húmida. Por isso, junto ao solo está um muro baixo que com uma camada de óleo não permite a osmose da humidade térrea para a palha.
O geobiólogo Moisson voltou a fazer medições com a sua panóplia de aparelhos.
Verificamos alterações nas radiações electromagnéticas. Os nossos telemóveis faziam interferência nos ponteiros do medidor electrónico.
Depois, no exterior, vimos como a água da chuva era recolhida numa cisterna. E vimos como em relação às águas usadas se usava a fitodepuração. O sistema energético provinha duma pequena central que aproveitava a corrente contínua do dínamo da eólica que, articulada com uma estrutura de foto-pilhas, auto-orientável e pousada no jardim, fornecia carga eléctrica às baterias. Um sistema de conversão permitia obter 220 volts para se utilizarem os electrodomésticos habitualmente feitos para essa voltagem.
As sanitas secas existentes permitiam que a reciclagem dos detritos orgânicos (restos de comida e dejectos) se tornassem nutrientes do composto previsto para o jardim, horta e pomar.
A antiga casa rural, comprada pela família Baronnet, foi totalmente renovada através da auto-construção, tornando-se também autónoma ao nível da água e da electricidade desde há 25 anos.
A eólica fornece anualmente 1,8 megawatts ou seja cerca de 4 a 5 kilowatts por dia.
E o painel de foto-pilhas auto-orientável fornece energia complementar. O aquecimento solar passivo foi conseguido através da estufa colocada à entrada da casa. Esta organização espacial - solar passiva – que conta com a inércia térmica das largas paredes da construção vernacular, tem também o complemento de um forno de lenha, embutido num revestimento de tijolo burro, coberto com cerâmica.
Existem ainda 4 m2 de captores termo-solares inteiramente construídos pelo Patrick e que fornecem energia para aquecer cerca de 150 litros de água a mais de 40º.
Para a água potável aproveitam-se as águas pluviais que são recolhidas em 2 cisternas com mais de 4000 litros cada uma.
Com esta logística básica (água, luz e aquecimento) construída há mais de 25 anos, a família Baronnet foi consolidando a actividade agro-ecológica para uma alimentação de base vegetariana.
Com estas necessidades essenciais resolvidas, a família pode viver com meio salário de um dos cônjuges e assegurar a manutenção das outras despesas e a educação dos filhos.
Pouco a pouco, os Baronnet edificaram um eco-centro, escola de vida com formação nos fins-de-semana sobre agro-ecologia, dietética, gestão de água e energias renováveis.
Foram-se organizando estágios que ensinavam, através do trabalho prático, as técnicas de construção ecológica (materiais naturais. terra, palha, cânhamo e cal, etc.) e bioclimatização com técnicas passivas e energias renováveis (sol e vento).
Uma pequena associação com actividade editorial foi publicando livros e organizando festivais.
E das conferências, formação geral, estágios e festivais realizaram-se em simultâneo a zome e a casa 3E que analisamos.
Foi um desenvolvimento orgânico, metamorfoseando no tempo as várias etapas, que permitiu aos Baronnet a consciência de viver em harmonia com o lugar e com os projectos sociais com que sonharam.
Texto de Jacinto Rodrigues
Fotos de Amândio Cunha e Emanuel Cardoso.
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França - Estágio de Agro-Ecologia com Emmanuel Rolland Fevereiro 2007
Pelas 10h30m da manhã do dia 21 de Fevereiro, 4ª feira, chegamos a Chapelle d’Iff, a casa do Emmanuel Rolland.
A recepção foi calorosa. Recordações da última vez em que estivéramos ali e ainda alguns minutos de conversa sobre a viagem.
Depois o Emmanuel Rolland fez-nos seguir para o seu ginásio. Iniciamos a experiência da actividade pedagógica no Centro “Petit Jardin Ecolier”. É assim o começo matinal dos cursos de formação. E nós queríamos ter uma experiência dessa formação que dura cerca de um ano, tal como Emmanuel Rolland prevê para os seus formandos nesta singular Escola de Vida, onde o ritmo das estações e o trabalho quotidiano regulam os nossos gostos e as nossas acções, num uníssono de harmonia com a natureza.
No ginásio treinam-se pequenos gestos, pequenos exercícios que relaxam e harmonizam o corpo para as tarefas, treinando os músculos e desenvolvendo gestos que melhor nos ajudam ao trabalho rural.
Numa mesa de balancé ficamos seguros pelos pés sobre uma tábua, ligeiramente inclinada a 15/20º. Depois, esta base vai basculando até ficar horizontal. Nós vamos relaxando, respirando profundamente e mexendo ligeiramente os braços. Em seguida a tábua dá-nos uma inclinação maior. Ficamos então a 40/50º, seguros pelo tornozelo, estendendo os músculos e as vértebras da coluna. Invade-nos um torpor pelo corpo. O sangue aflui ao cérebro. E nós continuamos a respirar mexendo ligeiramente os braços.
Sempre a respirar fundo vamos voltando, lentamente, à posição inicial.
Depois exercitamos os músculos das pernas, a flexibilidade nos quadris e nas ancas, a força nos braços. Por fim, relaxamos jogando uns 10 minutos de bilhar. Temos que tentar acertar mas sem concorrência. Apenas o prazer de tarambolar…
Meia hora depois comíamos pedaços de maçãs, diferentes umas das outras e com sabores também diferentes. Era a “aula” de saborear os paladares diferenciados dos vários tipos de maçãs.
Tivemos então, de seguida, uma espécie de aula teórica. Era uma conversa viva e cheia de exemplos concretos sobre a concepção agro-ecológica de Masanobu Fukuoka, uma das orientações que influenciaram a prática de Emmanuel Rolland.
Referiu-nos alguns dados biográficos: Fukuoka fez uma formação em microbiologia e especializou-se em doenças de plantas. Mas, aos 25 anos ele põe em causa a concepção da agricultura moderna que estudara. Volta então à sua aldeia e trabalha no sentido de desenvolver uma agro-ecologia, chamada também de agricultura selvagem.
A ideia básica é a seguinte: o trabalho com a natureza deve considerar-se um trabalho sagrado e isso implica um certo número de princípios que resultam duma observação consciente da floresta:
1. Não é necessário trabalhar excessivamente a terra pois ela cultiva-se a si própria, graças aos múltiplos ecosistemas de microorganismos;
2. Não são necessários fertilizantes pois um solo saudável conserva a sua própria fertilidade, graças aos ciclos e ao metabolismo circular dos nutrientes;
3. Não são necessários pesticidas pois a floresta é a mais regenerativa das formas da natureza.
Esta filosofia de Fukuoka, sempre a favor da natureza e não contra ela, confere ao homem um papel específico na agro-ecologia. O homem intervém conscientemente para fazer com que a natureza possa manifestar as suas potencialidades intrínsecas de criar, regenerar e permitir alimentar.
Depois do almoço vegetariano, fomos ver um pequeno filme sobre o trabalho e a obra de Emmanuel Rolland que a televisão francesa fizera já há algum tempo.
Em seguida, Emmanuel Rolland levou-nos à sua propriedade especial – Romançon -perto da habitação. Romançon é uma terra que herdou da família e é a base da sua investigação científica, acerca dos taludes que desenvolveu ao longo da vida.
Desde há longo anos que Emmanuel Rolland vem trabalhando nesta singular experiência pedagógica de agricultura natural.
Vários taludes foram sendo feitos junto ao vale de um pequeno ribeiro. Uma mata foi-se desenvolvendo num diálogo subtil entre a força da floresta e a pequena intervenção consciente, resultante do conhecimento botânico de Emmanuel.
A força da natureza vai fazendo crescer o matagal. Aqui e ali Emmanuel desbasta. Aqui e ali ele planta árvores de fruto à distância conveniente para que a harmonização entre as plantas não se transforme em luta pela vida. As árvores mortas que caem com os vendavais, transformam-se em biótopos de nova vegetação.
Um eco-sistema singular esta mata em que o homem intervém cautelosamente e escuta a natureza, os bichos e todos os elementos que nela intervêm.
Árvores de luz e árvores de sombra organizam-se nas clareiras e nas zonas húmidas e baixas do vale.
Árvores de folha caduca e árvores de folha perene, arbustos, fetos, cogumelos, tudo são sinfonias num jogo de forças, de simbioses, de apoio mútuo e rivalidades também.
Emmanuelle conhece essas leis, conhece a comensalidade, a predação e a solidariedade das plantas e dos animais.
O papel do homem é escutar, observar e intervir cautelosamente num jogo supremo de alquimia, participando na metamorfose desta pintura e sinfonia prodigiosa da natureza.
O conceito que desenvolveu tem a ver com a criação do “Arboretum-ecosistema evolutivo”.
Ele sabe que plantar árvores é conceber a própria evolutividade da vida vegetal sempre em mudança. É preciso pré-visualizar o que vai ser o conjunto de árvores no seu todo e ao longo do tempo. Prever daqui a um ano. Daqui a 5 anos. Daqui a 10 e 20 anos…
Plantar, semear não são gestos estáticos. É conceber o tempo agindo no aqui e agora – saber que algumas árvores vão morrer, outras crescerão enormemente. Nascerão outras árvores que o homem não plantou… E então, na acção cautelosa, a incerteza e a previsão são componentes de jogo entre o jardineiro e a natureza.
Nessa natureza onde pássaros e outros animais virão visitar e habitar.
Emmanuel reconhece no biótopo a pegada das raposas, das lebres, etc…
Aqui e ali reconhece as penas dum melro ou os dejectos de uma pomba.
Deixamos Romançon e fomos até ao Colège de la Valée de Rance, em Languenan.
Fora aí que 22 anos antes Emmanuel Rolland começara essa prodigiosa aventura de jardineiro livre.
O colégio onde ensinou as ciências da vida, torna-se um laboratório vivo do seu trabalho de ensino.
Desalentado pelo tipo abstracto de ensino e com o apoio do Director, transformou a aprendizagem num ensino vivo.
Durante 22 anos, com jovens de 15 a 18 anos, calcorreou o vasto terreno do colégio, levantando taludes de terra onde foi plantando árvores e mais árvores – cerejeiras, pereiras, macieiras, nogueiras, castanheiros, aveleiras – e nas bordas dos muros de terra, enriquecida com o “composto” fertilizante orgânico das folhas amarelecidas do Outono e de palha, foi plantando groselheiras, mirtilos, framboesas. E um bosque frondoso foi crescendo à volta do colégio, com clareiras onde as crianças têm sol e em mato mais cerrado e sombrio onde as flores vieram sulcar o solo e as árvores maiores, com os ramos entrelaçados, criaram corredores de sombra.
Em seguida, Emmanuel levou-nos até Dinan. Passou por vários viveiros e “conservatórios” de macieiras de vários tipos biodiversivos, típicos da Bretanha. Uma associação formara-se. E o seu trabalho veio a ser apreciado pelo próprio presidente da Câmara que, no princípio era um céptico da ecologia.
Depois, fomos ver um amigo que construiu uma casa ecológica. O projecto era simultaneamente dum arquitecto com o apoio de um engenheiro especialista em bioclimatização e que construiu, ali perto, a sua própria casa.
O sistema de águas residuais beneficiava da mesma lagunagem fito-depurativa. Esse jardim filtrante permitia reciclar as águas sujas.
O processo bioclimático era complexo e integrado.
O poço canadiano funcionava também como poço provençal.
O Sr. Jo Argouach era o construtor da sua própria casa. Explicou-nos que a serpentina tubular que se encontra enterrada a mais dum metro sob o pavimento cheio de argila expandida e coberto com tijolos E7 e E8 permite trazer o ar a 12 graus. Mas, graças a um pequeno conversor comandado electronicamente e ligado a um termóstato, ele regulariza a entrada e a distribuição do ar conforme o ambiente que se quer. O ar fresco que se pretende no Verão vem a 10º ou 12º. Mas esse mesmo ar vai aquecendo até à temperatura desejada, durante os dias e as noites frias de Inverno, graças ao conversor térmico e ao termóstato.
Fomos espreitar no sótão o pequeno sistema electrónico ligado ao tal conversor térmico. É uma espécie de termo ventilador que actua na regularização do fluxo de ar que vem do exterior e que passa previamente pela regulação dos 12º impostos pela massa inerte por onde passa a tubagem em serpentina enterrada no pavimento de argila expandida e tijolos de terra, acumuladores da temperatura do solo a partir de metro e meio de profundidade.
O importante do edifício era o forro interno que preserva a manutenção da temperatura interior da casa. As placas de fibra de madeira, “fermacelle”, são a base do revestimento da casa inteira que recobre uma massa de palha bem compressada. Depois, os muros exteriores feitos na base por tijolos E6 com uma tela de impermeabilização, impedem a osmose e a humidificação dos solos, especialmente durante as chuvas. Assim, a palha seca e compacta torna-se parede que é finalmente revestida por madeira de cedro vermelho.
Sobre o telhado estão os acumuladores solares térmicos que aquecem a água que circula do tecto até ao grande cilindro que se encontra no r/c e que, ligado ao sistema eléctrico, pode recorrer ao apoio da energia eléctrica para aumentar a temperatura da água, sempre que seja necessário, ainda que este sistema esteja também ligado ao fogão da sala, de grande massa inerte feito de tijolo burro e coberto com cerâmica refractária e que funciona com restos de madeira.
A tarde passou-se nestes encontros, nestas conversas e contactos especialmente úteis para o Amândio e para o Emanuel Cardoso.
Chovia agora mansamente ao entardecer da Bretanha. Por isso, chegados a casa fomos jantar uma ligeira refeição onde saboreámos uma sopa magnífica com quinoa, algas, diversos vegetais, salsa e alho.
Durante e depois do jantar abordamos temas sobre a escola de vida que estávamos a vivenciar.
Nessa noite ouvimos de Annick o relato da sua experiência no conhecimento da alma humana. Um trabalho pessoal de conhecimento e aconselhamento psico-espiritual.
De manhã cedo, o mesmo ritual. No ginásio fazíamos os pequenos exercícios físicos que depois terminavam com um
pequeno relaxe, que era simultaneamente de perícia, observação e previsibilidade no jogo de bilhar. O movimento gestual, a flexibilidade dos gestos, a relação do taco com o movimento da mão e o movimento induzido pela própria esferidade das bolas. O jogo flexível e sem concorrência permitia, mais uma vez, a relaxação e os gestos precisos.
Depois dum pequeno-almoço suculento fomos para o campo com as galochas e as capas contra a chuva miudinha. Fomos retirando as castanhas que germinavam num tambor furado enterrado na terra ao abrigo de roedores.
Fizemos plantações em garrafas de plástico reutilizadas como tubos de ensaio para aí colocarmos as sementes. Depois, os aceleradores dos garrafões onde foram plantadas estacas resultantes da poda das macieiras, nogueiras, etc.
Fazer os buracos, enfiar os aceleradores e meter os rebentos que germinavam já nos “tubos de ensaio”, retirando a garrafa de plástico, tudo isto exigia perícia e o sentido de cada gesto. Cobrir os lugares plantados com gravilha para aumentar a porosidade da terra e para que esta se mantenha quente no Inverno.
Depois, fomos trabalhar nos taludes. Transportar os ramos, colocá-los na parte superior do talude. Fixá-los com uma estaca espetada no solo, tudo isto leva o seu tempo. Perceber as relações entre as árvores e os arbustos fixados na crista do talude.
Perceber o ecotipo criado pelos ramos secos, protecção e nicho dos taludes, fixação de futuras plantas como os mirtilos e groselhas, é uma espantosa actividade rural na previsão da metamorfose das plantas.
Recolhemos o material na carroça e fizemos o circuito à volta da quinta onde encontramos as lagunagens e a casa de palha, feita segundo a técnica Nebraska. Dali ao local da permacultura foi um ápice.
Vimos o “multching” cobrir a terra. Semeamos “capucine” para que a terra ficasse enriquecida e livre de outras ervas indesejáveis para as culturas previstas.
Tudo isto foi uma iniciação à actividade rural.
E, numa horta ao lado, num campo experimental, fomos ver a plantação de árvores segundo a orientação radiestésica e onde também se usavam espirais de cobre como propôs Lakhovsky.
Estudava-se também a influência de cabos de alta tensão sobre as árvores aí plantadas.
Em casa, a Annick tocou-nos, no piano, uma pequena sonata.
E o Emmanuelle com vasos de metal e gonzos orientais, fazia ressoar sons estranhos. Era como se um eco longínquo vibrasse lenta e pausadamente sobre nós.
Depois do almoço ainda conversámos sobre auto-conhecimento e auto-desenvolvimento. O que é o conhecimento justo?
A explicação mecânica, a percepção sensorial, a aproximação sentimental, a abordagem social, a reflexão intelectual e o olhar ideológico são apenas abordagens fragmentárias do real. O olhar global destes pontos de vista pode permitir um conhecimento mais aprofundado mas que, certamente, ainda terá que ser inspirado, imaginativo e pleno de intuição para que as soluções provisórias possam ser contudo avanços no saber.
Na hora da partida, bebemos uma taça de chá de 3 anos e comemos uma tarte de maçã.
A tarde anunciava já uma neblina que descia e quando nos despedimos foi grande a emoção da despedida. A Escola de Vida marcara-nos para sempre.
Texto de Jacinto Rodrigues
Fotos de Amândio Silva e Emanuel Cardoso
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MOISDON LA RIVIERE - PATRICK BARONNET - 2006
Os documentários agora colocados no blog surgem da visita do Professor Jacinto Rodrigues a uma pequena eco-aldeia em Moisdon-la-Rivière, em França, cujo principal responsável é Patrick Baronnet, igualmente pioneiro do movimento das eco-aldeias em França. As eco-aldeias surgem como resultado da cada vez maior preocupação ambientalista por parte da sociedade e apoia-se essencialmente num desenvolvimento ecologicamente sustentado. Este tipo de experiências surgem-nos sob uma multiplicidade de projectos, de modelos de gestão e até mesmo de soluções eco-técnicas utilizadas e desenvolvidas. O aparecimento de uma eco-aldeia pode estar associado a um bairro pré-existente por exemplo ou até mesmo a um grupo de habitantes que decidem desenvolver um projecto de raiz. Este tipo de projectos vem uma vez mais provar que é possível existir desenvolvimento económico e social sem haver uma destruição massiva dos recursos existentes à nossa volta.
Patrick Barronet - Mont Saint Michel
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=g8FvIgElh-8
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=3V2SQXzQ1aw
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=rw5sJYeM0Gk
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=7ip0nGsY_bM
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=BhRHgB7QLTc
Patrick Barronet - Mont Saint Michel
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=g8FvIgElh-8
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=3V2SQXzQ1aw
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=rw5sJYeM0Gk
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=7ip0nGsY_bM
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=BhRHgB7QLTc
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ABRIL 2005
DIÁRIO DE BORDO - TIBÁ - BRASIL
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=D3NqpctHgZM
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=j8-tZ8OCFoQ
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=pXmvGIMXaHk
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=iHzKQBOVx4s
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=_Sk4d-mRj2I
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=8IlDw4PZPuA
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ccLUZxzNkCY
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A casa era modesta. Porém, era a maior da aldeia. Tinha ao meio um átrio que fazia de chaminé de luz e ar nos 3 pisos. Na abertura superior via-se ainda o céu através do toldo montado sobre o terraço que coava a luz intensa e que impedia a eventual entrada das parcas gotas de chuva pelo tecto aberto.
Alguns populares, durante uma iniciação à cestaria tradicional que fizemos num atelier dinamizado por um velho camponês-artesão, formularam questões económicas e sociais mais prementes da aldeia: água, irrigação, esgotos, reciclagem dos lixos orgânicos, etc.
Fez-se uma reflexão sobre o problema dos OGM (organismos geneticamente modificados) e suas consequências. Foi assim que tomamos conhecimento da Associação Kokopelli que se tornou numa iniciativa social contra os interesses financeiros das multinacionais que têm açambarcado o património de sementes e que substituem há mais de 40 anos as sementes tradicionais por variedades híbridas estéreis ou degenerativas. A Associação Kokopelli intervém no sentido do tratado sobre a biodiversidade e a segurança alimentar na defesa de “sementes livres cultivadas no respeito do ambiente” opondo-se assim ao modelo esteriotipado e estéril que nos querem impor.
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Makovecz - Loja Naturata em Uberlingen
http://www.blogger.com/video-thumbnail.g?contentId=undefined&zx=44dbax2dzxn7
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Os vídeos agora disponibilizados surgem da visita do Professor Jacinto Rodrigues à casa de Emmanuel Rolland. Este professor de física reside actualmente num antigo casarão rural que é também a actual sede da Associação “Pequenos Jardins de Alunos” na pequena aldeia - La Chapelle de l'If - no norte da Bretanha a alguns quilómetros da pequena cidade de Dinan. Emmanuel Rolland nasceu nesta mesma pequena aldeia, Chapelle de L'If, a 10km de Dinan, pequena cidade histórica da Bretanha, rodeado por este mundo rural fantástico, sendo ele próprio originário de famílias camponesas de longa data. Tornou-se professor primário, e posteriormente faria uma formação em biologia que o tornou especialista em agro-ecologia. Em 1993 ganhou um prémio por ter inventado um utensílio manual para trabalhar a terra com facilidade e eficácia. Cooperando com outro professor, Gaël Vires, desenvolve aquilo que seria apelidado de “talude pedagógico”.
Ficam aqui, agora, os restantes vídeos da visita do Professor Jacinto Rodrigues à casa de Emmanuel Rolland. De relembrar que Emmanuel, professor primário de profissão reside actualmente num antigo casarão rural que é também a actual sede da Associação “Pequenos Jardins de Alunos” na pequena aldeia - La Chapelle de l'If -, onde desenvolve inúmeros projectos experimentais no âmbito da agricultura e da ecologia.
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ABRIL 2005
DIÁRIO DE BORDO - TIBÁ - BRASIL
Johan van Lengen, O Arquitecto Descalço
Tibá – Centro de Tecnologia Intuitiva e
Bio-Arquitectura
Brasil
Parti da estação de autocarros do Rio de Janeiro, Autoviação
1001, cerca das 8h30m.
A viagem até à pequena cidade de
Bom Jardim demora cerca de 3h. O percurso permite ver metamorfoses na paisagem
e sentir uma ligeira mudança climática à medida que subimos a montanha .
A “mata atlântica” torna-se mais exuberante e uma brisa mais
fresca amenizou este dia quente de Fevereiro.
O autocarro parou na praceta da cidadezinha de Bom Jardim.
Três quilómetros separam ainda a cidade da fazenda onde se encontra o TIBÁ –
Centro de Tecnologia Intuitiva e Bio-Arquitectura, fundado pelo arquitecto
Johan van Lengen.
Tibá, na língua dos índios Tupi, quer dizer lugar onde
muitas pessoas se encontram.
Johan van Lengen e o
filho, Marc, estavam à minha espera. Num velho wolkswagen iniciamos a ascensão
por uma estrada batida até à fazenda. A estrada está cheia de socalcos e com
poças de água. A enxurrada das chuvas danificou ainda mais o estradão precário
da mata.
O carro ia roncando com as dificuldades do acesso, à medida que
subíamos até ao morro onde se aninha a
fazenda Tibá.
A fazenda distende-se por entre matagais. O casario está num
sítio recôndito desta quase selva.
São casas dispersas que pertenceram a uma antiga fazenda com
o “engenho” de fazer “rapadura” de açúcar. Em tempos teve alguma pecuária.
Ainda por lá existem destroços de uma velha casa e uma represa onde instalaram,
por volta dos anos 40, um rodízio hidroeléctrico.
Quando Johan van Lengen comprou a fazenda, em 1987, ainda não
havia a floresta exuberante que agora existe, depois das novas árvores
plantadas. Em 17 anos formou-se um matagal, estabelecendo-se assim, a antiga
forma da portentosa floresta atlântica.
Nesse ano de 1982, Johan teve a intuição de que aquele sítio
seria o lugar próprio para o centro que tanto sonhara: “Foi um clic, uma
chamada vinda não sei donde, que me levou a escolher aquele lugar.”
Um centro onde fosse possível formar uma cultura ecológica
orientada em especial para a arquitectura e urbanismo sustentável. Mas seria um
centro aberto à multidisciplinaridade,
concebendo o desenvolvimento social numa interligação simultânea com o
autodesenvolvimento.
Desde longa data que Johan começara a desenvolver uma
investigação sobre novas metodologias de educação tendo como base a razão e a intuição,
a arte e ciência. Durante os últimos anos van Lengen abordara essas questões da
nova pedagogia tendo como base a articulação sistémica entre o hemisfério
esquerdo e o hemisfério direito.
O trabalho com psicólogos abrira-lhe novas perspectivas sobre
o que denomina de inter-relação entre o
estado Alfa e Beta, ou seja o aproveitamento das duas funções diferenciadas dos
hemisférios cerebrais, através duma actuação que favoreça a integração das
potencialidades globais do cérebro.
Esta metodologia tem muito a ver com as mais recentes
investigações da pedagogia e da neurociência, como as efectivadas, nomeadamente
por Michel Fustier,[1]
Dominique Chalvin[2]
e António Damásio[3].
A vivência, e não apenas a erudição académica de Johan van
Lengen, foram o ponto de partida para a criação dessa metodologia. É essa
vivência, feita de aparentes contradições, de multiplicidade de culturas e
línguas, que lhe forneceu a base dessa utensilagem pedagógica.
Nascido em Amesterdão em 1930, conheceu na infância e
adolescência o drama da 2ª Guerra Mundial. A ocupação nazi e as dificuldades
sociais da guerra preencheram as recordações do seu diário.
Os cadernos que conserva desses anos de meninice revelam já
uma sensibilidade excepcional para o desenho.
Graças a um resistente anti-nazi aprendeu judo, desde a
adolescência, tornando-se um especialista. Começou a dar aulas de artes
marciais muito cedo. Essa formação no judo não foi uma mera aprendizagem técnica.
Foi uma arte que lhe permitiu desenvolver um controlo corporal liberto
de medos e angústias.
Procurando viver o presente, o agora, abriu-se à
filosofia Zen com a leitura de Eugéne Herrigel[4] e, tal
como Trevor Leggett[5],
conquistador de altas graduações no judo, aprendeu que “o pintor só saberá
desenhar um corvo empoleirado num bambu, quando conseguir, à força de os
observar e interiorizar, tornar-se ele próprio o corvo e o bambu agitado pelo
vento, face ao vazio. Por isso, aprender a observar faz com que, com algumas
pinceladas e num só movimento, a arte surja.”
É esta filosofia do estar presente no agora, que lhe
permite o despertar.
A Holanda tornara-se um espaço exíguo para o seu imaginário
aberto.
Nos princípios dos anos 50 foi
para o Equador. Viveu atribuladas aventuras na floresta onde contraiu a
icterícia. Restabelecido, graças a uma dieta de bananas, conseguiu um lugar no
escritório do arquitecto Guillermo Cubillo, onde recebeu as primeiras noções de
projecto. Interessa-se em especial pela construção, tendo acompanhado as
actividades nos estaleiros, adquirindo uma sólida formação técnica.
Naqueles anos, a orientação da
arquitectura do pós-guerra pautava-se por uma estética moderna.
Corbusier divulgava as novas regras da arquitectura.
Johan van Lengen parte para o Canadá para estudar na
Universidade de Arquitectura de Toronto. Faz o curso com facilidade pois já
tinha uma bagagem técnica apreciável, adquirida no trabalho que fez nos
estaleiros e com o arquitecto Cubillo.
Do Canadá viaja para os Estados Unidos da América onde
finaliza o diploma numa Universidade do Oregon, marcada pela escola da Bauhaus
na versão americana de Gropius e Mies Van der Rohe.
Na arte era um apaixonado pela pintura abstracta de Mondrian.
Ainda como aluno na universidade, traduzira do holandês uma obra desse pintor
apresentando-a como um contributo para as provas do curso de arquitectura.
Nesse período do início dos anos 60, as preocupações da
arquitectura tecno-funcionalista dominam os seus projectos.
Assim, em 1962 e 1963 trabalha na edificação de hospitais na
Califórnia, preocupando-se especialmente com a ergonomia e a boa funcionalidade
dos espaços. Isso reforça a sua formação racionalista que se consolidara com o
interesse pelos trabalhos de Cristopher Alexander, que desde 1965, em Berkeley,
desenvolvia as relações entre a matemática e as construções arquitectónicas.
Os trabalhos de Cristopher Alexander prosseguiam as
preocupações que Wittgenstein manifestara já nos anos 20.
Johan van Lengen vai trabalhar em cooperação com o matemático
na empresa de Arthur D. Little. Investiga também a utilização da informática na
arquitectura e no urbanismo.
Estabelece “matrizes” que permitem uma racionalização de
vectores nas opções técnico-construtivas. Procura estabelecer diagramas de
afinidades com o fim de projectar com maior funcionalidade.
Entretanto vai desenvolver na prática arquitectónica uma
série de projectos e trabalhos que vão de supermercados ao planeamento de
centros urbanos, universidades e conjuntos habitacionais nos E.U.A.
Um outra etapa está prestes a surgir. Em S. Francisco conhece
artistas, psicólogos e homens de letras com perspectivas de inovação. Conhece
Jacques Overhoff, também ele holandês residente nos E.U.A. e que faz
experiências na escultura, mobilizando cidadãos para uma nova estética na
cidade.
Em 1962 casa com Rose, uma pintora brasileira que conhecera
no Rio de Janeiro. A pintura de Rose é uma pintura onírica e cujo lirismo
reflecte muito a paisagem da América Latina e sobretudo a exuberância colorida
do México, onde depois residem.
Nesses anos apaixona-se pela arquitectura brasileira,
nomeadamente pelos trabalhos de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, que espelham uma
maior sensibilidade plástica mesmo se ainda posicionados no movimento moderno.
As relações com o Brasil estabelecem-se cada vez mais
frequentemente com as múltiplas viagens que realiza com Rose. Os problemas da
arte, da pintura, e do desenho tornam-se também uma motivação pessoal na sua
própria actividade criativa.
Johan faz inúmeros desenhos e esculturas.
Além dessas actividades artísticas interessa-se pelas
questões antropológicas. Chegou mesmo a frequentar um mestrado de antropologia
na Universidade de Campinas, no Brasil, numa das suas estadias, que vai fazer
cada vez mais frequentemente, entre Califórnia, México e Brasil.
No Rio de Janeiro, trabalha no escritório do arquitecto de
reconhecida qualidade, Sérgio Bernardes, nomeadamente no planeamento da
Universidade Católica de Curitiba. Esta sensibilidade moderna, lúdica e
criativa da arquitectura brasileira permite--lhe articular a anterior formação
técnica e construtiva com a nova abertura estética, mais plástica, da
arquitectura brasileira.
Johan recorda o lado “bon vivant” de Sergio Bernardes e a
postura sensível com que olha e trabalha com a arquitectura. Explica como
diante dos organigramas informativos, o arquitecto Sérgio Bernardes imprimia
traços a lápis de cor sobre o papel manteiga com que sobrepunha a planta
topográfica devidamente sinalizada com os dados objectivos. Os traços coloridos
do desenho sobreposto eram propostas com vida. E assim a arquitectura de
Sérgio Bernardes ganhava uma outra dimensão artística sem deixar de manter uma
informação quantitativa.
Johan conta assim como colaborou e aprendeu com este
arquitecto brasileiro.
Por outro lado, as questões sociais vão-se impondo
constantemente. E assim, uma maior flexibilidade intervém nos seus próprios
projectos.
A nova aprendizagem da arquitectura e a nova experiência
social vão-se consolidar numa espécie de segunda vida profissional que se impõe
progressivamente.
Em 1977, quando se torna conselheiro da ONU para as questões
do habitat e do urbanismo, os problemas da forma na arquitectura vão sofrer uma
reviravolta substancial. Essa sua actividade como conselheiro exerce-se
primeiramente no México.
A primeira fase profissional que tinha sido marcada pelo
tecno-funcionalismo e o racionalismo da arquitectura moderna, centrava-se
essencialmente na informação quantitativa. Nesta segunda etapa, estas
referências fornecem dados para uma maior implicação artística no projecto.
Acentua-se assim a influência da expressão artística da sua mulher, a cultura
popular mexicana e a dos índios da Amazónia, que constituem os novos referentes
para a problemática da sua arquitectura, cada vez mais marcada pelas
preocupações ecológicas.
Um novo paradigma histórico emergente vai produzir as
metamorfoses nas ideias, na tecnologia e na cultura de Johan van Lengen.
Ao instalar-se em Tepoztlan, a alguns quilómetros de Cuernavaca
onde vivia o filósofo Ivan Illich que conheceu pessoalmente e de quem admirava
a sua obra, nova reformulação se produziu nas suas concepções sobre energia e
sobre desenvolvimento social. Acentuam-se as suas críticas ao paradigma
dominante, abandonando as posturas eurocentricas, põe em causa o progresso
linear e vai assumindo valores da interculturalidade e transculturalidade, sem
pretensões de superioridades exclusivas. O convívio com a diferença abre-lhe
novos horizontes.
Entretanto, aprofunda também o Budismo Zen, no contacto com
os monges budistas que visita em Honolulu. E, quando vive na Califórnia,
desloca-se a Oregon para visitar a comunidade do célebre guru indiano Bhagwan
Shree Rasneesh, e é convidado a projectar algumas construções para o “rancho”
onde vivem os principais membros desse grupo.
Ao visitar esta utopia que desponta no deserto, recorda a
qualidade de alguns terapeutas que aí trabalhavam. Porém, rapidamente se dá
conta dos impasses e desvirtuações desse grupo. Ficará contudo marcado pelas
práticas meditativas e terapêuticas da escola de Bhagwan.
Viaja várias vezes ao oriente colaborando em congressos de
arquitectura sustentável. Participa, num congresso de Nova Deli sobre questões
sísmicas. Expõe algumas soluções para prevenir os estragos provocados pelos
tremores de terra. Propõe a montagem dum pórtico de betão armado que consolide
os edifícios e estabeleça simultaneamente um refúgio sólido para recolhimento
das pessoas durante os sismos, que deveriam ser previamente assinalados graças
a um sistema sonoro, sensível às primeiras manifestações sísmicas.
Este pórtico-refúgio deveria, segundo Johan van Lengen, ser
obrigatoriamente exigido nas construções públicas nos países susceptíveis de
tremores de terra.
Como Johan nos contou, estas suas viagens ao Oriente constituíam
não apenas uma colaboração profissional mas resultavam também duma profunda
atracção pela cultura espiritual do Oriente, em particular pelo budismo. Em
algumas dessas conversas sobre as suas viagens ao Oriente, Johan relatou-me,
comovido, as suas impressões numa das visitas à Índia: o sorriso de paz duma
mulher pedinte, que encontrou em
Benares, naquele estranho dia em que perpassava uma atmosfera de comunhão
espiritual entre as pessoas. Morrera Indira Gandhi. Após a tragédia dos
primeiros momentos, a multidão enfurecida, agitou-se tumultuosamente,
procurando vingança. Mas a mulher do sorriso misterioso, a pobre pedinte de
Madurai, continuava presente no seu espírito como uma espécie de êxtase que o
deixara na maior perplexidade.
No meio da confusão, no quase motim que agora se avolumava,
ofereceram-lhe um farrapo de pano preto com o qual pôde manifestar a
solidariedade pelo luto da Índia. E assim, Johan o ocidental, perdido na turba
pôde salvar-se da fúria da multidão perturbada por aquele trágico acontecimento
no sul da Índia.
Essas viagens ao Oriente levaram-no a santuários onde visitou
Ashrams e lugares santos.
De volta ao México, onde continuava a trabalhar como
conselheiro dum programa do Governo da Holanda conheceu também um arquitecto e
artista genial, o jesuíta Cláudio Favier Orendain. Era um arquitecto misterioso
que estudara profundamente as antigas construções pré-colombianas e procurava
ajudar as populações a prosseguirem com as tradicionais técnicas do adobe. Os
rurais das aldeias de Tlayacalpan só ficaram verdadeiramente convencidos do
valor das construções de adobe e da sua criação identitária quando viram que o
europeu as adoptara. Cláudio Favier construíra a sua própria casa de adobe com
formas próprias daquela região.
Este facto foi, para Johan, uma verdadeira lição
antropológica pois só o reconhecimento por estranhos à cultura autóctone e
local, permite a auto-estima necessária pelo interesse desse património. Depois
deste gesto assumido por um estrangeiro, a população autóctone percebeu o valor
da sua própria cultura, que até ali desprezava por viver na ilusão de valores
que se instalaram contra os seus próprios interesses.
Johan van Lengen explicou-me porque é que também ele optara,
na reconstrução do Tibá, pela reutilização das estruturas pertencentes ao
engenho da rapadura de cana de açúcar. Empregara, nessa reconstrução,
ecotecnologias simples que pudessem fazer do edifício uma experiência
demonstrativa.
Assim, o Tibá não rejeita as tradições construtivas quando
bem feitas e exprime, na sua própria edificação, as tecnologias que aí se
pretendem ensinar.
Volto ao atelier de construção. Johan explica-me as
tecnologias simples que referirei mais adiante. Depois do almoço que a Lúcia
preparou, descansa-se a sesta. A seguir continuo a minha entrevista.
Johan van Lengen conta, face às minhas perguntas, a génese da
filosofia do Tibá. Recorda John Turner e o trabalho de auto-construção que este
arquitecto fez junto dos bairros pobres da América Latina.
Recorda-me essa ideia base de Turner[6] em que a
auto-construção e a gestão devem ser a obra dos próprios utentes e não o
resultado duma administração burocrática que tende a tornar a construção menos
participada e mais cara.
Mas é sobre o arquitecto Álvaro Ortega[7] que
Johan van Lengen mostra maior admiração e gratidão.
Ele conheceu este arquitecto colombiano de quem tem
recordações inesquecíveis.
Contou-me histórias cheias de humor sobre este famoso
arquitecto. Certo dia, no aeroporto de Nova Iorque, a polícia perguntou-lhe a
nacionalidade. Ele respondeu: Sou americano. O polícia protestou olhando o seu
passaporte: Você não é americano. É colombiano, disse-lhe meio colérico. Mas a
Colômbia é América, respondeu-lhe Ortega e calmamente, este arquitecto de
origem índia pré-colombiana, diz-lhe ainda: Vocês, ditos americanos, são apenas
“Vespucianos” pois só chegaram depois de Américo Vespúcio.
E mostrou-me o livro de Ortega editado pela McGill
University.
Alvaro Ortega também trabalhou nas Nações Unidas com a F.A.O.
e a C.E.P.A.L.
Deu grande importância às tecnologias apropriáveis e aos
métodos de construção ecológica.
Foi um investigador e inventor incansável, estabelecendo
nesta busca criativa, soluções económicas ao alcance das pessoas menos
favorecidas tendo sempre como perspectiva a criação de habitações belas,
confortáveis e duradouras.
As suas investigações sobre tectos auto-portantes foram
determinantes para as propostas dos “cascaje” de Johan van Lengen. Ortega
compreendera que os telhados custam normalmente cerca de 30% do valor de uma
casa. Assim, as “canaletas” de Alvaro Ortega, tal como as “cascajes” de Johan,
constituem processos de construção de telhados simples mas seguros.
Tal como van Lengen, Ortega dava grande importância aos
“inventores populares” que, na sua linguagem de humor, chamava de “cabezazos”,
explicitando assim a “iluminação imaginativa” do povo, capaz de agilizar
procedimentos cheios de eficácia e beleza.
Alvaro Ortega criou também um Centro em Cartagena, na
Colômbia. Aí procedeu a inúmeras investigações tecnológicas que vão desde a
reutilização de escórias de cinza vulcânica, enxofre, bambu até às complexas
formas de electrodeposição a partir de um sistema electrolítico em que o cátodo
e o ânodo produzem uma célula galvânica graças a uma malha metálica que acumula
cálcio e hidróxido de magnésio dissolvidos na água do mar. Assim, através de um
processo de “coralização”, criam-se estruturas de “betão marinho” utilizáveis
para barcos ou outras estruturas.
Álvaro Ortega estudara em França e no Canadá sendo professor
em várias universidades. Porém, optara pelas missões das Nações Unidas
trabalhando no domínio da ecologia e do habitat promovendo, nomeadamente, a
energia solar no eco-urbanismo.
Utilizando os “cascajes” Johan foi ampliando a ala poente
para os ateliers de construção civil e os sanitários secos – os “basons”- que
são propostos como tecnologia apropriada para as populações, constituem também
as sanitas existentes no Tibá. Os tectos verdes que se ensinam a fazer são
também generalizados na própria escola Tibá. E com os bambus que bamboleiam ao
vento no interior da fazenda, construíram-se pontes e outras estruturas.
Pouco a pouco estas construções do próprio Tibá vão-se
desenvolvendo como um processo demonstrativo e exemplar daquilo que aí se
ensina.
A horta biológica que alimenta a cantina, revela o tipo de
agricultura biológica e aponta para uma alimentação saudável. O processo dessa
agricultura é baseado nas experiências do professor brasileiro de agronomia,
Víctor del Mazo, que estabeleceu uma metodologia[8]
(mazu-humus) que consiste na utilização de minhocas californianas (eisenia
foctida) que, revolvendo o estrume colocado em pequenos reservatórios, vão
produzindo um fertilizante natural muito eficaz.
Uma rápida visita pelo casario pôs-me em contacto com as
várias estruturas da casa: a biblioteca, a sala de meditação, os ateliers e a
cozinha com o alpendre caramachão onde se fazem as refeições.
A Pousada propriamente dita tem uma capacidade para 22
hóspedes com quartos duplos ou triplos. A biblioteca possui uma lareira e o
grande salão permite a realização de diversas actividades: teatro, trabalho
corporal, meditação, artes plásticas, etc.
Jantamos. A noite caía trazendo uma escuridão imensa da
floresta, com os barulhos dos insectos e o coaxar das rãs.
Mas foi a madrugada que me deslumbraria ainda mais. O céu
aclarava-se aos poucos, as aves pipiavam de contentamento e o farfalhar das
folhas das árvores produziam ruídos mágicos na mata. Uma luz magnífica surgia
com o sol que se levantava lentamente. Os pássaros esvoaçavam e o vento fazia
balançar os bambus enormes.
Um fio de água cai sobre uma fonte onde emerge a escultura de
um crocodilo. A água corria do riacho e das fontes trazendo um mermulhar
musical compassado pelo ritmo dum balancé feito de bambu que, à moda japonesa,
vai monótona e pousadamente impor um tempo de infinitude naquele misterioso
matagal. Trata-se de um dente de tigre, elemento típico dos jardins asiáticos.
Entretanto o sino chama-nos para a grande sala. Começamos
então por uma sessão de Do-In.
Este exercício de auto-massagem japonesa constitui uma
contribuição fundamental para os exercícios alfa que Johan van Lengen nos vai
propor nas sessões seguintes.
Ele realiza estes exercícios em todos os seminários pois esta
actividade, segundo nos explicou, ajuda a despertar.
Depois da fruta e do café, fomos dar um passeio pela mata.
É então o momento de olhar as flores, de sentir os perfumes,
de ver e apalpar os troncos das árvores frondosas.
Toda esta educação da consciência sensorial[9] lembra a metodologia de Charlotte Selver que
abriu o trabalho corporal para uma sabedoria Zen, expressão duma relação
orgânica integrada entre o homem e a natureza.
A biblioteca está já aberta e vou consultando alguns livros.
Forrando as paredes estão os quadros mágicos de Rose van Lengen. E sobre as
estantes vêem-se múltiplas máscaras mexicanas e alguns bonecos dos índios da
América Latina.
A cozinha está aberta pois aí existe sempre fruta à
disposição, mamão, papaia, abacate, maracujá, ananás, goiaba, etc.
À noite corria uma aragem fria. Acendeu-se então a lareira e
Johan prosseguia a sua conversa retomando variadíssimos temas. Referiu a
importância do Feng-Shui pelo aspecto poético que produz ao encarar uma nova
maneira de ver e fazer arquitectura. Refere o livro de Lu-Wang[10].
Mostra-me vários desenhos e prossegue a sua explicação:
“O Feng-Shui permite uma espécie de intuição qualitativa no
projecto. Mas nem por isso nos faz perder a consciência de alguns parâmetros
invariáveis na arquitectura e no urbanismo. A arquitectura procura criar
livremente. Mas para o fazer duma forma consciente tem que partir de limites
construtivos e necessita de estabelecer uma sequência que revela a epopeia
encantatória da vida dos homens.
É isto que refere a sequência de Ki (origem), Shen
(percurso), Djuan (clímax da surpresa), He (desfecho).
Também o necessário enquadramento que impõe o Feng-Shui, leva
em consideração elementos físicos como o vento, o sol, a água, a madeira e
ainda factores psico-sociológicos como a segurança e a afectividade.
É necessário referir ainda factores subtis que só agora a
geobiologia parece estar interessada em estudar cientificamente. É o caso dos
estudos da rede Hartmann e Curie que o
Feng-Shui pressentia intuitivamente e que também os antigos construtores no
Ocidente levavam em conta na arte da construção da arquitectura sagrada”.
Na manhã seguinte continuamos com os exercícios Do-In.
Para que pudéssemos memorizar facilmente os exercícios, Johan
imprimiu, nalgumas camisolas do Tibá, as sequências principais dessas massagens
japonesas. Assim, cada pessoa pode encontrar na camisola do companheiro
participante o desenho das posturas que explicitam as referidas massagens na
cabeça, tronco, braços, ventre, pernas e pés.
Nas conversas seguintes Johan desenvolveu o processo
pedagógico resultante da sua experiência de vida e daquilo que ele chamou “The
Dance of Design” ou seja, a arquitectura como intuição.
Esta metodologia, que já referimos, tem a ver com o trabalho
profissional que exerceu ao longo de vários anos mas a que acrescenta uma
pesquisa iniciada por Cristopher Alexander e que ele próprio desenvolveu com a
ajuda de um matemático. A esta parte do seu trabalho chama de experiência em
Beta. Trata-se de uma actividade
necessária à investigação informativa e permite a segurança imprescindível para
a etapa Alfa. Para esta etapa é imprescindível o período anterior pois a lógica
investigativa estabelece nexos e informações que sistematizam metodologias e
técnicas imprescindíveis no design, na arquitectura e no urbanismo.
O trabalho de Johan van Lengen baseia-se assim nos estudos
recentes da neurociência. Os dois hemisférios cerebrais estão conectados por um
grosso cabo de inúmeras fibras nervosas. Este dispositivo mediador faz a
conexão entre cada um dos dois hemisférios diferenciados pelas suas funções:
a)
O hemisfério esquerdo contempla os aspectos
analíticos, privilegia a linguagem lógico-digital e expressa-se dum modo
quantitativo e verbal. As ondas Beta hegemonizam essa zona cerebral;
b)
O hemisfério direito contempla os aspectos
globais, privilegia a intuição e a linguagem analógica e expressa-se dum modo
qualitativo e gestual. As ondas Alfa hegemonizam essa zona cerebral;
Os estímulos do hemisfério esquerdo trazem sobretudo
informações do exterior. Os estímulos do hemisfério direito expressam sobretudo
motivações interiores, como os desejos, imagens e sonhos.
O curso de Johan van Lengen, a que ele deu o nome de
Beta-Alfa é a organização duma metodologia pedagógica minuciosamente estudada
através dum conjunto de exercícios que fortalecem ambos os hemisférios
permitindo, simultaneamente a interacção sistémica dos mesmos. Trata-se de “Alfa+Betizar”
harmonicamente as funções quotidianas a que o nosso cérebro está sujeito.
No momento histórico que vivemos e sobretudo nas sociedades
industriais e de consumo hegemonicamente, as exigências do hemisfério esquerdo
do cérebro prevalecem. Todo o esquema educacional dominante subalterniza o lado
direito do
cérebro. A metodologia de van Lengen pretende valorizar este
lado “pobre” do cérebro sem abandonar a racionalidade do outro hemisfério.
Assim, os exercícios pretendem trabalhar em simultâneo com
actividades da razão e da emoção:
- Num primeiro momento os alunos aprendem a analisar zonas territoriais e planos de cidades de maneira a referenciarem pontos determinantes no espaço e estabelecerem a listagem dos dispositivos mais importantes. Esta recolha de informações permite estabelecer a hierarquização dos elementos e, graças a uma matriz ou malha modular tridimensional, registam-se os factores que apresentam resistência e impedimentos às transformações e outros factores que apresentam potencialidade para a mudança no território. Este diagrama traduz as funções do programa, as afinidades dos dispositivos e os melhores fluxos para desencadear a proposta de mudança.
Como van Lengen resume no seu livro,[11] o
trabalho “Beta” consiste na formatação matemática do programa usando três
passos para a conversão de exigências qualitativas na formulação quantitativa:
“as informações do território
transformaram-se numa malha de coordenadas e dimensões modulares; as áreas das
zonas de actividade transformaram-se em dimensões modulares idênticas às do
módulo territorial e ordenadas segundo uma listagem no espaço; os módulos da
listagem no espaço vão-se interligar segundo uma matriz de afinidades.
- Num segundo momento, van Lengen vai criar exercícios que propiciam o desenvolvimento de ondas Alfa, condição base para a criatividade artística. Esses exercícios são feitos em grupo e têm fundamentalmente a ver com a expressão corporal e exercícios respiratórios. Esses exercícios permitem o aparecimento de estímulos criativos que farão surgir o elemento imprescindível da natureza do projecto: a relação sistémica entre o nível das informações lógicas e objectivas retiradas do real existente, para o salto que há-de permitir a síntese criativa e global do projecto. Esse projecto é proposta futurante que exige mudança. Mas essa mudança tem que se enraizar no concreto real sem deixar de ser uma utopia realizável do “devir”.
Vamos apenas listar aqui alguns dos
principais exercícios que caracterizam esta fase do trabalho sobre as ondas
alfa: exercícios de relaxação, exercícios de vibração de todo o corpo,
exercícios de respiração, exercícios de visualização e viagem na paisagem,
exercícios de vocalização e ainda exercícios com movimentos dos olhos.
A meio da tarde, quando o sol iluminava a floresta, descemos
até uma pequena cascata, dentro da fazenda. Três tubos de bambu que faziam de
chuveiros tubulares improvisados, canalizavam a corrente de água. Essa água,
límpida, caindo em catadupas fortes, massajava-nos o corpo... Parecia um banho
de energia proveniente do impacto voluptuoso da água cristalina iluminada pelos
raios de sol que desciam na clareira da mata.
Uma noite, para explicitar ainda o trabalho em “Alfa”, Johan
retomou a questão das sensações, do trabalho meditativo que fizera com os
monges Zen e nos vários “Ashram”.
Falou ainda na necessidade de filosofar com histórias-ensino.
Por isso o seu interesse pelas histórias soufis que aprendera no contacto com
Cláudio Naranjo e nas leituras de Gurdjieff.
Falou desse personagem excepcional do cinema francês, Jacques
Tati, que realizou filmes inolvidáveis como “Mon Oncle” e “Les vacances de Mr.
Hulot”. Conheceu Jacques Tati e deu-se conta do sentido da sua obra que era o
de fazer “despertar” o homem adormecido que está em nós ou o homem máquina que
constantemente pretende impor-se à criatividade .
Em memória de Jacques Tati, a praça de encontro no Centro
Tibá tem o nome de Praça Hulot.
Do ponto de vista profissional, referiu o momento que
considerou decisivo para a sua mudança na maneira de conceber a arquitectura.
Contou a “revelação” que sentira ao visitar a povoação brasileira de Alagados.
Chegara um dia, para
ajudar a planear casas para a população. Deparou, maravilhado, com a capacidade
criativa da gente dessa aldeia.
Eram artistas e artífices extraordinários. A construção das
palafitas eram peças de grande arquitectura. Descobriu, encantado, que muitas
dessas construções de arquitectos pé descalço, resultavam de acções de
solidariedade entre os aldeões e sempre numa situação de festa. Percebeu então
que essas festas populares criavam um entusiasmo e libertavam forças essenciais
que se plasmavam numa maravilhosa arquitectura sem arquitectos.
Foi nesse momento que compreendeu que a arquitectura poderia
ser o resultado duma criatividade popular e que os conhecimentos técnicos eram
aspectos secundários que se poderiam resolver por uma distribuição alargada de
utensílios e ferramentas a através de práticas simples, facilmente apropriáveis
por qualquer pessoa.
No contacto com os índios da Amazónia viu também como eles
construíam as célebres cabanas Maloca num acto festivo da comunidade. Essas
cabanas não deixam de ter um grande rigor construtivo e geométrico. As técnicas
resultam duma experiência de gerações de artesãos singulares e autóctones que
possui uma sensibilidade sobre uma imagem universal da casa-arquétipo.
Assim, nas malocas dos índios Uitoto, existe um nome
antropomórfico para cada uma das suas partes: a cara, o peito, os dedos, o
joelho, as pernas e os pés, as costas, a nuca, etc. são partes bem definidas do
edifício.
Johan mostra-nos um desenho dessa maloca (casa grande para
muitas famílias) que deseja construir no Tibá para exemplificar uma construção
em que coexiste sensibilidade e lógica, razão e intuição, ou seja, a demonstração
duma arquitectura singular e simultaneamente universal.
Na zona dos Alagados onde as populações constroem palafitas,
casas de madeira muito frágeis sobre estacas, na Baía dos Cabritos, a norte de
Salvador, van Lengen descobriu
também que a população possuía um grande sentido da
arquitectura. Apenas a miséria e a pobreza impediam um melhor conforto. Porém,
mau grado essa miséria, o grau de artisticidade e a habilidade técnica
permitiam verdadeiros prodígios no difícil e precário equilíbrio daquelas
palafitas.
Van Lengen teve então o sentimento de que nada podia trazer,
como achega construtiva, a quem já guardava intacto um grande sentido de
arquitectura.
Faltavam apenas aquela população condições sociais. Como
Conselheiro da ONU para as questões da melhoria do habitat, van Lengen apenas
poderia fornecer ferramentas.
Esta ruptura no olhar sobre a arquitectura e sobre a cultura
viera-lhe da vivência intercultural. Era a compreensão profunda daquilo que
Levy Strauss introduzira na antropologia: não há culturas superiores a outras,
há apenas culturas diferentes.
Também a condição pós-moderna em que agora se movia,
mostrava-lhe que o progresso linear das civilizações e as grandes narrativas do
pensamento racionalista ocidental, eram puras ficções duma época.
O seu trabalho como Conselheiro tornara-se agora uma tarefa
mais humilde e sem pretensões a verdades impositivas.
Colocara-se definitivamente ao serviço das populações mais
carenciadas e por isso divulgava tecnologias simples e apropriáveis pelas
populações.
Desta atitude decorrem inúmeros trabalhos de pedagogia
social: organiza pequenos jogos didácticos (tipo jogo da glória) em que
crianças e adultos aprendem, de forma lúdica, a construir casas, a cuidar da
saúde, etc.
Através de cartazes explicitam-se problemas construtivos e
suas soluções ecotecnológicas.
A sua actividade nesta divulgação pedagógica leva-o a fazer
uma proposta de realização de um filme para o ensino de tecnologias
apropriáveis. O filme ainda não foi realizado mas a proposta ganhou um prémio[12]. Este
filme teria o nome de “Jour de Fête” em homenagem, mais uma vez, ao realizador
Jacques Tati e representaria de uma forma humorística em 16 cenas os processos
simples de auto-construção realizada por um grupo de jovens.
Todas estas actividades culminaram na edição de um livro[13] ”Manual
do Arquitecto Descalço” que já havia sido anteriormente editado, no México, em
língua castelhana.
Prepara-se neste momento uma edição em inglês.
Toda esta actividade editorial foi um percurso no sentido de
levar a cabo uma formação ecotecnológica, essencial para a arquitectura.
Nestes vários anos de trabalho como arquitecto, como
consultor da ONU e como professor interveio em inúmeros seminários tanto em
países do terceiro mundo como em universidades e centros culturais da Europa e
dos Estados Unidos da América.
No livro “Manual do Arquitecto Descalço” tecem-se
considerações, duma forma extremamente simples, sobre os princípios
fundamentais dum projecto.
Levam-se em consideração os contextos climáticos, as formas
topológicas, os materiais e estabelecem-se soluções várias sobre energia, água
e saneamento. Em todos estes pontos são fornecidas informações técnicas sobre
os alicerces, as paredes, os telhados, paredes, portas, janelas, etc.
Este livro é profusamente
ilustrado com desenhos do autor que o tornam um instrumento didáctico
extremamente eficaz.
É ainda de referir o conjunto de
fichas que escreveu e a que deu o nome de “Clarissa, a nossa arquitecta
descalça”. Trata-se de resumos dos vários “work-shops” realizados no Tibá e
noutros locais. Estes “aide-mémoire” traduzem em imagens e diálogos simples as
propostas de ensino ecotécnico no Tibá.
São formas didácticas de se
explicitarem soluções para os problemas básicos que vivem as populações mais
carenciadas.
Mas nada poderá substituir os
“work-shops”. Nestes “work-shops”, realizados sobretudo no Tibá desde a sua
fundação em 1987, a actividade pedagógica faz-se através duma prática real e ao
mesmo tempo aproveitando a força social e criativa do trabalho de grupo.
Nestas actividades pedagógicas
existe, para além da formação técnica, uma revelação sobre a estratégia sensível duma nova
concepção ecológica do mundo.
Por detrás das propostas
pragmáticas ecotecnológicas, exprimem-se novos valores sócio-culturais.
Resumiremos apenas alguns temas
que constituem o objecto dos principais “work-shops”:
1.
Cascaje
Com este nome,
atribuído aos tectos feitos com painéis abobadados, pretende-se dar resposta à
construção de grandes telhas, com cerca de 50cm de largura e 4m de comprimento.
São pré-fabricados graças a um sistema parecido com o do ferro-cimento. Porém,
os cage-cage, utilizados como tectos ou como lages, são estruturados a partir
de uma rede não metálica (pode ser fibra de sisal ou sintética, proveniente de
embalagens) e têm uma grossura de pouco mais de 1 a 3cm de espessura. Estes
tectos pré-fabricados são extremamente sólidos quando feitos com uma argamassa
rica em cimento, podendo suportar um andar ou um telhado verde.
2. Telhados
Verdes
No sentido de
se obter uma maior inércia térmica no edifício, os telhados feitos através dos
referidos cage-cage ou outros sistemas, são preparados de maneira a poderem
receber uma camada de terra onde é plantada vegetação: ervas aromáticas,
medicinais, etc. Assim, estes telhados verdes permitem também, para além da sua
função bioclimática, a filtragem das águas pluviais e o seu aproveitamento.
3. Filtro
Biológico
Através de
caixas com areia e brita, estabelecem-se tubagens de entrada e saída da água
que é aí filtrada.
4. Bason
Atribui-se
este nome ao sanitário seco que pode também receber detritos orgânicos
domésticos, possibilitando assim a produção de adubo, através dum processo
biológico de compostagem aeróbica.
5. Construção
de paredes
Com este
work-shop podem-se realizar várias tecnologias construtivas como por exemplo o
adobe, o uso da palha e até o uso de marcreto, ou seja a coralização de
estruturas de redes metálicas graças ao processo de electrólise nas águas do
mar.
6. Construção
de escadas
Através duma
cofragem de madeira, constitui-se um modelo de escada ergonomicamente feita, de
modo a estabelecer uma ligação funcional entre r/c e 1º andar. Depois, graças a
uma argamassa utilizada (uma parte de cimento e duas de areia) mergulha-se uma
tela plástica que se molda segundo a referida cofragem.
Muitos outros work-shops, como
por exemplo aquecedores solares, fornos solares, plantação de vétiver, etc.
constituem actividades parcelares que criam condições técnicas para a
realização dum projecto exemplar, demonstrativo, que é a Casa Verde.
Esta casa verde integra, duma
forma organizada, os protótipos realizados em todos os outros work-shops,
mostrando assim a interligação das outras práticas parcelares referidas na obra
global – a casa!.
Resultou duma experiência tendo
como finalidade fornecer casas feitas através desta metodologia de
pré-fabricação artesanal, de baixíssimo custo para as populações das favelas.
Com estes elementos proporcionam-se saídas singulares e criativas. Este
protótipo seria apenas um modelo demonstrativo de tecnologias apropriáveis
baseadas em recursos locais, deixando em aberto questões como as opções do tijolo,
adobe ou bambú, consoante o desejo dos moradores e auto-construtores do
edifício.
Estes protótipos são assim
susceptíveis de se modularem conforme o gosto e as necessidades de cada
família.
O tempo está de trovoada. A
tempestade adensa-se à volta das montanhas. O ribombar dos trovões e das
faíscas dão à floresta um cenário irreal. A bátega da chuva torrencial assola
os campos de capim e os verdes bambus vão voltejando flexíveis à ventania.
Acende-se a lareira na
biblioteca. Estão ali de visita uma professora da Universidade Católica do Rio
de Janeiro e o marido, um engenheiro holandês, que é designer e que trabalha
como quadro superior numa grande empresa.
Este designer, René Vincent, fez
vários work-shops com van Lengen. Ficara encantado com a eficácia dos
exercícios Alfa e Beta. É um convicto admirador de van Lengen e um defensor
desta metodologia pedagógica.
Converso também com Marisa, sua
mulher, sobre a história contemporânea do Brasil. Marisa refere as contradições
da governação de Gertúlio Vargas durante e após a 2ª Guerra Mundial. Em seguida
explicita a orientação geoestratégica assumida pelo governo de Jucelino
Kubichek.
A modernização deste período
neo-liberal fez crescer um sistema rodoviário essencialmente vocacionado para o
uso da energia do petróleo e orientado para uma administração burocrática. Foi
um sistema de fachada sem a criação, no essencial, de formas de
desenvolvimento.
Falou-se do período da ditadura e
da tragédia social e cultural desses tempos despóticos e Marisa referiu ainda
os momentos actuais da política brasileira, tempos de esperança e desilusão em
simultâneo, com o actual presidente Lula da Silva.
Discutiu-se ainda a importância
das propostas de van Lengen em função da universalidade ou singularidade dos
seus projectos: em que medida as propostas construtivas do Tibá são aplicáveis
tanto ao dito 3º mundo como ao dito 1º mundo?
A singularidade de algumas
propostas ecotécnicas consiste na capacidade pragmática de resolver questões
urgentes nas camadas pobres da sociedade.
Mas a filosofia do Tibá responde
também aos países de crescimento económico.
A condição pós-moderna facilitou
a abertura para um novo olhar sobre a arquitectura e o urbanismo. Marisa,
comentando o livro “A Condição pós-moderna”[14] falava
do lado positivo da globalização proveniente do abandono das grandes narrativas
e do fim do progresso linear. A aceitação da diferença permite uma acção
comunicativa, como refere Habermas, colocando todas as culturas ao mesmo nível.
Carina Rose, que está a traduzir
o livro de Johan van Lengen para inglês, falou na sua experiência pessoal como
arquitecta oriunda dum país considerado do 1º mundo – o Canadá. Defendeu a
actualidade das tecnologias simples como a construção em adobe e palha.
O conforto térmico, a linguagem
plástica dos materiais como a terra e a possibilidade de participação dos
utentes na construção da sua própria casa, surgem com maior frequência no
Canadá, pois as pessoas reconhecem que estas questões ecológicas não são apenas
mais económicas mas oferecem uma maior qualidade no habitat e proporcionam
maior justiça social.
Para dar um exemplo concreto da
sua actividade como arquitecta no Canadá, mostrou-nos uma residência –
L’Ecologite: Résidence Plaire-Chabot – em St. Catherine de Hatley, Québec.
Nesta obra foi gratificante encontrar nos proprietários, uma participação
activa na edificação do projecto. A proprietária empenhou-se alegremente a
amassar o barro e fez as paredes com as próprias mãos, sentindo um singular
apreço em deixar a sua marca na sua própria casa.
Também van Lengen referiu o
crescente interesse dos alunos nos seus work-shops na Europa e nos Estados
Unidos da América.
Contou o caso do professor
catedrático da Universidade de Kassel, arquitecto e engenheiro Gernot Minke,[15] autor
de vários livros e de várias dezenas de projectos no domínio das construções
ecológicas, especialmente realizadas com adobe.
Johan van Lengen visitou, na
Alemanha, o Instituto de Investigação de Construções Experimentais, dirigido
por Gernot Minke. Deu-se conta da importância das investigações científicas aí
realizadas e dos projectos desenvolvidos numa perspectiva de eco-construção
como a construção social em Kassel, um edifício em Siegen-Oberscheiden, e ainda
as construções em Berlim, Stuttgart, Hannover e Wennigsen Sorsum (Jardim de
Infância Waldorf).
Este professor vive numa casa de
adobe, mostrando assim com o seu próprio exemplo, como esses materiais ditos
pobres são, afinal, os mais cómodos e tecnicamente capazes de possibilitarem as
melhores condições térmicas assim como as mais diversas expressões artísticas.
O professor Gernot Minke
dedicou-se à construção de tectos verdes criando condições excepcionais de
inércia térmica para os edifícios, bem assim como a retenção e depuração de
águas.
Nestas conversas que fomos tendo
e que se prolongaram ao longo dos vários dias que permaneci no Tibá, bem assim
como as leituras que fui fazendo na biblioteca, deram-me a convicção de que o
paradigma ecológico emergente destronará a posição ocidentalocrata do modelo
hegemónico.
As investigações de van Lengen
abrem-se às propostas das sociedades tradicionais e às mais avançadas propostas
ecotecnológicas. E muitas vezes, nesta pesquisa e investigação plural
encontram-se complementaridades que muito ajudam a desenvolver a própria arquitectura.
Veja-se, por exemplo, aquilo que van Lengen me contava sobre a contribuição
bioclimática encontrada por Hassan Fathy na escola que construiu em Gourna, no
Egipto, em 1958. Esta escola ilustra uma maneira nova de construir,
aproveitando a experiência milenar das construções no médio-oriente.
É por isso que van Lengen afirma:
“Não faço arquitectura
alternativa. O que proponho é fazer Arquitectura. A arquitectura foi sempre
esta maneira inteligente e criativa de trabalhar com a natureza e não contra ela.
Não precisamos mais palavras para tipos de arquitectura, precisamos novos arquitectos...”
Fui até ao atelier de construção
onde o Marcelo, com a mestria dum artesão experimentado alisava, com uma colher
de pedreiro, a argamassa duma escada em reconstrução. Maurício, camponês de
origem e marido da Lúcia, cozinheira do Tibá, entregava-se de alma e coração à
actividade de arquitecto descalço.
Depois fui até ao terreno perto
da ribeira onde o Rogério arrancava o capim para plantar vétiver. Com o vétiver,
essa planta indiana que van Lengen trouxe para a fazenda, evita-se a erosão dos
solos sustendo os socalcos, tal como se explica no work-shop sobre a aplicação
desta planta contra as enxurradas das chuvas que provocam a erosão dos solos.
Além disso o vétiver afugenta as
cobras.
Joahn van Lengen propôs este tipo
de plantas à municipalidade de Bom Jardim que está preocupada com a erosão
provocada pelas grandes enxurradas. E van Lengen propõe-se também estabelecer
um plano estratégico na defesa da cidade, travando a degradação das
aglomerações urbanas.
Expressa neste seu discurso uma
preocupação preventiva ou profilática em torno da urbanização, colocando as
problemáticas ecológicas do desenvolvimento sustentável.
Quando voltei para apanhar o
“ônibus” para o Rio de Janeiro, van Lengen levou-me até à estação na sua velha
carripana VW. Falava-me ainda dos novos projectos para continuar com o
desenvolvimento do Tibá: pôr em marcha aquele velho rodízio hidroeléctrico que
iria permitir a autonomia eléctrica do instituto, montar tectos verdes na maior
parte dos edifícios, criar uma piscina biológica inserida nos jardins que
envolvem o casario.
E aqui termino este encontro
notável com este homem fabuloso, Johan van Lengen, arquitecto descalço.
Jacinto Rodrigues
Março 2005
[1] «Pratique de la créativité», Séminaire de
Michel Fustier en collaboration avec Bernadette Fustier, 5e.
Edition, Les Éditions ESF, Librairies Techniques, 1988
[2] «Utiliser tout son cerveau», Séminaire de
Dominique Chalvin, 3e. Edition, ESF Éditeur, Librairies Techniques,
1989
[3]
«O Erro de Descartes», António Damásio, 20ª Edição, Publicações Europa-América,
Lisboa, Junho de 2000.
[4] « Le Zen dans l’art chevaleresque du
tir a l’arc», Eugen Herrigel, Paris, Ed. Dervy.
[5] « The Zen Master» e « Zen
and the ways», Budhist Society, 2000, Papperback, London , 1989
[6] «Freedom to Build», John F. C.
Turner, Ed. MacMillan Company, N.Y, 1972
[7] «Alvaro Ortega – Prearquitectura
del bienestar», Alvaro Ortega, Col.
SomoSur, Ed. Fac.Arq.Univ.Los Andes-Colombia+McGill Univ.Canadá, 1988
[8] «As ervas do sítio», Rosy L.
Bornhausen, 5ª Ed. M.A.S., s/d, Brasil
[9]
«Consciência Sensorial», Charles V. W. Brooks, Ed. Los Libros de la Liebre de Marzo, 1996
[10]
«Das Bild Der Natur», Lu Wang, Tese Doutoramento apresentada na Alemanha.
[11] “The Dance of Design”, Johan van
Lengen, no prelo
[12]
in Revista Trialog, nº25, Darmstad, 1990
[13] “Manual do Arquitecto
Descalço”, Johan van Lengen, Ed. Tibá, 1996
[14] «A Condição
Pós-Moderna”, David Harvey, Ed. Loyola, Brasil, 2004
[15] «Dächer Begrünen einfach und
wirkungsvoll», Gernot Minke, Ökobuch Faktum, 2000
«Manual de Construcción en Tierra-la tierra como material de
construcción y sus aplicaciones en la arquitectura actual»,Gernot Minke, Ed.
Nordan 2001
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Visita ao Emscher Park - Alemanha 2005
O documentário agora colocado no blog surge da visita do Professor Jacinto Rodrigues em 2005 a Emscher Park na região do Ruhr na Alemanha. Emscher Park não é mais do que um grande projecto urbano que oferece valiosas lições para outras cidades e regiões marcadas pela era pós-industrial. Esta operação, a maior até hoje realizada na Europa, no domínio ecológico, é dirigida pelo IBA, empresa fundada em Berlim em 1979 pelo Senado, e que coordena vários interesses e que tem como principais ideias para Emscher Park:
• Descontaminar uma das áreas mais poluídas da Europa, devido à extracção mineira do carvão e à indústria arcaica do aço;
• Despoluir uma rede fluvial de cerca de 350Km, através de múltiplos tratamentos descentralizados;
• Reutilizar uma arqueologia industrial que consiste essencialmente nas enormes e antigas fábricas Thyssen implantadas nessa área durante o séc. XIX;
• Desenvolver uma série de percursos de cultura e lazer através da reorganização de actividades rurais e instalações artísticas;
• Renovar a urbanização dos antigos bairros de cidades operárias do séc. XIX, desenvolver novas urbanizações e ainda edificar uma grande estrutura cultural e social.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=D3NqpctHgZM
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=j8-tZ8OCFoQ
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=pXmvGIMXaHk
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=iHzKQBOVx4s
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=_Sk4d-mRj2I
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=8IlDw4PZPuA
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ccLUZxzNkCY
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Cheguei a
Marrocos, ao aeroporto de Casablanca, de manhã.
O aeroporto
é um “não lugar” igual a tantos outros
aeroportos do mundo...
Aguardei
num bar a vinda do resto do grupo que chegaria de França.
Durante o
tempo de espera fui recapitulando as razões desta minha viagem.
Estivera dias antes na Associação
“Terre et Humanisme” fundada por Pierre Rabhi de quem já lera o belíssimo livro
“L’Offrande au Crepuscule”[1].
Sabia da experiência de Pierrre Rabhi em agroecologia no Burkina Fasso, no
período do presidente Sankara que tentou promover uma via de
ecodesenvolvimento. Foi nesse período que Pierre Rabhi, como membro do CIEPAD
(Carrefour International d’Echange et Pratique Apliqué au Developpement) e
reconhecido especialista de agro-ecologia, propôs um desenvolvimento local
participado que fosse á descoberta dum caminho próprio para aquela região de África, devastada pela
agro-indústria e pela monocultura realizada durante a ocupação colonial.
Conhecia
alguns dados biográficos de Pierre Rabhi que trouxera comigo.
Nasceu em
1938 numa comunidade muçulmana, na aldeia de Kenadsa, perto de Bechar, às
portas do Sahel na Argélia. Ficou órfão aos cinco anos e foi adoptado por um
casal de franceses.
Vem para
Paris em 1958 com os pais adoptivos. Em 1960, com a sua mulher, Michele,
estabelece-se na zona entre Cevennes e Ardeches. Consegue obter uma quinta onde
pratica agro-ecologia .
Forma aí
cerca de 40 estagiários. Em 1978, é encarregado da formação em agro-ecologia
pela Associação CEFRA (Centre d’Études et Formation Rurales Apliquées).
A partir de
1981 participa, no Burkina Fasso, na formação dos “camponeses sem fronteira” a
pedido desse governo africano e com o apoio do CRIAD (Centro de Relações
Internacionais entre Agricultores para o Desenvolvimento).
Em 1985
cria no Burkina Fasso o Centro de Formação de Agroecologia. Tem o apoio do
presidente Sankara e trabalha em cooperação com a associação francesa “Le Point
Mulhouse”.
Em 1988 funda o CIEPAD (Carrefour International d’Echange et Pratique
Apliqué au Développement).
Em 1992
participa no lançamento do programa de
reabilitação do óasis de Chenini-Gabés na Tunísia.
Em 1994
apoia o movimento “Oasis em todos os lugares”[2]
cujo manifesto foi editado e divulgado profusamente procurando criar uma
articulação entre intervenção local e pensamento global.
Em
1997-1998 intervém, a pedido da ONU, na elaboração duma convenção contra a
desertificação, formulando propostas de ecodesenvolvimento agro-ecológico.
De 1998 a 2001
promove acções de agroecologia no Niger.
Em 2001 foi
candidato alternativo à presidência da República em França.
Também em
1998 promove a fundação do movimento “Terre et Humanisme” com uma base
logística (um terreno e uma casa) como lugar de testemunho, investigação e
contactos em Mas le Beaulieu, perto de
Lablachère, na região de Ardeches, em França.
Nessa
quinta exemplar desenvolvem-se práticas de agroecologia, ecoarquitectura,
fitodepuração, energias renováveis, plantação em estufa,
procurando
aí estabelecer uma formação global em agro-ecologia apoiada no jardim
ecológico, no centro de conservação de sementes e em ligação com a Associação
Kokopelli.
Esta
experiência exemplar pretende demonstrar que com um hectare de terra é possível
uma unidade de produção familiar tendo como base os fundamentos da
agroecologia.
Tinha ido
visitar o local com o objectivo de conhecer o trabalho de Pierre Rabhi mas
naquele momento ele estava para fora. Falei com o Theo Angelou, responsável
pelo trabalho e formação de jovens – jardineiro e animador social. Conheci
ainda Maria Sanchez, secretária do movimento Terre et Humanisme e que se ocupa
essencialmente da formação em permacultura.
Foi a Maria
Sanchez que me deu a informação do seminário que se iria realizar em Marrocos,
em Maio de 2005. Disse-me, na sede da Associação Terre et Humanisme, que só num
trabalho concreto realizado por Pierre Rabhi
é que poderia compreender a metodologia dele.
Não quis
perder esta “chance” dum seminário “vivo” em que o ensino se desenrolava
durante uma actividade prática como numa verdadeira escola de vida inserida na
povoação, convivendo com ela numa acção-formação pelo interesse da própria
comunidade e tendo como base uma
iniciativa local.
Foi-me
fácil reconhecer Pierre Rabhi. Conhecia-o pelas fotografias dos seus livros e
pelo cartaz de propaganda que ainda se conservava na parede da sede do
movimento Terre et Humanisme, quando ele se candidatou a presidente da
república, candidatura duma via alternativa ecológica e social em 2001.
Abraçou-me
prontamente. De Casablanca seguimos, de comboio, até Meknes. Quando aí chegamos
esperava-nos um velho autocarro que a
Junta de Freguesia cedera para nos levar até Kermet Ben Salem.
A estrada
era de terra batida e corria ao longo de colinas desarborizadas onde apenas
algumas oliveiras despontavam pelas encostas.
A noite
caía. Trazia-me o mistério da civilização muçulmana.
Pouco
podíamos ver quando chegamos a Kermet. Pareceu-me, pelas luzes acesas, uma
aldeia pequena perdida na imensidão deserta e silenciosa daquela região.
Ficamos
numa casa de três pisos .
Fiquei com
um grupo de homens no rés-do-chão. No andar
de cima ficou o grupo das mulheres e no terraço ficou um pequeno grupo
de homens que resolveram montar uma espécie de tenda com cobertores para se
defenderem do vento frio da noite.
A casa era modesta. Porém, era a maior da aldeia. Tinha ao meio um átrio que fazia de chaminé de luz e ar nos 3 pisos. Na abertura superior via-se ainda o céu através do toldo montado sobre o terraço que coava a luz intensa e que impedia a eventual entrada das parcas gotas de chuva pelo tecto aberto.
Durante a
noite, não sei que horas seriam, acordei com a voz do Muezzin fazendo a oração
da torre da mesquita. Enxerguei, na ténue luminosidade do luar, o Abdou na
postura de oração. Senti-me bem naquele convívio inter-religioso, nessa espécie
de acampamento beduíno intercultural.
De manhã,
como habitualmente, acordei cedo. Dei-me
conta da exiguidade do quarto de banho. Da torneira não corre ainda a
água como nos avisaram. Por isso temos que gerir com o máximo de descrição a
água. Há apenas um cântaro de barro e um púcaro com o qual se vai tirando a
água que necessitamos.
Aquele
gesto matinal que fizera para retirar água do cântaro de barro na minúscula
retrete turca fora o sinal de consciência ao local em que estava.
Depois da
higiene mínima saí pois o pequeno-almoço ainda tardava.
O nascer do
sol permitiu-me ver a imensidão da paisagem e também a pobreza da aldeia. É uma
aldeia perdida na solidão e nudez desértica da paisagem. Apenas a mesquita
tinha um ar de edifício acabado.
O resto do
casario parecia pertencente a um mundo efémero de barracos construídos com o
mínimo de meios.
Fomos vendo
os burricos e as cabras. A madrugada chamava ao trabalho difícil da região para
as actividades agrícola e pecuária.
A aldeia de
Kermet Ben Salem pertence à periferia de Meknes e situa-se no Nordeste da
província Meknés Esmenzehh e a cidade mais próxima é Moulay Idriss.
A aldeia é
muito antiga e esteve ligada à implantação de importantes sufis e lamas que
organizaram a actividade social e económica da povoação, alguns séculos atrás,
quando as colinas verdejavam e as águas dos ribeiros corriam docemente.
A população
de Kermet Bem Salem tem hoje cerca de 1500 habitantes e a maioria é originária
de Rif, norte de Marrocos. Vive essencialmente da agricultura tradicional que
depende da chuva.
Depois do
pequeno-almoço, feito especialmente para o nosso estágio, seguimos para a
improvisada sala de seminário e que fora o local em que passaramos a noite.
Iria aí desenrolar-se toda a actividade teórica e cultural.
Os sofás arrumados contra a parede eram agora as cadeiras para os estagiários. E ao longo da semana que vivemos em Kermet Ben Salem fizemos uma preparação agro-ecológica debatendo as questões do modelo de crescimento e as alternativas ecológicas. Reflectimos sobre o sistema fito-sanitário, a alimentação, as questões sociais, o diagnóstico das terras e a utilização do composto que fizemos nos terrenos da aldeia.
Os sofás arrumados contra a parede eram agora as cadeiras para os estagiários. E ao longo da semana que vivemos em Kermet Ben Salem fizemos uma preparação agro-ecológica debatendo as questões do modelo de crescimento e as alternativas ecológicas. Reflectimos sobre o sistema fito-sanitário, a alimentação, as questões sociais, o diagnóstico das terras e a utilização do composto que fizemos nos terrenos da aldeia.
É que ao
programa teórico juntaram-se as actividades práticas de agricultura nos campos
de cultivo.
Os temas
propostos por Pierre Rabhi foram alargados com a participação de Moustafa Abu
Zaíd que fez alguns enquadramentos à história de Marrocos e ainda Asmaa Loukili
que fez algumas considerações monográficas sobre a aldeia de Kermet Ben Salem e
a sua origem sufi.
Aichá
falou-nos ainda da formação da Associação de Mulheres que permitiu a recepção
do nosso grupo revelando um trabalho de anos na área de formação em artesanato
e escolarização das crianças que víamos entrar todas as manhãs para uma pequena
sala de aulas.
Abib,
Presidente da Junta de Freguesia, explicou as relações das associações locais
com o poder. Abib é também o dinamizador da ADAF, associação local criada em
1996 e que integra outros grupos regionais.
Tivemos
ainda a visita de Fatuma, assistente social, que dirige um movimento de
mulheres e dinamiza o trabalho de cooperativas relacionadas com a agricultura
biológica que fornecem o mercado de Rabat.
Alguns populares, durante uma iniciação à cestaria tradicional que fizemos num atelier dinamizado por um velho camponês-artesão, formularam questões económicas e sociais mais prementes da aldeia: água, irrigação, esgotos, reciclagem dos lixos orgânicos, etc.
Durante
vários dias de estágio num campo das hortas que fica a poucos quilómetros de
Kermet e onde passa um pequeno canal de irrigação, tivemos uma iniciação à
prática da botânica de cultivo ecológico.
Fez-se uma reflexão sobre o problema dos OGM (organismos geneticamente modificados) e suas consequências. Foi assim que tomamos conhecimento da Associação Kokopelli que se tornou numa iniciativa social contra os interesses financeiros das multinacionais que têm açambarcado o património de sementes e que substituem há mais de 40 anos as sementes tradicionais por variedades híbridas estéreis ou degenerativas. A Associação Kokopelli intervém no sentido do tratado sobre a biodiversidade e a segurança alimentar na defesa de “sementes livres cultivadas no respeito do ambiente” opondo-se assim ao modelo esteriotipado e estéril que nos querem impor.
Realizamos
um composto agro-ecológico. O grupo reunira-se em torno do Didier que orientava
os trabalhos.
Estávamos à
sombra das laranjeiras. Íamos sobrepondo as camadas de palha, de estrume orgânico,
de cinza. Depois, outra vez palha e assim sucessivamente até fazermos uma pilha
com cerca de 1 metro de altura e 80 cm de largura.
Como lera
no livro “Parole de Terre – Une Initiation Africaine”[3]
estava agora a vivenciar uma verdadeira “iniciação” na elaboração do composto e
na agricultura biológica.
As palavras
de Didier eram quase as mesmas que Rabhi colocara na boca de Ousseini, o
“iniciador iniciado” do referido livro e que explicava aos camponeses duma
aldeia do Burkina Fasso como se produzia o húmus fertilizante que detinha no
punho da sua mão depois de a retirar dum montículo de composto.
Era uma
terra maleável na consistência e que tinha um cheiro agradável a floresta. Os
camponeses tocavam com as suas próprias mãos o húmus fertilizante.
- “Nas
vossas mãos está o alimento para a terra. Toda a gente pode realizar este
milagre. É preciso apenas dedicar muitos cuidados a esta acção que permite
guardar a ligação sagrada da vitalidade da terra...
Com os
excrementos dos animais e com a massa vegetal ou palha, com a argila, a cinza
da madeira, a água e a sombra, podemos realizar uma boa fermentação (...).
A terra, a
água, o vento e o calor permitirão que o pequeno montículo se torne numa
marmita para cozer todos os ingredientes... que se tornam numa única matéria,
unificada de tal maneira que cada ingrediente dá e recebe ao mesmo tempo numa
digestão que é uma sagrada aliança: a
terra alimenta as plantas, as plantas alimentam os animais, os animais alimentam
os homens e os homens alimentam por sua vez a terra”.[4]
Depois
desta iniciação agro-ecológica quisemos procurar a nascente daquele fio de água
que vinha até aos pomares verdejantes onde estávamos.
Foi uma
aventura que nos deu a consciência da importância da água na vida. Subimos durante
uns 10 kms as ravinas dos inúmeros desfiladeiros. Do cimo dos desfiladeiros de
fragas ciclópicas, escondia-se, como um tesouro precioso, a nascente. Corria a
água viva e prodigiosa. Ali naquela região de infinita aridez e estranha e
terrível beleza, aquela fonte era a esperança e a força da vida que permitia
que aquele povo afrontasse o deserto.
O povo de
Kermet Ben Salem sabia agora que, para enfrentar a aridez imensa só pequenos
gestos mágicos como os da agro-ecologia com os misteriosos processos complexos do eco-sistema dum oásis,
podem estancar a seca mortífera.
São como
pequenos bálsamos, quase insignificantes que, multiplicando-se, vão tomando
conta progressivamente das feridas profundas da terra, revitalizando-a
lentamente até que o deserto se sustém na sua marcha mortífera.
O deserto
ronda por todos os lados. Tende a aumentar a desolação das populações mas
depois da experiência da Argélia, em que se tentou criar artificial e
rapidamente uma muralha verde contínua, o “sahel”, a desertificação cavalgou o
muro verde, como explicou Pierre Rabhi durante o seminário.
Foi então
que os especialistas perceberam que a natureza tem as suas regras ecológicas.
Aprender com o “oásis” é aprender com a natureza dos ecosistemas e o modo
flexível e sistémico dos processos de regeneração da vida, em que a morte e a
vida estão sempre em íntima e complexa relação.
Foi esta
alquimia misteriosa que esteve sempre presente nos temas que abordamos ao longo
do seminário de Kermet Ben Salem.
Nas viagens
que fizemos ao souk de Moulay Idris e à cidade imperial de Meknés, foi possível
ter uma percepção do passado histórico e da realidade social presente,
descortinar uma cultura milenar com os seus contrastes sociais.
A
experiência que vivenciamos foi uma abertura às culturas. Foi sentida por
exemplo naquelas discussões com a população. Foi sentida durante as reflexões
de pessoas provenientes de culturas e religiões diferentes. O diálogo na
diferença era mais do que tolerância. Era uma fraternidade sentida naquele último
dia de confraternização em que o jovem barbeiro da aldeia, Azidin, tocou no
alaúde aquela música dolente e sensível que trouxe uma suavidade indelével na
noite de lua cheia em Kermet Ben Salem.
Estes
encontros são essenciais para a troca de informação e formação que permitem o
diagnóstico das situações concretas do lugar e ajudam a fazer projectos para
encontrar soluções mais justas. Este é o trabalho essencial de Pierre Rabhi. A
força da iniciativa local é visível na organização não governamental ADAF. Esta
ONG desenvolve agora um projecto de criação de uma cooperativa de produtos
naturais (couscous, azeite, mel, etc.) que se insere numa proposta de
eco-aldeia em que se pretende um desenvolvimento agro-ecológico e uma gestão de
água que evite a desertificação. Sensibilizar, trocar experiências, multiplicar
contactos, estabelecer solidariedades é este o papel essencial de Pierre Rabhi.
É esta a
mensagem do itinerário dum homem ao serviço da terra-mãe. Uma mensagem
planetária, universal.
Pierre
Rabhi, originário do Sahara, tornou-se um camponês em França, na região das
Cevennes, como nos conta no seu livro “Du Sahara aux Cevennes”[5].
O balanço
desta experiência global do seminário de Maio de 2005 em Kermet Ben Salem é
indisível. É uma experiência global de
vida.
Foram dias
de convívio numa comunidade de pessoas diferentes mas empenhadas numa causa
comum – salvar a terra.
Um escola
de vida em que todos aprendiam uns com os outros. Uma maneira nova de crescer e
de se desenvolver com a comunidade e para a comunidade.
Finalmente
é a descoberta de que o problema de todos os povos é o mesmo hoje, embora em
situações diferentes. Para além do norte e do sul é o futuro da humanidade que
está em jogo.
A ameaça
das mudanças climáticas, a contaminação poluitiva global, o esgotamento das
terras aráveis, o desgaste das energias fósseis e a exclusão social são os
grandes flagelos da humanidade inteira.
No
manifesto coordenado por Pierre Rabhi[6]
faz-se um apelo para que se realizem as acções locais pensadas de uma forma
global. Esta é também a estratégia defendida pelo movimento altermondialista e,
em particular, a alternativa social desenvolvida pelos grupos ATTAC.
Uma recente
iniciativa de Pierre Rabhi é o projecto da criação de um lugar ecológico de
tipo novo.
Graças à
cooperação de Michel Valentin, que prontamente respondeu com fraternidade e
amizade a Pierre Rabhi e à compreensão do profundo sentido deste projecto, está
a ser possível a sua concretização através de um centro de agroecologia, de
produção, de experimentação e pedagogia – Les Amanins.
Num terreno
de vários hectares na região de Drôme, em França, Gérard Arnaud coordena os
trabalhos para que este projecto se torne uma realidade.
O
funcionamento de Les Amanins permitirá a realização de programas internacionais
para a autonomia alimentar mostrando, através de experiências exemplares, a
possibilidade de um desenvolvimento ecologicamente sustentável.
Escolas-oficinas,
estágios e conferências, permitirão o alargamento da estratégia agro-ecológica.
Como na
pequena história-ensino que Pierre Rabhi contou no seminário de Kermet Ben
Salem, qualquer pequena acção exemplar, mesmo quando a luta é difícil, é sempre
melhor e eficaz do que desistir de lutar. Contou a história do incêndio que
deflagrara na floresta do Amazonas. E um passarinho – o beija-flor ou colibri –
corria veloz trazendo tantas vezes quantas podia, pequenas gotas de água no
bico, esforçando-se por lançá-las sobre as chamas para apagar o incêndio.
O Tatu, sem
esperança e tolhido de medo, dizia-lhe que não valia a pena e quedava como
cadáver antecipado...
Mas o
beija-flor tinha a força e a consciência de que cada uma das acções justas de
cada indivíduo, mesmo que sejam feitas de pequenos gestos, são a força exempar
que poderá mudar o destino.
Se todos
quisermos, um outro mundo é possível.
Bibliografia essencial:
Rabhi,
Pierre, Du Sahara aux Cévennes, Ed. Albin Michel, Paris,1995
Rabhi,
Pierre, L’Offrandre au Crépuscule, Ed. L’Harmattan, Paris, 2001
Rabhi,
Pierre, Manifeste pour des Oasis en tous lieux, Ed. Terre et Humanisme,
Lablachère, 1997
Rabhi,
Pierre, Parole de Terre, Ed. Albin Michel, Paris, 1996, pág.198
Sites Internet :
Fotografias:
Os nossos
agradecimentos a Gerard Arnaud pelas fotografias aqui apresentadas.
[1] Rabhi, Pierre L’Offrandre au Crépuscule,
Ed. L’Harmattan, Paris, 2001
[2] Rabhi, Pierre, Manifeste pour des Oasis en
tous lieux, Ed. Terre et Humanisme, Lablachère, 1997
[3] Rabhi, Pierre, Parole de Terre, Ed. Albin
Michel, Paris, 1996
[4] Rabhi, Pierre, Parole de Terre, Ed. Albin
Michel, Paris, 1996, pág.198.
[5] Rabhi, Pierre, Du Sahara aux Cévennes, Ed.
Albin Michel, Paris,1995
[6] Rabhi, Pierre, Manifeste pour des Oasis en
tous lieux, Ed. Terre et Humanisme, Lablachère, 1997
___________________________________________________________
Makovecz - Loja Naturata em Uberlingen
http://www.blogger.com/video-thumbnail.g?contentId=undefined&zx=44dbax2dzxn7
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EMMANUEL ROLLAND E O ARQUITETO BERN MENGUY - LOTE ECOLÓGICO
Os vídeos agora disponibilizados surgem da visita do Professor Jacinto Rodrigues à casa de Emmanuel Rolland. Este professor de física reside actualmente num antigo casarão rural que é também a actual sede da Associação “Pequenos Jardins de Alunos” na pequena aldeia - La Chapelle de l'If - no norte da Bretanha a alguns quilómetros da pequena cidade de Dinan. Emmanuel Rolland nasceu nesta mesma pequena aldeia, Chapelle de L'If, a 10km de Dinan, pequena cidade histórica da Bretanha, rodeado por este mundo rural fantástico, sendo ele próprio originário de famílias camponesas de longa data. Tornou-se professor primário, e posteriormente faria uma formação em biologia que o tornou especialista em agro-ecologia. Em 1993 ganhou um prémio por ter inventado um utensílio manual para trabalhar a terra com facilidade e eficácia. Cooperando com outro professor, Gaël Vires, desenvolve aquilo que seria apelidado de “talude pedagógico”.
Ficam aqui, agora, os restantes vídeos da visita do Professor Jacinto Rodrigues à casa de Emmanuel Rolland. De relembrar que Emmanuel, professor primário de profissão reside actualmente num antigo casarão rural que é também a actual sede da Associação “Pequenos Jardins de Alunos” na pequena aldeia - La Chapelle de l'If -, onde desenvolve inúmeros projectos experimentais no âmbito da agricultura e da ecologia.
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Encontro com Michel Rosell - Universidade de Ecologia Aplicada e Solidária, 2005 - Artigo com imagens PDF
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1988 - Boletim Sociedade Antroposófica
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